Canal de Opinião
por Adelino Timóteo
De Janeiro a Março deste ano visitei o sul da Europa, Portugal, Espanha e França, e agora um pouco mais ao centro, a Austria. Estas estadias permitem-me aferir, extrair algumas ilações sobre o mecanismo do fenómeno económico europeu. A Europa é formada também de compartimentos estanques: os ricos de um lado e os pobres do outro. Enquanto nos países do sul a crise económica anda tão evidente, na Austria nem tanto, ou seja, quase nada. Consubstanciando com dados da Eurostat, em termos individuais, de assinalar que as taxas mais elevadas de desemprego são as referentes à Espanha (18,1%), Letónia (17,4%) e Lituânia (16,8%). No outro extremo, estão a Holanda e a Áustria (3% e 4,2%, respectivamente).
Portanto, na zona do euro o desemprego continua a subir, em Portugal a taxa já chegou aos 9,3%, situando-o levemente acima da média europeia. Quer dizer, artificialmente a Espanha que parecia mais estável do que Portugal tem estado a sofrer mais que a nossa antiga metrópole.
Os números para a União Europeia no conjunto dos 27 Estados-membros apontam para uma taxa de desemprego de 8,6 por cento em Abril, face aos 8,4 por cento em Março, o que representa 20.825 milhões de pessoas sem posto de trabalho, mais 4.653 milhões do que no mesmo mês de 2008.
E o que temos observado de ambos os extremos? Por exemplo, na Espanha e França a realidade é assustadora. Há cada vez mais gente que passa fome. Pelo menos na Espanha há um milhão e quinhentas casas à venda, pois os cidadãos estão sufocados em dívidas. Na França a situação é similar, enquanto que em Portugal o numero de indivíduos sufocados pela banca e que pretendem desfazer-se dos créditos, dispondo de suas casas, é relativamente reduzido.
Aqui na Austria, onde me encontro, a situação é tranquila. Passando de relance pelos jornais, não somos confrontados com a avalanche de anúncios de venda de imóveis, como o que observamos em Espanha, França, e de certo modo em Portugal. Mesmo de passagem pelas ruas não encontramos os anúncios “vende-se” imóvel, como assistimos no sul. Também não encontro muita gente clamando por esmolas, como o que vimos na Europa do Sul. Pelo contrário, os cidadãos fazem ainda o gosto às compras, num consumismo exacerbado, e comem e bebem à medida grande.
Está-se mesmo na boa, diferentemente do que vi no sul da Europa, onde a prudência e a contenção dos gastos é o lema da actualidade. Portanto, está-se mesmo a ver que a crise económica internacional tenderá a produzir efeitos direitos sobre os mais pobres, daí que não podemos continuar a nos comportarmos como espectadores do que se passa no velho continente europeu. Pelo contrário definirmos acções conjugadas, redimirmo-nos das exclusões, para a repartição do pouco que temos (como os sete milhoes de meticais que bem podem gerar micro-empresas e auto-empregos sustentáveis), nesta pérola do Índico, pobre, onde os ventos tendem a deixar sequelas sobre os mais vulneráveis poderá e deveria ser o caminho. Mas pena é que a ambição desmedida tenha virado as costas aos que mais sofrem…
Quando mais a sul pior será a crise, ainda que, pelo muito mais a sul a crise seja permanente para a esmagadora maioria e até por isso mesmo seja palavra que não soa da mesma forma que em outras latitudes…
(Adelino Timóteo, Viena de Áustria) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 26.06.2009