DISCUTIR se os moçambicanos devem usar a sua terra para produzir combustíveis ou comida é assunto que precisa começar a dar lugar a um debate sobre o que é que se pode fazer para coexistir tecnologias que conduzam à produção de ambas coisas em simultâneo contribuindo para a dinamização da economia rural e promoção da segurança alimentar e redução da dependência em relação às importações.
Esta visão foi apresentada ontem pelo Ministro da Energia, Salvador Namburete, durante a cerimónia de celebração da produção do primeiro milhão de litros de biodiesel em Moçambique, ao abrigo do projecto ECOMOZ, Energias Alternativas Renováveis.
Resultado de uma parceria entre a empresa pública Petromoc e as firmas Biomoz e Bioenergia, o projecto gere uma unidade piloto de produção localizada na zona do Língamo, na Matola, inaugurada em Agosto de 2007, com capacidade para produzir 40 milhões de litros de biodiesel por ano. A laborar em pleno, esta indústria vai produzir dez por cento do volume total do diesel fóssil actualmente importado para o país, representando uma poupança na ordem dos 500 milhões de dólares norte-americanos.
Com uma produção diária estimada em 80 mil litros de Biodiesel, a unidade piloto do projecto ECOMOZ está actualmente a operar abaixo da sua capacidade, não apenas por se tratar de uma fase experimental, mas sobretudo devido à fraca disponibilidade de matéria prima para a laboração, nomeadamente óleos vegetais de copra, jatropha ou de palma.
Segundo o ministro da Energia, o aumento da disponibilidade de matérias-primas, que pressupõe o aumento das áreas de cultivo de oleaginosas a nível nacional através do melhor aproveitamento das plantações de jatropha que o projecto possui, vai permitir o alcance rápido do objectivo de expandir o projecto para as cidade da Beira.
Nuno Oliveira, administrador-delegado da Petromoc, explica que o óleo de copra actualmente usado na produção do biodiesel na Matola é fornecido por uma empresa produtora da província de Inhambane em quantidade que não chegam ainda para satisfazer a demanda. Atentos a essa realidade, o projecto conta receber ainda este semestre uma remessa de óleo de palma importado da Malásia para dinamizar a produção, embora a perspectiva seja mesmo usar matéria-prima nacional por forma a ir de encontro à filosofia de estimular o desenvolvimento rural.
Com vista a assegurar a auto-provisão de matéria-prima, Nuno Oliveira disse que o projecto está a desenvolver alianças e parcerias com alguns investidores estrangeiros que já produzem matérias-primas na Manhiça, em Maputo, e no Búzi, em Sofala, com vista fundamentalmente a promover a produção de jatropha.
Presente na cerimónia, o Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, garantiu que o Governo está a tomar todas as medidas e precauções por forma a que em nenhum momento as terras destinadas e com potencial para a produção de alimentos sejam cedidas para a produção de matérias-primas para biocombustíveis.
“Vamos prosseguir com o zoneamento agrário, porque não deve haver conflito em zonas com potencial para a produção de comida. Já recebemos muitas propostas mas, neste momento apenas três empresas exploram a terra no âmbito dos biocombustíveis, nomeadamente no Bilene, onde se produz jatropha, e em Manica e Gaza, onde se estão a fazer cultural para a produção do etanol”, disse.
Aliás, o ministro da Energia referiu-se à mafurra como uma das culturas que pode fornecer óleo para a produção de biocombustíveis, para o que desafiou as instituições de investigação e pesquisa a melhorarem o conhecimento que actualmente se tem sobre o assunto antes de se avançar para ela como aposta.
“Precisamos investir mais na investigação para aproveitarmos no máximo o potencial que o país tem para a produção de matérias-primas para os biocombustíveis. Não vamos esperar que especialistas venham de fora para nos fazer relatórios extensos a dizer-nos que falhámos. Vamos andando assim mesmo, com ataques no terreno. A actual capacidade de produção do projecto ECOMOZ é de 40 milhões de litros de biodioesel por ano apenas por causa das matérias-primas, pois mais houvera lá chegáramos....”, disse.
- JÚLIO MANJATE