A talhe de foice
Por Machado da Graça
Estamos em tempos de balanço de final de mandato. Balanço sempre positivo, no dizer unânime de todos os responsáveis entrevistados.
E como nenhum dos dirigentes da oposição é chamado a dar também a sua opinião vamos tendo que nos contentar com este balanço monopartidário.
As poucas vozes que se vão levantando a criticar isto, que não foi feito, ou aquilo que foi feito sim, mas mal, não desanimam quem está a fazer o tal balanço. E como parecem ter aprendido todos pela mesma cartilha, as respostas dadas são sempre as mesmas. Com exactamente as mesmas frases.
Algo já devia estar feito mas ainda não está? Isso é um processo! O que quer dizer, em linguagem de todos nós, que tal coisa ainda vai demorar a ser feita. Que não se faz mesmo nenhuma ideia de quando é que ela estará feita.
Exige-se uma acção para acabar com um determinado abuso ou algo errado na governação? Medidas estão sendo tomadas! O que, não dizendo nada de concreto sobre a forma como o problema vai ser resolvido, deixa em nós a sensação de que o assunto não está esquecido. Quer ele, na realidade, esteja esquecido (ou abafado...) ou não.
Não sabe bem o que responder a uma pergunta sobre a actividade do órgão que dirige? Está a ser feito um trabalho para resolver essa questão. O que, mais uma vez, é apenas uma forma de fugir à pergunta.
Estas e mais duas ou três, que aqui não cito para não ser repetitivo, são apenas formas de não dizer nada sem ficar calado. De se fingir que se responde às perguntas sem, na verdade, acrescentar nenhuma informação útil ao esclarecimento do público sobre as questões que o preocupam.
E a verdade é que isto funciona. Raros são os jornalistas que, perante estas não-respostas insistem para obrigar o dirigente a esclarecer devidamente os factos. Para a maior parte dos entrevistadores, o dirigente falou, está falado e passa-se à pergunta seguinte. Poucos são os que fazem a análise da resposta dada para nela encontrar outras possíveis matérias de interesse. Praticamente nenhum se atreve a pôr em causa as afirmações de um dirigente, principalmente se o assunto for sensível.
É o tal tipo de jornalismo em que o repórter pouco mais é do que o pé do microfone para onde o entrevistado fala sem receio de ser interpelado, diga ele o que disser.
É o jornalismo feito com o espírito do (mau) funcionalismo público, em que, se temos umas quaisquer palavras do dirigente, o trabalho está feito e podemos regressar à redacção.
E se criticarmos estas atitudes junto dos responsáveis dos órgãos de informação, não devemos admirar-nos com a resposta: Há um trabalho que está sendo feito e medidas serão tomadas.
O meu Pai costumava contar uma história que eu achava muito divertida.
Era a história de um crente que foi confessar ao padre os seus pecados. E o padre deu-lhe, como penitência, jejuar durante um dia inteiro.
Não confiante na sua memória, o nosso João resolveu colocar no seu quarto um letreiro que dizia João Amanhã Jejua !
E assim todos os dias o João lia o letreiro e pensava que, no dia seguinte, teria que jejuar. E isso foi continuando da mesma forma até o letreiro cair de podre, sem que o João tenha jejuado dia nenhum.
Lembro-me sempre desta história de cada vez que se anuncia mais um adiamento do Congresso da Renamo, coisa que se repetiu agora.
Quem sabe se o dirigente daquele partido não colocou, no seu gabinete, um letreiro a dizer: Dhlakama no Próximo Mês Faz Congresso!
Às vezes as respostas são tão simples...
SAVANA – 29.05.2009