FORAM a enterrar na tarde de ontem, no Cemitério de Lhanguene, os restos mortais do decano do fotojornalismo moçambicano, Ricardo Rangel, falecido quinta-feira última na sua residência em Maputo. Foi sepultado com honras de Estado, num acto que teve início por volta das 13.00 horas, no Paços do Município de Maputo, onde representantes do Governo, familiares, profissionais de comunicação social, amigos e apreciadores da sua arte e forma da comunicar e interpretar os fenómenos sociais, políticos e culturais que marcaram a vida do país renderam-lhe a devida homenagem.
Sem cerimónia religiosa, mas com grande carga emocional e espiritualidade, o “adeus” a Ricardo Rangel foi ao som do jazz, numa interpretação respeitosa de um naipe de sopros constituído pelos músicos Orlando, Balói, Guilherme e Moreira Chonguiça à mistura com um som áudio de Charlie Parker, de quem era um incondicional fã.
Em vida Ricardo Rangel fez duas coisas que marcaram o país, o fotojornalismo e o jazz, esta última como grande propulsor.
Como disse Eduardo Constantino, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Jornalista, na sua mensagem de condolências, Ricardo Rangel foi “homem de cultura e amava o jazz como expressão de eleição”.
A Primeira-Ministra, Luísa Diogo, em representação do Governo moçambicano, reconheceu as qualidades e o papel de Ricardo Rangel na denúncia, através da sua máquina fotográfica, das humilhações e injustiças perpetradas pelo regime colonial, mais tarde o seu papel no processo de registo da História do país independente. Coordenou a reportagem da proclamação da independência nacional.
Para o Governo, Ricardo Rangel foi mais que um repórter-fotográfico, foi um instrumento de luta contra a dominação estrangeira e contra a agressão de que o país foi vítima nos primórdios da independência.
Conquistada a independência, as suas obras passaram a revelar o esforço empreendido pela sociedade e pelo Estado no quadro da luta contra a pobreza e no reforço da auto-estima e do espírito patriótico dos moçambicanos.
Com efeito e em reconhecimento à sua contribuição no processo de construção de Moçambique, Ricardo Rangel foi distinguido com a Medalha Bagamoyo e em Outubro do ano transacto a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição do Ensino Superior do país, distinguiu-lhe com o título de Doutor Honoris Causa em História Visual em reconhecimento da sua contribuição para o país ao longo do seu percurso humano e profissional.
O contributo humano e profissional de Ricardo Rangel foi também enaltecido nas mensagens de condolências da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Associação Moçambicana de Fotografia (AMF), dos autarcas de Maputo e pelo Partido Frelimo.