Com apenas dois dias para convencer o eleitorado antes da votação de domingo, os candidatos presidenciais efectuaram a sua campanha por todo o país.
Agora estão a concentrar os seus esforços na capital, Bissau, onde o ambiente é de carnaval apesar dos recentes tumúltos e da falta de dinheiro.
Os 11 candidatos tiraram partido da falta de chuva até à data para chegar aos que vivem neste país de contrastes, seja de religião ou etnicidade.
Até agora e em eleições anteriores, a votação era mais ou menos distribuída e as previsões eram calculadas de acordo com estes aspectos.
No entanto, hoje a Guiné-Bissau está numa espécie de encruzilhada: economicamente o país está sem dinheiro e a maior parte dos trabalhadores do sector público não são pagos há vários meses.
A nível político, o país foi abalado pelos recentes assassínios do Presidente e do Chefe das Forças Armadas bem como de dois cidadãos alegadamente envolvidos numa tentativa de golpe de estado.
Os eventos dos últimos meses afectaram ainda mais este país que já tem uma longa história de golpes e tentativas de golpes de estado.
Desta vez, a campanha parece estar a assumir um ponto de viragem. Muitos eleitores garantiram-me que vão deixar as suas diferenças de lado e seleccionar o seu candidato com base nas suas políticas e não na sua religião ou etnia.
Candidatos
Os eleitores não têm falta de escolha. Há 11 candidatos à presidência, dos quais três são considerados potenciais vencedores.
Malam Bacai Sanhá, o candidato do partido no poder PAIGC, que é também o partido da antiga luta pela libertação, foi apoiado pelo Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior, eleito no final do ano passado.
É a terceira vez que se candidata à presidência, foi derrotado uma vez por Kumba Yalá e também por Nino Vieira em 2005, o Presidente que acabou por ser assassinado no passado mês de março.
Não surpreende que o lema seja "Hora Tchica" que significa "chegou o momento" em creoulo.
Acredita-se que a sua liderança inicial se baseia no forte apoio da maioria da população muçulmana, uma vez que ele próprio é muçulmano e pertence ao grupo étnico beafada.
Mas ele pode ter motivos para se preocupar uma vez que está a ser bastante contestado pelo candidato Henrique Pereira Rosa.
Rosa está a candidatar-se de forma independente e alguns analistas sugerem que a sua campanha está a ganhar peso e que ele pode até vencer a eleição no domingo.
Ele é encarado como um homem capaz de conseguir alcançar uma certa estabilidade para o país quando ele foi indigitado para liderar o governo interino entre 2003 e 2005, depois de um golpe de estado que derrubou o então Presidente Kumba Yalá.
Yalá, que mudou recentemente o seu nome para Mohamed Yalá Emablo e que continua a aparecer em público com a sua emblemática boina vermelha, é o terceiro dos principais candidatos nesta eleição.
Ele é o líder da oposição, o PRS, e para muitas pessoas é o responsável por mudar negativamente a direcção política e económica do país.
Durante o governo interino de Rosa, ele forçou a sua entrada no palácio presidencial e auto-proclamou-se Presidente.
Durante a sua presidência, o FMI e o Banco Mundial suspenderam a ajuda para o país depois de acusações de má gestão e uma série de despedimentos no governo.
Um membro do grupo étnico Balanta, que é maioritário na Guiné-Bissau, Yalá sempre foi descrito como alguém que beneficia do apoio generalizado dentro do exército.
A sua fatia da votação pode ser um factor decisivo no resultado de uma segunda volta, caso nenhum dos candidatos ganhe com maioria absoluta no domingo.
Ambiente
Neste momento, o ambiente está calmo e as autoridades garantiram que estão a postos para uma eleição sem grandes precalços, apenas a chuva pode alterar os planos.
Embora seja difícil prever, até à data não tiveram lugar quaisquer incidentes para além dos normais ataques pessoais entre os candidatos mais directos.
Para um país sem meios, uma segunda volta não é muito apropriada mas de acordo com alguns analistas é o resultado mais provável da eleição de domingo.
Droga
A Guiné-Bissau recebeu a alcunha do armazém da cocaína da África Ocidental. Recentemente, membros do senado dos Estados Unidos acusaram os barões da droga colombianos de operarem na Guiné-Bissau.
No início da semana, o sub-secretário de Estado assistente para África, Johnnie Carson, declarou a Guiné-Bissau como o primeiro narco-estado do continente.
Estas descrições não vão de encontro às opiniões aqui no país, onde muitos as consideram como exageradas.
O exército e o governo insistem que não têm informações nem provas de cumplicidades no seu seio, o que é contestado por alguns analistas que referem que é apenas uma forma de justificar outros males como uma intensa luta política, desrespeito pela lei e várias formas de corrupção.
No entanto, todos os candidatos concordam que o tráfico de droga precisa de uma atenção urgente mas sem ajuda externa, os esforços não serão suficientes.
O país tem poucos recursos, polícias e prisões e não está preparado para lidar com um narcotráfico de vários milhões de dólares.
Um candidato referiu que a marinha do país é constituída por apenas um navio mal equipado e incapaz de cobrir as muitas ilhas e a vasta linha costeira do país.
Impunidade
Há uma cultura da impunidade que foi salientada pelos últimos desenvolvimentos, ainda não há qualquer indicação por parte das autoridades sobre o que levou ou quem foi responsável pelos assassínios do antigo Presidente Nino Vieira e do chefe das Forças Armadas, Tagme na Waie.
Todos parecem concordar que a Guiné-Bissau precisa de reformas nos sectores da defesa, exército e justiça.
Todos os candidatos prometeram tomar medidas a este respeito mas há poucos esclarecimentos sobre a forma como pretendem implementar essas reformas.
A Guiné-Bissau tem um dos sistemas legais mais avançados, disse-me um especialista legal, que referiu que as normas são simplesmente ignoradas.
No entanto há também um denominador comum nesta campanha: a necessidade de unidade. A paz e a estabilidade também parecem ser uma prioridade nas promessas de campanha dos candidatos.
Os guineenses afirmam que estão cansados das eleições e de promessas por cumprir, da violência e da agitação política. Para eles, a prioridade é que os maus dias de antigamente não voltem a acontecer.
BBC - 25.06.2009