Em pleno Fevereiro estamos aqui no quintal de Goa. Preparados para preencher a nossa lagoa interior, para o agrado das lombrigas. Ao lado um bom técnico passa às pressas, a passa que ninguém consome some no clariar diurno. Amendoím vem embarcado numa peneira transportada por uma donzela acesa. Ninfeta, presumimos!
Na verdade já viveu intensamente todos os ismos imagináveis e inimagináveis. Aves viriam, se fosse o quarto de qualquer Outubro, mas é Fevereiro. E no quarto um obtuso, de mente castrada, predisposto a fazer-se a estrada. Na cela que dá acesso a uma lanterna acesa. Cigarros no chão. Isqueiro no bolso. Cinzeiro na mesa. Um cão, na cadeira, querendo conversar. Uma cadela de mini-saia! Ainda assim, dizem-nos que não chegamos ao inferno! Talvés seja longe, não sabemos. Mas aqui felicidade também falta. Latas não há para chutar. Chupamos lixo que as encobrem. Cobre, prata, platina, ouro na avenida do herói. Dois bandidos armados abatidos. Tiros a luz do dia. Jazz, blues se fechando, acompanhando o fecho do jornal ou do evangelho. Velhos são os pulmões. Vai. Mais um duplo, com rodelas de limão e muito gelo, para esfriar a mente. Esfregar as tripas. A sangue frio idealizamos um best-seller cinematográfico, intitulado “Este País não é para Jovens”...Hmmm, parece-nos pouco original. Que tal “Este País é para Corruptos”. Agora melhorou. Mas há corruptos pequenos e há os grandes, assim se definiu. Nós acrescentamos: há corruptos anti-patriotas e há os patriotas. Falemos dos primeiros: fundos e mundos, imundos. Império de mansões, inquilinos fantasmas. Aliás, o resultado já sabemos: mansões transformadas em esplanadas de rapidinha. O velho guarda, coitado, já não tem o fundo de maneio, nem o extra proveniente do desvio do material de construção (Destruição humana). O que se lhe podia esperar? Prospera. Espera o tempo esperto que não vem. Vai o futuro no horizonte ardente. Cante aí, bué Buarque:
“...Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar lição
Quase rodando, caindo de boca
Mas com um pouco de imaginação
Sambando na lama sem tocar o chão...”
Se os olhos falassem! Se o corpo da ninfeta gritasse! Se a estrada escutasse! Se a longa lagoa secasse! E se Goa fechasse?
“Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...”, blá, blá, blá. Esquecemos a oração. Oração que se vende no poente. Doutro lado do passeio. Deste lado, ostracizados, voamos sentados. E quando as pálpebras se embreagam. Escutamos aplausos. Já não há lados. Apenas seios anseiados, traseiro feminino almejado, face desimportada. Basta que a porta se abra...
Com feito, imaginamos que haja outros pescadores. Há outros pecadores deliciando apetitosos nacos de porco, com feijão preto, bem defronte a mesquita! Cheira a “S”. Não a “S” de suruma, mas de selvageria. Bem que rima com cervejaria. “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” – Cai a frase aos pingos. E se o vento soprasse, donde viria? Se no rio os crocodilos apaziguam os passarinhos. Quem nos dera sermos homens invisíveis, talvés fossemos invencíveis. Tal remoínho incomprendido. Sim, incomprendido. Incomprendido porque quando a poeira assentou, Gimo não estava mais na terra remando contra maré. Octávio também abandonou a terra. Terra das encomendas. Medalhas. Metralhadoras. Mísseis invisíveis. Nós aqui. Envolvidos até aos dentes. Mesmo sem benesses, cá estamos pela nação.
Só aquela mãe sabe com quantas quecas se traz queques à mesa. Esquerda, direita. Direita, esquerda. Gelatina. Cobardia. Vadia. Diva. Se Anabela é poema. Luísa é poesia. E por falar nisso falemos de Igualdade, escrita algures na nossa Constituição. Questionemos o prémio do Governo. Observemos muito bem para o patrono de cada uma das áreas. Enxerguemos...e quando um louco repete “a Sul do save, nada de novo” ainda nos zangamos! Então mostremos. Mostremos quantos moçambicanos de origem aziática, desta vez, foram alistados para o exército. Mostremos quantos moçambicanos de origem europeia foram apresentados na mídia como corruptos. Mostremos a razão da Constituição. Mostremos agora.
Domi Chirongo