A REDUÇÃO do preço de compra de algodão de mais de seis meticais cada quilograma no ano passado para cinco meticais e 35 centavos previsto para este ano, poderá fazer com que o distrito de Marínguè deixe de ser o maior produtor daquela cultura de rendimento, ao nível de Sofala, pelo facto dos camponeses terem ameaçado o Executivo em abandonar em bloco sob alegação de que os fomentadores estão a explorá-los bastante.
Este facto foi revelado em muitos comícios orientados pelo governador de Sofala, Alberto Vaquina, em diferentes regiões do distrito de Marínguè.
No comício orientado pelo governador Alberto Vaquina na localidade de Gumbalansai, por exemplo, os populares chegaram mesmo a solicitar àquele governante que os autorizasse a espancar aos fomentadores que comprassem o algodão a preço baixo relativamente a campanha passada, tendo comparado a atitude dos mesmo com a do tempo da escravatura.
Maior parte dos intervenientes do comício do Regulado de Tucuta, no posto administrativo da sede, alinharam pelo mesmo diapasão, tendo informado ao governador Alberto Vaquina que tal já está a provocar problemas conjugais, sob alegação de que os camponeses que estão a apostar em outras culturas, sobretudo o gergelim, estão a registar um desenvolvimento comparativamente aos que persistem em cultivar o algodão.
“As nossas mulheres têm cobiçado o bem-estar do vizinho que produz outro tipo de cultura, uns já têm carros, motorizadas, entre outras coisas e elas (as mulheres) exigem que nós também compremos estas coisas. Às vezes somos obrigados a bater as nossas mulheres por causa de tanta insistência. Mas tudo isso acontece porque o preço de algodão é muito baixo e o trabalho é maior. O povo de Marínguè é muito trabalhador, mas vamos ter que abandonar esta cultura apenas por causa dos preços serem baixo. Por que deve ser o comprador a determinar o preço e não o produtor” - questionou Jacinto Biriato, do Regulado de Tucuta.
O governador Alberto Vaquina explicou que a determinação dos preços não depende do Governo, mas sim das negociações que envolvem os representantes dos produtores e camponeses, sendo que o Executivo participa apenas como árbitro.
“O preço do algodão depende também do mercado internacional, é por isso que todos os anos há negociações envolvendo as partes intervenientes. O comprador não pode comprar o algodão a preço alto para depois vender a um preço muito baixo, mas é preciso sempre haver diálogo para não lesar nenhuma das partes” - referiu Vaquina.
Por seu turno, o director distrital das Actividades Económicas de Marínguè, Bento João, disse que devido à actual crise financeira mundial o preço de algodão conheceu uma relativa descida comparativamente ao ano passado, mas negociações continuam junto da empresa fomentadora, Companhia Nacional Algodoeira (CNA), no sentido de se aumentar um bocado o preço, pelo facto dos camponeses estarem a abandonar em massa, apostando, no entanto, na cultura de gergelim.
“Em 2005 tínhamos mais de oito mil famílias, hoje estamos a falar de cerca de dois mil. Já produzimos mais de sete mil toneladas, mas hoje estamos a trabalhar para aproximar a duas mil toneladas. Paralelamente ao algodão apareceu uma outra cultura de rendimento, o gergelim, que é falar de produzir e aceitar concessionamento. Já o algodão é mais exigente e o preço é baixo, enquanto que o gergelim chegou a atingir 25 meticais no ano passado”, referiu.
Com o efeito, Marínguè poderá perder o estatuto de maior produtor de algodão ao nível da província de Sofala se o cenário continuar o mesmo e o Executivo local reconhece, no entanto, que será um prejuízo enorme quer para o distrito, bem como para a indústria têxtil.