A ALDEIA de Nwadjahane, no distrito de Manjacaze, província de Gaza, num futuro próximo poderá fazer parte do roteiro turístico, quer doméstico assim como internacional, pelo seu interesse histórico e cultural associado à figura de Eduardo Mondlane, arquitecto da unidade nacional, fundador e primeiro Presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). De pacata e tradicional aldeia, igual a muitas do interior de Moçambique, Nwadjahane está a conhecer grandes transformações exigidas pela História do nosso país, ou seja, pelo processo de surgimento e edificação da nação moçambicana.
Nwadjahane de ontem é diferente do de hoje e vaticina um futuro jamais imaginado, mas que faz jus ao pensamento e luta de um, senão o seu melhor filho, Eduardo Mondlane.
Nwadjahane está transformado e dia após dia vai se transmutando numa terra de liberdade, paz e desenvolvimento.
Ontem tudo em Nwadjahane era determinado pela mãe natureza, mas hoje, 40 anos depois da morte do seu melhor filho, fundador do principal movimento de luta de libertação de Moçambique do jugo colonial português, a FRELIMO, aquela aldeia está a conhecer sinais positivos de progresso associados ao processo de imortalização de Eduardo Mondlane.
A iluminação nocturna já não depende do luar. Há luz artificial em Nwadjahane. Já não se bebe água do poço ou da lagoa de Nyaorongole, mas sim água potável. Há tanta transformação positiva que até o celular, o computador estão lá. Tudo porque a família Mondlane, encabeçada pela viúva de Eduardo Mondlane, Janet Mondlane, o Governo e outras entidades, como a Universidade Eduardo Mondlane, assumiram a dimensão histórica e cultural daquele ponto.
Por ocasião das comemorações do “Ano Eduardo Mondlane” decretado pelo Governo para imortalizar o obreiro da unidade nacional e primeiro Presidente da FRELIMO, muitas acções foram realizadas e muitas ainda estão por realizar, mas o facto é que a criação do Museu Aberto de Nwadjahane tem estado a despertar muito interesse sobre aquele lugar que se vai assumindo histórico.
O museu, que sistematiza a vida, obra e legado de Eduardo Mondlane, per si justifica a inclusão de Nwadjahane no roteiro turístico, com todos os benefícios daí decorrentes não só para a aldeia, como para o próprio distrito de Manjacaze.
Sábado último, por ocasião das celebrações de 20 de Junho, data de nascimento de Eduardo Mondlane, quase que todos os caminhos foram dar àquela aldeia. No mesmo espírito de sua imortalização, o Presidente da República, Armando Guebuza, inaugurou um sumptuoso monumento. Não está acabado, pois ainda falta a colocação de uma estátua de bronze com cerca de 2,5 metros de altura. Mas antes, na sua chegada, plantou entre a casa-museu e o cemitério familiar um embondeiro, árvore que simboliza vida, resistência, longevidade e imponência. Lançou o primeiro computador produzido em Moçambique, denominado “Dzowo”, nome que em tradição significa Mondlane, e inaugurou um centro de recursos. Trata-se de uma instituição que vai permitir à população da aldeia o acesso à formação e informação, o acesso ao mundo através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s). Selou a estampilha comemorativa do “Ano Eduardo Mondlane”.
Informações não confirmadas indicam a construção naquela aldeia de uma estância turística, no âmbito do projecto edificação de pequenos hotéis em vários distritos do país, denominado “Capulana”, encabeçado pelo Ministério de Turismo.
Tudo isto concorre para que Nwadjahane se transforme num verdadeiro centro turístico e, quiçá de estudo da História de Moçambique.
Aliás, já sábado muitas das pessoas que se fizeram presentes naquela aldeia, mais do que pelo acto político de exaltação de Eduardo Mondlane foram guiadas pelo interesse turístico de conhecer aquele local.
A CUMPLICIDADE DE JANET MONDLANE
Janet Mondlane, viúva de Eduardo Mondlane, é considerada uma das responsáveis por trazer o legado do seu marido assassinado no dia 3 de Fevereiro de 1969. Tal facto foi reconhecido pelo próprio filho, Eduardo Mondlane Júnior, na mensagem da família por ele lida nas comemorações de sábado último.
Segundo ele, a sua mãe, Janet Mondlane, é a responsável pela recolha do legado de Eduardo Mondlane desde a sua génese e ao longo das suas várias etapas.
“(…) a nossa mãe enfrentou obstáculos, superou frustrações e conheceu momentos de triunfo que a ajudaram a fazer o percurso de memórias e o resultado foi o relatar da vida de um jovem, o nosso pai”, disse, destacando que com a sua determinação e perseverança conseguiu trazer de volta as esperanças, a visão comum e o intenso sonho de Eduardo Mondlane de libertar Moçambique.
Hoje o Museu Aberto de Nwadjahane é resultado do vasto e enorme esforço “que nós família Mondlane testemunhamos individual e colectivamente durante o percurso da vida da nossa mãe, Janet Mondlane”.
Entretanto, anotou que “estas poucas palavras não fazem justiça à nossa mãe, nem escrevem adequadamente a enormidade da tarefa que ela assume. A frustração reside no conhecimento da trajectória da nossa mãe. A parte mais desvastadora foi quando o amor da sua vida, a sua alma gémea, foi violentamente arrancado no seio dos que o amavam e ela não pôde fazer absolutamente nada para mudar o rumo dos acontecimentos”.
- João Fumo