Caros amigos de Moçambique,
Esteve por cá, em 2003, a falar da Ilha de Moçambique, o Sr Antônio Carlos Magalhães. Ele organizou palestras, seminários e realizou exposições sobre a luta das mulheres da Ilha de Moçambique. Assim muita gente de Aracaju, capital do estado de Sergipe, como de outros locais do Brasil, tomou conhecimento da existência da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, e também aspectos peculiares deste pedaço da África. Soube-se, por exemplo, que a ilha abriga a mais antiga cidade do país e esta foi a sua primeira capital; das diferentes etnias que constituem a população moçambicana; da luta pela independência; o quanto seu povo sofreu com as guerras; e as perspectivas moçambicanas.
Os brasileiros em geral acostumados a ter referências da África do passado distante, puderam obter informações da África contemporânea e se interessar pelos seus heróis, como o patriota moçambicano Samora Machel, o primeiro Presidente da República Popular de Moçambique e o seu povo, orgulhosos da independência. Herói que, com afinco acreditava no esforço de todos para combater a pobreza absoluta, e nesta perspectiva definiu a educação como sendo a base para o povo chegar ao poder. Ele se foi, mas deixou legado de dignidade e honra.
Bem sabe todo o mundo das diversas dificuldades que passam os povos africanos, em muitos aspectos, inclusive, semelhantes às privações que passam muitos latino-americanos.
Moçambique certamente tem imensas carências. O importante é que esteja em harmonia para alçar vôo ao desenvolvimento. Neste rumo pode-se apostar que, a exemplo dos diversos povos da África, esse surpreendente continente, o povo moçambicano haverá de vencer as barreiras antes aparentemente intransponíveis, como o estranhamento das etnias que fomentava as antigas lutas intertribais - e que no Congo ainda hoje derrama tanto sangue-; a desinformação sobre cuidados básicos com a saúde, que possibilita a ação devastadora das doenças infectocontagiosas; a superstição alimentadora das cismas e a rejeição ao conhecimento atual, entre outros fatores impeditivos do progresso econômico, social, científico e tecnológico do continente.
Países jovens como Moçambique têm muitos desafios. Entre eles, manter a paz e fomentar a cooperação entre o governo e a sociedade e dos cidadãos entre si. Ora, são apenas 33 anos de independência. O governo e a sociedade moçambicana terão muito a edificar: produzir alimentos, ampliar a rede de ensino e de saúde pública, dotar o país de infra-estrutura para desenvolver indústrias, inclusive o turismo no país e na bela Ilha de Moçambique.
Algumas observações feitas aqui parecem pretensiosas receitas para o Brasil vir a dar certo, pois estamos há 126 anos da nossa independência política, todavia, temos ainda grandes levas de famílias carentes dos serviços mais elementares, o que contrasta com a riqueza material deste Brasil, um pais do tamanho da Europa e com problemas de iguais dimensões.
Torcemos daqui para que o governo moçambicano opte pelo desenvolvimento com distribuição de renda, evitando a concentração nas mãos de poucos amigos a ponto de esquecer as necessidades do povo, como tem sido a prática secular no Brasil. Para evitar tal deformidade deve entrar em ação o cidadão.
Sobre esses aspectos cabe lembrar um dos comentários assertivo do Sr. Antônio Carlos Magalhães, o nosso visitante moçambicano: “Vocês brasileiros passam a semana inteira reclamando do trabalho, do trânsito, dos preços, do governo e de tantas outras coisas, mas, nos fins de semana ficam a se embriagar nos bares, quando deveriam se reunir para discutir e obter soluções para os problemas”. Sim, o lazer é necessário, mas é deste espírito resolutivo que Moçambique e Brasil precisam: indivíduos imbuídos da necessária consciência cidadã, com a qual a participação e a discussão sobre a própria realidade seja uma constante no sentido de mudá-la para melhor.
Os vínculos do Brasil com Moçambique são históricos, mas, certamente pouco se fez para estreitar os laços entre estes dois países. A língua portuguesa, um elo entre estes, e que para o Brasil há muito é considerada patrimônio, possivelmente não é vista assim pelos moçambicanos, uma vez que menos de dez por cento dos habitantes de Moçambique se expressam na língua portuguesa, apesar de ser a língua oficial. Eis aí outro desafio, que é unificar a nação através de uma língua, sem traumas às diversas etnias. A fraternidade entre os povos, no entanto, é linguagem entendida por todos e deve ser fomentada. O Brasil neste sentido tem muito a oferecer, além de reconhecer que deve historicamente a toda a África grande parte do seu progresso e da riqueza cultural.
Neste dia 20 de novembro, quando festejamos no Brasil o herói negro Zumbi dos Palmares - que nasceu, viveu e morreu livre, num período terrível para os negros e vergonhoso para a humanidade - comemoramos também o Dia da Consciência Negra, como um bom sinal de que os citados vínculos com a África e o ideal de liberdade se mantêm em evidência e como direito fundamental do homem. Esta mensagem intenciona ser uma singela saudação fraterna aos moçambicanos e por extensão à África.
Um grande abraço.
Antônio da Cruz
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NOTA:
Certamente que este nosso amigo gostará que o contactem.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE