Em relação a uma notícia publicada no nosso Jornal no passado dia 26 de Janeiro do corrente ano e com o título em epígrafe, recebemos de Nikolaus Graf Sandizell, administrador-delegado da Arqueologia Subaquática SA (AWW), um pedido de resposta e rectificação no âmbito da Lei nº 18/91 de 10 de Agosto – Lei de Imprensa, que passamos a transcrever na íntegra:
Ao abrigo do direito de resposta e de rectificação conferido pela Lei de Imprensa, a Arqueonautas Worldwide – Arqueologia Subaquática SA (AWW) vem esclarecer e rectificar as informações sobre si publicadas neste jornal, no dia 26 de Janeiro do corrente ano.
A AWW nunca foi contactada por este jornal para qualquer esclarecimento, não tendo tido sequer conhecimento de que este artigo viria a ser publicado. Foi assim violado, por este Jornal e pelo jornalista que o escreveu, o princípio deontológico em Jornalismo de que todas as partes mencionadas nos artigos publicados devem ser contactadas para apuramento da verdade dos factos.
O que se diz no artigo sobre eventuais férias colectivas dos trabalhadores da empresa é falso: a AWW tem trabalhos a decorrer durante todo o ano, nunca ficando encerradas as suas actividades de forma colectiva. Em todo o caso, a empresa poderia sempre ter sido contactada para eventuais esclarecimentos através da sua parceira em Moçambique, a Património Internacional, SARL, o que não aconteceu.
A AWW aplaude a iniciativa do Sr. Administrador Marítimo, o Sr. Agostinho Malissau, em solicitar a permanência, durante os trabalhos da empresa, de mergulhadores profissionais para a fiscalização das pesquisas e escavações. Aliás, desde o início dos trabalhos em Moçambique, a AWW tem tentado esta forma de fiscalização, que só ainda não teve concretização porque, até à data, o país não dispõe de equipas de mergulho especializadas para o efeito.
No entanto, a fiscalização do trabalho da empresa tem sido efectuada através de supervisão governamental e, ainda, da regular entrega de relatórios às autoridades locais da Ilha de Moçambique, ao Governo de Moçambique e à parceira Património Internacional, SARL.
O Sr. Administrador Marítimo, Agostinho Malissau, não está devidamente informado sobre as actividades da AWW durante os últimos 2 anos. Em 2007 foram recuperados vários artefactos dos sítios do MOG-003, do IDM-010 e do MOG-001, entre os quais 4 canhões de bronze e várias moedas de prata e ouro. Nunca foi recuperado, no entanto, algum candelabro, como afirma o Sr. Administrador. Todas as informações detalhadas estão publicadas no site da empresa e podem ser encontradas no seguinte link: http://www.arq-publications.com/downloads/moz_april_nov2007.pdf. Em 2008 não foram recuperados artefactos, uma vez que a AWW dedicou as suas operações à pesquisa arqueológica na zona da Ilha de Moçambique. Os relatórios da actividade do ano de 2008 poderão ser consultados on line até final do mês de Março próximo.
Tudo o que foi mencionado pelo Sr. Administrador Marítimo, Agostinho Malissau, sobre a entrega de informações e de artefactos não corresponde à verdade.
As informações são fiscalizadas pelo Governo, através de 5 membros, entre os quais 2 da Polícia Marítima, 2 do Ministério da Educação e Cultura e 1 da Capitania da Ilha de Moçambique e entregues periodicamente, em forma de relatório, às autoridades competentes, como acima referido.
A recuperação de artefactos está claramente indicada nos mesmos relatórios acima descritos. A entrega dos mesmos às autoridades cumpre a regra estabelecida por contrato entre a empresa e o Governo, ou seja: depois da distribuição das peças por cada uma das partes, o Estado de Moçambique ainda fica com todas as peças únicas encontradas e o melhor exemplar das duplicadas.
Com a entrega destes artefactos, Moçambique recupera a sua herança cultural marítima que, de outra forma, não estaria ao alcance de todos, podendo essa herança ser apreciada no Museu da Marinha da Ilha de Moçambique.
O que o Sr. Administrador declara não corresponde à verdade, uma vez que as fiscalizações às operações da empresa são anteriores a 2007. Mais: é princípio fundamental da AWW, sempre que se envolve num projecto arqueológico num país que não executa este tipo de trabalhos, requerer autorização para ter protecção e fiscalização das equipas do Governo do país. A empresa não trabalha doutra forma em parte alguma.
A política da doutrina in situ defendida pela UNESCO sobre património subaquático não tem efeito útil em países em vias de desenvolvimento, como é o caso de Moçambique. Sem uma Marinha e Guarda Costeira capazes de defender a imensa costa marítima deste país não é possível proteger o património arqueológico subaquático das pilhagens de caçadores furtivos. Um exemplo recente comprova esta nossa afirmação: há apenas algumas semanas, numa zona próxima de Angoche, pescadores locais roubaram 6 canhões de bronze de um navio português, vendendo posteriormente para sucata. Ficou desta forma perdida, para sempre e irreversivelmente, uma preciosa herança cultural marítima moçambicana.
Nikolaus Graf Sandizell
Nota do editor
Analisado o pedido de esclarecimento importa no entanto oferecer alguns comentários nos termos que se seguem:
• Já prevíamos alguma reacção após a publicação do texto, embora não nos termos que nos é apresentada.
• Por que é que a carta de direito de resposta é nos apresentada escrita a partir de Estoril (em Portugal), e não na província de Nampula (ou melhor ainda na própria cidade da Ilha de Moçambique), onde se localiza um dos escritórios da AWW?
• Toda a informação retractada no texto foi obtida pelo nosso repórter a partir de fontes oficiais, neste caso a Administração Marítima da Ilha de Moçambique. Tal pronunciamento foi feito no decurso da entrevista que ele concedeu ao nosso repórter, quando este quis saber das razões que estariam por detrás do encerramento das portas das instalações da A.W.W. (que por sinal se encontram mesmo ao lado da administração marítima), há mais de 72 horas (período que durou a presença do nosso repórter na Ilha de Moçambique).
• O repórter tentou sem sucesso fazer o cruzamento dos factos, por forma a complementar o seu trabalho, uma vez que em dia e hora úteis os escritórios da A.W.W., estavam sempre encerrados.
• Será que mentimos ao noticiar que há falta de mergulhadores especializados? Citamos o administrador marítimo da Ilha de Moçambique. Perguntem-no se ele não o disse...
• E mais, o administrador marítimo da Ilha de Moçambique exibiu ao nosso repórter uma chaleira. Alegou que a quantidade não especificada de ouro de que ele fala na entrevista não foi possível mostrar porque o laboratório onde os artefactos são depositados estava trancado, porque o pessoal da A.W.W. se encontrava ausente.
• O administrador marítimo na entrevista que nos concedeu, foi claro ao afirmar que só queria falar da realidade vivida a partir de 2007, altura em que ele foi transferido para Ilha de Moçambique, tendo reiterado que assumia as suas palavras.
• Se a política da UNESCO não tem efeito útil em Moçambique, o repórter, autor da notícia, escusa-se a pronunciar-se, pois tanto quanto se sabe, a UNESCO defende a preservação do património aquático, assim como a Constituição de Moçambique defende a preservação do património aquático e não só.