Por Morgan Tsvangirai*
No dia 11 de Fevereiro de 2009, tomei posse como Primeiro-Ministro do Zimbabwe, como forma de me permitir trabalhar incansavelmente pela criação de uma sociedade onde os valores são mais fortes que a ameaça da violência, onde o futuro alegre das crianças é mais importante que objectivos políticos partidários, e onde todos são livres de expressar de forma aberta e publicamente as suas opiniões, sem medo de represálias ou repressão.
Para criar um país onde há disponibilidade de emprego para os que querem trabalhar, há alimentação para os que têm fome, e onde estamos unidos pelo nosso respeito aos direitos e dignidade dos nossos co-cidadãos.
Este é o país que estamos a trabalhar para construir, e embora o Zimbabwe não seja ainda uma democracia, está a caminho de o ser. O nosso sucesso nesta caminhada dependerá deste novo governo de transição, do nosso povo e dos parceiros internacionais que irão trabalhar connosco para a materialização desta nossa visão para o nosso país.
O acordo político que conduziu à formação deste novo governo não é perfeito. Já me pronunciei sobre as minhas preocupações em várias ocasiões, tal como também já o fez o Presidente Mugabe. Também já disse que é um acordo funcional, e com isso pretendo dizer que ele pode nos ajudar a aliviar o sofrimento do povo zimbabweano e permitir que o país avance de forma pacífica em direcção a uma nova constituição e novas eleições. No que diz respeito ao primeiro caso, o novo governo já registou alguns pequenos, mas significativos avanços.
Já começámos a pagar um subsídio mensal aos funcionários públicos, que é para permitir que a função pública comece a trabalhar de novo e dê um estímulo essencial à economia. Já presidimos a um processo de abertura de hospitais e escolas, o estancamento da hiperinflação, a redução dos preços dos produtos básicos e racionalização das tarifas de serviços.
Mais importante do que tudo, esta nova situação política abriu uma nova janela de esperança num país despido de qualquer tipo de optimismo ou expectativa. Estes avanços são uma fracção daquilo que o país precisa para que comece de novo a funcionar normalmente. Foi, porém, o conhecimento de que poderíamos produzir um impacto imediato e positivo sobre a vida dos zimbabweanos que guiou o meu partido, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), e levá-lo a aceitar o acordo mediado pela Comunidade do Desenvolvimento da África Austral (SADC).
No momento em que escrevo este artigo, sei que tomámos a decisão correcta. As últimas seis semanas já provaram o que somos capazes de fazer, não apenas como partido, mas também como parte de um governo inclusivo. Pois, ao decidirmos abraçar o pragmatismo político dos nossos vizinhos da região, juntamo-nos a esta administração no espírito do acordo, abraçando a sua inclusividade e fazermo-nos reger pela sua letra no que diz respeito à implementação das medidas de transição que contém.
Antes de assinarmos este acordo, sabíamos que muitos funcionários públicos e zimbabweanos de todos os estratos estavam desesperados pela ausência dos vários aspectos positivos que o acordo contém.
Também sabíamos que elementos do antigo regime iriam resistir a estas medidas e tentar obstruir qualquer progresso positivo. Felizmente, subestimámos o número de pessoas que iriam abraçar as oportunidades que o nosso país agora tem, mas, tristemente, tínhamos razão em tolerar a resistência residual que agora enfrentamos por parte de uma pequena facção de radicais anti-democráticos.
Contudo, os que tentam impedir o progresso ou irão aperceber-se de que não está nem no seu próprio interesse pessoal nem no da nação continuarem com as suas tendências obstrucionistas, ou serão simplesmente varridos pelo enorme entusiasmo que se está a gerar à medida que avançamos em conjunto como uma única nação.
Isto não quer dizer que o sucesso deste governo está garantido. Hoje o Zimbabwe encontra-se numa crítica encruzilhada que requer que o MDC se mantenha fiel aos ideais que presidiram à sua formação. Requer que a Zanu-PF honre os compromissos deste acordo e exige que todos os cidadãos se mantenham firmes na defesa dos seus direitos, tal como eles estão previstos no acordo.
Este é também o tempo para que o Ocidente ajude o povo do Zimbabwe à medida que este avança em direcção à liberdade e prosperidade. Não me vem à memória nenhum exemplo contemporâneo de um povo que se tenha mantido decididamente firme e pacífico na sua crença pela democracia, que o zimbabweano.
Apesar de uma década de perseguição e violentas provocações, os zimbabweanos recusaram-se a comprometer os seus ideais democráticos ou a sua crença num futuro de dignidade, prosperidade e esperança, recorrendo, nos seus momentos de desespero, a actos de vingança contra os seus oponentes.
Como Primeiro-Ministro e líder do maior partido político no Zimbabwe, sinto-me imensamente orgulhoso do meu país e do seu povo. Os zimbabweanos não devem hoje pagar mais o preço da sua determinação de defender os seus ideais democráticos só porque o novo governo não se conforma com o padrão da “vitória total” que se podia esperar.
Como já disse, este novo governo não é perfeito, mas ele representa todos os zimbabweanos — é positivo, pacífico, está empenhado numa nova constituição e eleições livres e justas e, com o apoio internacional, será bem sucedido.
Na minha qualidade de Primeiro-Ministro, sou responsável pela formulação de políticas ao nível do Conselho de Ministros e garantir a sua implementação pelo governo inteiro. É minha responsabilidade garantir que os compromissos feitos por este governo no que diz respeito à restauração do Estado de Direito, instituição de uma agenda legislativa democratizante, pôr fim à perseguição e restituir a liberdade de imprensa sejam cumpridos no mais curto espaço de tempo possível.
O Ocidente foi, e continua a ser o mais generoso provedor de apoio humanitário, do qual todos os zimbabweanos estão reconhecidos e agradecidos.
Como uma nação orgulhosa, esperamos pelo dia em que poderemos desenvolver as nossas relações com o Ocidente para um nível acima de sermos meros beneficiários da ajuda de emergência.
Queremos ser um verdadeiro parceiro económico e uma oportunidade de investimento para aqueles que respeitam o verdadeiro valor dos nossos recursos naturais e a nossa soberania sobre eles.
*Primeiro-Ministro do Zimbabwe
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