INSTALADA que foi a crise da ceifa de arroz por falta de auto-combinadas para uma intervenção mecânica na colheita daquele cereal, em virtude dos apelos lançados pelo governo de Gaza, a resposta foi prontamente dada por diversos sectores da sociedade, num esforço visando salvar milhares de toneladas em risco de se perderem no regadio de Chókwè. Estudantes de instituições agrárias e militares da Oitava Brigada são o exemplo disso testemunhado pela nossa Reportagem na sua recente deslocação à chamada capital económica de Gaza. Como resultado desse empenho mais de quatro mil hectares já foram ceifados, usando os meios mecânicos e manuais, num ambiente de verdadeira festa e de patriotismo. Por estas alturas mais de 17 mil toneladas estão a caminho das unidades industriais de processamento naquela região e na zona da Palmeira, província do Maputo.
Numa perspectiva de nos inteirarmos do que efectivamente está sendo feito para se salvar a produção de arroz, realizada debaixo de enormes dificuldades, desde a disponibilização tardia de fundos, falta de herbicidas, défice de equipamento mecânico para a ceifa e os falhanços no combate à praga do pardal de bico vermelho, trabalhamos na chamada zona verde de Chókwè, em Lionde, Conhane, Hókwè e Chilembene, onde tivemos a oportunidade de dialogar com os diversos actores envolvidos neste processo.
“O engenheiro Banguine, da HICEP, me sugeriu o apoio dos militares para a ceifa de arroz, na perspectiva de salvar estes meus 16 hectares que foram realizados com muito sacrifício, se atendermos o facto de esta campanha, que era esperada com enorme expectativa, marcar o relançamento desta cultura no regadio. A campanha foi antecedida, por alguns problemas relacionados com a alocação tardia de fundos, falta de herbicidas, praga de pássaros e nesta etapa final a problemática da falta de autocombinadas para a ceifa, daí que aceitei prontamente e com alegria recebi os militares, que por sinal estão a realizar um trabalho perfeito e com possibilidade de minimizar as perdas”, disse o agricultor Bungane.
Segundo a nossa fonte, foi necessário optar sem condicionalismos por esta intervenção voluntária, porque, segundo ele, naquela região agrícola apenas estão disponíveis duas autocombinadas que de momento realizam trabalhos em Chalucuane, Chiguidela e Chilembene, numa extensão de pouco mais de mil hectares.
Em Chilembene, na propriedade agrícola de Manuel Bungane, estava à frente da equipa de 64 militares o capitão Ricardo Nicolau, da artilharia terrestre, que disse que aquela intervenção se enquadrava na ocupação dos militares em tempo de paz em acções de impacto quer social, quer económico.
“Esta é uma actividade absolutamente normal, organizada pela logística das FADM.
Esta é a segunda semana neste tipo de intervenção e em resposta aos apelos feitos pelas autoridades governamentais para que pudéssemos dar o nosso contributo na “salvação” deste arroz que está em “perigo” devido à falta de máquinas, ” disse o capitão Nicolau.
De acordo com a nossa fonte, o trabalho da ceifa está a constituir para a sua instituição um verdadeiro momento de festa e de materialização do patriotismo, uma acção que segundo ele, inclusivamente está a mobilizar outros sectores da sociedade a assumirem com responsabilidade a necessidade de se estar unido em defesa de causas que beneficiem a todos.
Na região agrícola de Hókwè, pudemos igualmente testemunhar a intervenção dos militares no processo de ceifa manual, numa área em que a intervenção foi menos feliz, pelo facto dos campos terem sido afectados por sérios problemas de inundações, na sequência das intensas chuvas registadas muito recentemente naquele ponto, uma situação que naturalmente vai concorrer para o agravamento dos prejuízos.
“Olha, estou numa situação deveras preocupante, porque para além de estar a enfrentar este grave problema de falta de drenagem nestes campos, tive um outro problema relacionado com a fraca germinação de semente, uma situação que afectou uma área de seis hectares.
Os militares estiveram aqui a trabalhar mas com enormes dificuldades, porque o arroz está na água, e a intervenção deles não foi para além da ceifa numa área de pouco mais de um hectare,” desabafou o agricultor Cambaco, que luta a todo custo para tentar salvar a sua produção, numa área de 10 hectares. A praga do pardal de bico vermelho é outro drama que continua a tirar sono àquele agricultor, mas que aguarda por parte das autoridades, a minimização do problema, através de uma eventual operação de uso de atomizadores para o combate dos pássaros refugiados nas valas de drenagem.ASSOCIAÇÃO DE REGANTES COM MISSÃO CUMPRIDA
A Associação de Regantes de Conhane, que ostenta o nome de Graça Machel, já concluiu a ceifa manual na sua área de 300 hectares, uma intervenção que envolveu, para além dos membros daquela agremiação, estudantes e outros voluntários.
Fernando Mahumane líder da Associação Graça Machel, com uma dose de orgulho da missão cumprida, confessou à nossa Reportagem ter se tratado de uma missão de alto risco, mas que tudo decorreu a contento, e parte considerável do resultado da produção está sendo entregue aos industriais, em resposta a acordos previamente rubricados.
“Concluído que foi o nosso trabalho estamos agora a preparar a nossa intervenção para a realização da campanha de arroz 2009/2010. Contudo, queremos apelar a quem de direito para que tudo seja feito de forma a não se repetirem os erros verificados na presente safra, designadamente a disponibilização tardia de fundos para a realização da campanha e um melhor aprovisionamento de insumos agrícolas, entre outras intervenções”, disse Mahumane.
HICEP DETERMINADA A MINIMIZAR A CRISE
Tendo em conta os inúmeros constrangimentos que caracterizaram o relançamento da produção de arroz no Regadio de Chókwè, a Direcção da Hidráulica de Chókwè tem estado a desempenhar um importante papel junto dos diversos intervenientes no processo produtivo de forma a encontrar em cada etapa as melhores soluções para suprir as crises.
Segundo Salomão Matsule, Presidente do Conselho de Administração daquela empresa gestora do regadio, os problemas naquelas infra-estruturas prevalecem, estando a sua equipa em constantes e permanentes diligências no sentido de se minimizar os impactos negativos decorrentes de factores que em muito podem concorrer para a redução de rendimentos na produção de arroz em Chókwè.
A nossa fonte destacou, por outro lado, o facto de o envolvimento de diversos actores no processo produtivo ter contribuído para que acima de 60 por cento do arroz tenha sido até ao momento ceifado, através de intervenções que envolveram equipamento mecanizado e manual.
“Nos últimos dias, para além do pessoal normalmente contratado pelos agricultores, estamos a ser apoiados por militares e estudantes que diariamente têm estado a dar um importante contributo, pois, para nós, cada hectare ceifado é sempre um ganho para o regadio. Naturalmente que o arroz já atingiu um grau de maturação há bastante tempo, o que faz com que em cada dia que passa, esteja sujeito a um processo de desgranação, sendo responsável disso, entre outros factores, os ventos, e os pássaros,” reconheceu Matsule.
Segundo ele, não obstante todos estes problemas, o ambiente no seio dos agricultores, é um misto de alegria e de preocupação, por um lado, porque o relançamento da cultura já é uma realidade inquestionável, mas por outro lado, a necessidade de outros intervenientes no processo produtivo terem que colaborar de forma rigorosa para que futuramente não se voltem a registar as falhas reportadas nesta safra.HICEP RECEBE EQUIPAMENTO PARA DRENAGEM
Para Matsule, a drenagem é sem dúvida a espinha dorsal do regadio e a recepção semana finda, de equipamento para esse efeito pode ser considerada de crucial bastante oportuna, pelo facto de a sua intervenção poder vir a contribuir para a minimização dos efeitos nefastos da degradação de solos.
“Estamos todos cientes de que com a chegada deste equipamento, há bastante tempo esperado, estão criadas as condições para uma maior rentabilização da área disponível, actualmente na ordem dos sete mil hectares, que deverá passar para oito mil e quinhentos hectares na temporada agrícola 2009/2010”, disse o PCA da HICEP.
A recepção daquele equipamento, constituído por duas escavadoras e uma máquina de compactação de solos, constitui, segundo a nossa fonte, um grande desafio à capacidade dos gestores do regadio, e não só, para além de ser uma grande responsabilidade, pois a sua manutenção deve ser feita numa perspectiva de muitos anos de vida útil do equipamento, em serviço do regadio.
“Não queremos nenhum tipo de aventuras na utilização deste equipamento, com tecnologia de ponta, daí que a formação dos operadores seja a nossa maior prioridade de momento, para que se preste um trabalho de qualidade e as máquinas sejam usadas com real conhecimento”, reiterou Matsule.
CHÓKWÈ COLHEU JÁ 17 MIL TONELADAS DE ARROZ
Pouco mais de 4200 hectares de um total de 6000 de arroz realizados na presente safra no regadio de Chókwè foram já ceifados, num ambiente caracterizado por uma gritante falta de autocombinadas para a realização desta colheita.
Centenas de soldados das Forças Armadas de Moçambique, da Oitava Brigada de Chókwè, e estudantes do Instituto Agrário local aderiram ao apelo para o “salvamento” deste cereal, numa altura em que se fala da colheita de cerca de 17 mil toneladas, segundo fontes governamentais naquele ponto de Gaza.
Para o efeito, os militares e estudantes envolvidos nestas jornadas voluntárias em apoio aos agricultores locais estiveram divididos em duas zonas distintas, tendo cabido às FADM os campos de Conhane, Hókwè e Chilembene, enquanto o outro grupo trabalhava nas últimas duas semanas na Zona Verde e Lionde.
Para a materialização desta iniciativa que visa salvar a todo custo a produção de arroz em campo, instituições como a Hidráulica do Chókwè e a direcção local da Agricultura colocaram à disposição das equipas de voluntários foices para a ceifa, enquanto os produtores se encarregam pela disponibilização apenas de meios para o transporte das pessoas envolvidas neste processo.
“Estamos cientes das implicações negativas que correspondem a uma ceifa manual em grande escala, desde as perdas de arroz em grão, até aos elevados custos de operação, porque devido aos constrangimentos que apareceram no meio de todo este processo a opção pela ceifa manual acabou abrangendo agricultores com áreas relativamente grandes, mas para todos os efeitos este foi um mal menor, numa perspectiva de se salvar a produção de arroz em campo,” disse, em contacto com a nossa Reportagem Adérito Mavie, Director Distrital dos Serviços Económicos de Chókwè.
Segundo a nossa fonte, a ceifa manual está igualmente a ocorrer em campos onde ocorreram inundações na sequência das recentes chuvas que se fizeram sentir naquele ponto, uma situação agravada pela deficiente drenagem que afecta a maior parte do regadio.
Num outro desenvolvimento, a nossa fonte referiu-se à problemática do combate ao pardal de bico vermelho, cuja operação foi interrompida logo no primeiro dia, devido à queda e posterior destruição da aeronave, uma situação ocorrida recentemente na região de Guijá.
Como alternativa, localmente o combate a esta praga está sendo realizada recorrendo-se aos atomizadores, enquanto se aguarda por uma intervenção aérea para o combate ao pássaro.
- Virgílio Bambo