GRACA Machel, membro do Painel para o Progresso de África (Africa Progress Panel), considera que o continente não tem motivos para estar agastado por estar a pagar o preço dos seus erros cometidos no passado e das más decisões tomadas por terceiros.
A presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) defende que também não faz sentido o continente limitar-se a lamentar a sua sorte, pois o que África precisa é uma liderança mais audaciosa.
“É muito fácil quando nos confrontamos com uma crise de desenvolvimento, que actualmente ameaça África, exigir que o resto do mundo venha ao nosso encontro para nos salvar”, escreve Graça Machel, na edição de hoje do jornal britânico “The Independent”.
Aliás - acrescentou - não são os povos africanos os principais responsáveis pela crise financeira que está a devastar as nossas economias, ou das mudanças climáticas que estão na origem das cheias e ciclones que fustigam o nosso continente.
Porém, sem tentar ilibar os culpados por esta situação, a maior responsabilidade de reduzir o impacto destes fenómenos em África cabe aos próprios líderes do continente.
Segundo Graça Machel, isso não quer dizer que o resto do mundo pode continuar indiferente ao sofrimento de África.
Para Graça Machel, sem uma liderança audaz, dedicada e sustentada dos governos africanos, a assistência internacional não vai salvaguardar o continente ou proteger as conquistas alcançadas ao longo dos últimos anos.
O empresariado em África também deve tomar um papel activo na melhoria do desempenho do continente em prol do seu próprio povo.
“Não é preciso olhar para além do meu próprio país, Moçambique, para vermos o que está em jogo. Durante os últimos 15 anos Moçambique foi uma das maiores histórias de sucesso em África. De facto, o seu percurso de democracia, estabilidade e forte crescimento deu-me muitas alegrias e esperança a todo o nosso continente”, escreve Graça Machel.
Contudo, a crise financeira global, o colapso do comércio e redução do investimento estrangeiro tiveram o condão de reduzir drasticamente os índices de crescimento económico em África.
Esta situação resultou numa queda acentuada no volume de remessas de dinheiro enviadas pelos africanos que trabalham no estrangeiro, como consequência da perda dos seus respectivos empregos.Apesar de o governo ainda estar em condições de continuar a financiar os serviços de saúde e da educação, o impacto no seio familiar em África foi imediato.
Isso ocorre devido à falta de pagamento de indemnizações no caso da perda de emprego, bem como redes de segurança ou poupanças para amortecer o choque.
Assim, as pessoas deixam de estar em condições de sustentar as suas famílias de um dia para o outro, o que resulta na fome, doenças e desespero. No meio de tudo isto, são precisamente os mais jovens que estão em risco.
Desde 2000 que Moçambique se debate com o impacto crescente das mudanças climáticas, que se traduz na ocorrência de cheias, secas ou ciclones numa escala sem precedentes, forçando centenas de milhar de pessoas a abandonar as suas residências.
Felizmente, explica Graça Machel, Moçambique já criou políticas e estruturas efectivas para a gestão de desastres, razão pela qual a perda de vidas é limitada. Contudo, os recursos escassos são gastos todos os anos para a reparação de escolas e hospitais, ao invés de construir novas unidades.
Olhando para a África do Sul, onde se encontra radicada, Graça Machel diz que este país também está a sofrer o impacto da crise financeira global, mas que a situação poderia ser mais grave se não fossem os preparativos do “Mundial” de futebol do próximo ano que ajudaram de certa forma a estabilizar a sua economia.
Ao longo de todo o continente, também é possível observar os mesmos sinais de declínio económico e condições climáticas extremas que ameaçam o progresso. É uma tragédia que ocorre precisamente numa fase em que vários milhões de africanos acreditavam ter encontrado o caminho para a recuperação das suas economias.
- SERVIÇO DA AIM