Ping-pong
Por Emídio Beúla
O actual diferendo que opõe a representação diplomática norte-americana no país e as autoridades moçambicanas representadas pelo Ministério do Trabalho (MITRAB) não representa nenhum risco de ruptura das relações entre os dois países e o mesmo será ultrapassado através de diálogo. A garantia foi expressa esta quarta-feira pela Adida de Imprensa e Cultura da Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Maputo.
Em entrevista ao SAVANA, Kristin Kane negou que a embaixada norte-americana esteja a “chantagiar” o executivo moçambicano, tal como considerou a ministra moçambicana do Trabalho, citada pelo matutino Notícias.
“Nunca utilizámos chantagem, sempre explicámos as implicações negativas para o povo moçambicano que a aplicação da nova Lei de Trabalho está a causar”, indicou. Segundo a fonte, o assunto continua a ser discutido localmente, ou seja, ainda não foi passado às autoridades baseadas em Washington D.C.
Na conversa com o SAVANA, a adida para a Imprensa e Cultura daquela embaixada lamentou também que alguns projectos estão a sofrer efeitos negativos derivados da aplicação da nova Lei de Trabalho no país. De acordo com Kane, a maior parte dos projectos afectados estão a ser implementados na área da Saúde e em crianças órfãos.
Alguns desses projectos, continua, já viram alguns dos seus quadros suspensos e os mesmos correm sérios riscos de serem interrompidos devido à falta de pessoal especializado.
Não são 20, mas 40 pessoas
No lugar de 20 médicos referenciados em vários órgãos de comunicação social, a adida para a Imprensa e Cultura indicou que são aproximadamente 40 pessoas, entre médicos especialistas, enfermeiros, técnicos de saúde, que deviam estar a trabalhar em vários projectos de Saúde no país.
Sem precisar as nacionalidades, a fonte indicou que o número inclui cidadãos de outros países que trabalham em programas financiados pelo executivo norte-americano.
“Uns estão aqui e outros aguardam nos EUA a autorização de trabalho. Outros ainda viram as suas licenças de trabalho suspensas com a entrada da nova Lei de Trabalho”, disse Kane, acrescentando que os suspensos já estão a pensar em abandonar o país.
Questionada por que razão o seu executivo não apostava em quadros moçambicanos, a fonte recorreu ao défice de médicos em Moçambique para justificar a “necessidade” de se autorizar a vinda de quadros norte-americanos.
“Reconhecemos a necessidade de se priorizar o emprego de moçambicanos, mas há défice de pessoas especializadas em certas áreas de Saúde”, observou sem, no entanto, precisar as especialidades.
Apesar de reiterar que a embaixada cumpriu com todas as formalidades exigidas por Lei, Kane não sabe precisar o que emperra a autorização dos quadros estrangeiros.
Contextualizando
Lembre-se que na sua edição de quarta-feira, 20 de Maio, o jornal Notícias cita Helena Taipo como tendo considerado de chantagem o pronunciamento do Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA. Todd Chapman terá ameaçado com a retirada de investimentos financiados pelo executivo da Casa Branca caso as autoridades moçambicanas insistissem em não autorizar licenças de trabalho a dezenas de quadros norte-americanos de Saúde.
Na verdade, a primeira vez que o assunto veio a terreiro foi na entrevista que o Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA concedeu à Rádio Moçambique (RM) a propósito da passagem de 25 anos de cooperação entre Moçambique e EUA. Na avaliação que fez sobre os programas financiados pelo seu executivo no país, Chapman lamentou aquilo a que chamou de demora e falta de autorização de médicos norte-americanos no território nacional, situação que, segundo explicou, estava a dificultar a sua implementação.
O assunto foi retomado por vários órgãos de comunicação social, tendo como principais intervenientes o encarregado de negócios e a ministra do Trabalho, em representação dos dois países. Foi na sequência de entrevistas à imprensa que Chapman terá ameaçado com a suspensão da ajuda a Moçambique, em resposta à falta de autorização de vistos de trabalho para médicos norte-americanos.
Em resposta, Helena Taipo não só considerou de chantagem o discurso de Chapman como também classificou de lamentável que o encarregado de negócios julgue que as autoridades moçambicanas estão a impedir a vinda de médicos norte-americanos.
Segundo explicou a ministra do Trabalho, foi em Novembro do 2008 que deu entrada no MITRAB um pedido do Governo dos EUA para a vinda de 20 médicos para trabalharem numa organização daquele país. Tratando-se de uma matéria específica, o MITRAB submeteu o expediente ao Ministério da Saúde que acabou autorizando o envio de 11 médicos. Uma das exigências era que os médicos apresentassem certificados confirmativos o que, nas palavras de Taipo, ainda não se verificou.
“Quem está a demorar já não é o lado moçambicano mas sim dos EUA, porque o que nós queremos é que nos provem as qualificações destas pessoas. O que custa trazer um certificado para provar que são médicos? Se não há nada de mal que tragam a documentação destes 11 especialistas que foram aceites pelo Ministério da Saúde e o que devem fazer é provar que são mesmo da área”, disse Helena Taipo, citada pelo jornal Notícias.
SAVANA – 22.05.2009