Depois da tempestade vem a bonança
Há cerca de três meses reportámos que a vida da população de Mititicoma, localidade de Topuito, no posto administrativo de Larde, no distrito de Moma, província de Nampula, vivia os piores momentos da sua vida, devido ao facto de estar a ser transferida dos seus locais de origem, pelo projecto da exploração das areias pesadas de Moma pela Kenmare. Volvido este tempo, a reportagem do Canal de Moçambique deslocou-se aquele ponto de Nampula para perceber da mesma população o rumo que as suas vidas estaria a tomar. Ficamos a perceber que as coisas mudaram para o melhor, sobretudo logo após o inicio das actividades do projecto de Promoção a Cidadania, levada a cabo pela Associação para Desenvolvimento das Comunidades Rurais, ADECOR, com financiamento do Pão Para o Mundo, PPM, uma organização Alemã.
No terreno, apurámos ser já possível o financiamento das actividades planificadas pela própria população através dos fundos da Kenmare, facto que até Dezembro último não acontecia.
No mercado local, conversamos com um jovem de nome Alberto Sangaia. Adiantou-nos que “muita gente aqui está vivendo bem porque estão constituindo associações e pedindo apoio a Kenmare, por intermédio da ADECOR” e, “isto está a resultar muito”.
A fonte disse ainda que “por exemplo nós aqui em Mititicoma que reclamávamos tudo menos nada, agora as nossas necessidades não são muito da responsabilidade da Kenmare, porque a ADECOR já fez com que a nossa relação com a empresa melhorasse” – sublinhou para depois sustentar que “antes da ADECOR instalar aqui as suas actividades nós e a empresa éramos gato e rato, não nos dávamos. Nós que viemos de Namalope para aqui em Mititicoma, deixando tudo o que lá tínhamos a troco de nada, éramos capaz de tudo para infernizar a vida dos que lá trabalham, sobretudo os estrangeiros”.
A realidade, segundo os residentes daquela zona, agora é outra, porque “veja, nós já temos um aviário aqui, podemos vender combustível aqui e o mais importante ainda é que já temos machambas, o que mais nos preocupava”.
“A mudança das vidas melhorou”, disse-nos um dos transferidos resumindo afinal o que amiúde ouvimos dos residentes daquela localidade. “Vivesse melhor em quase por todo o Topuito”. Já mesmo na sede de Topuito, onde há tempos um grupo de cidadãos se uniram para um projecto de venda de combustíveis já tem financiamento e o negócio está num bom ritmo, quando outrora, antes de aquela associação, ADECOR, se instalar em Topuito, o financiamento era um sonho de uma “princesa da neve” em terra de altas temperaturas...
Governo é a dificuldade
Entretanto, os residentes de Mititicoma, Nataca, Tibane, Topuito e de outros bairros que constituem a localidade de Topuito, andam agastados com a posição que o governo vem tomando perante a situação.
Uma senhora que trabalha numa das associações locais, revelou-nos que “o governo é a maior dificuldade que nós temos porque nunca participa nas reuniões quando convidado para o efeito”. Trata-se de reuniões multi-sectoriais, envolvendo as comunidades, a Kenmare e o próprio governo. Mas o governo não aparece. No fim vai dizer que foi o seu trabalho, como é costume.
“Se agora nós gozamos de um relacionamento saudável com a Kenmare, é graças aos esforços da ADECOR, porque o nosso governo do distrito nos esqueceu por completo e jamais se recorda de nós”, disse um residente local.
A mesma fonte que não nos quis revelar o seu nome por temer represálias disse que “o governo do distrito só se recorda da empresa Kenmare quando vem pedir algo, sobretudo dinheiro para satisfazer suas necessidades” – concluiu. “Quando é para resolover problemas nunca aparecem”.
(Aunicio da Silva)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 30.04.2009