Culto de personalidade em perspectiva no Zambeze
Depois de escolas que já ostentam o nome de Armando Guebuza a acção
agora estende-se para nova Ponte do Zambeze e o mais caricato é que tudo indica
que será o próprio a inaugurar uma infra-estrutura com o seu nome, para a qual,
aliás, nada contribuiu porque até foi planeada e financiada no mandato do seu
antecessor, Joaquim Chissano. É o culto da personalidade no seu mais ridículo
esplendor
O anseio em ver seu nome
atribuído a um dos maiores empreendimentos construídos pelo Estado com
esmagadora maioria do capital resultante de contribuição externa, mais
propriamente da União Europeia e do Japão, falou mais alto para o chefe de
Estado e para o Governo de Moçambique por si chefiado. E vai daí o culto da
personalidade está em marcha e no seu mais ridículo esplendor. Assim a Ponte
sobre o Zambeze vai chamar-se Armando Emílio Guebuza em vez de Ponte da Unidade
Nacional como já se tinha praticamente assumido que se chamaria e chegou a ser
dado como ponto assente na Administração Nacional de Estradas e no Ministério
das Obras Públicas e Habitação.
Está decidido e ponto final,
é a conclusão a que levam as afirmações ontem ao «Canal de Moçambique» do
porta-voz do Conselho de Ministro. Vai ser mesmo eternizado o nome de Armando
Emílio Guebuza na ponte que liga as duas margens do Rio Zambeze e para a qual
quem mais contribuiu foi o Governo do antecessor de Guebuza sob a liderança de
Joaquim Chissano. A ponte vai-se chamar nada mais, nada menos: Armando Emílio
Guebuza.
Os que pretendiam
imortalizar Eduardo Mondlane, entre outros heróis mortos, ou chamar a ponte por
Ponte da Unidade Nacional, que ergam suas pontes. É este o tom muito que está a
prevalecer e é muito parecido com o que no auge do colonial-fascismo fez
atribuir em Lisboa, à primeira ponte sobre o Rio Tejo, o nome do então chefe do
Governo português, António de Oliveira Salazar. De recordar porém que a
História continuou a ser escrita e depois da Revolução que marcou o fim da
ditadura em Portugal deixou de ter o nome que lhe quiseram impor e passou
simplesmente a chamar-se Ponte 25 de Abril, data que assinala o movimento
democrático pela Liberdade no País que logo a seguir veio a reconhecer a
Moçambique o direito à auto-determinação e independência.
A confirmação de que já nada
impedirá que a Ponte entre Caia, na província de Sofala, e Chimuara, na
província da Zambézia vai mesmo chamar Armando Emílio Gubuza veio do porta-voz
do Conselho de Ministros, Luís Covane. Ele disse ontem ao «Canal de
Moçambique», no fim da 14ª sessão do Executivo, que a ponte sobre o rio Zambeze
vai, em definitivo, levar o nome do actual chefe do Estado e do Governo de
Moçambique.
“Estou a dizer que a
cerimónia da inauguração da Ponte Armando Emílio Guebuza foi um dos pontos
discutidos pelo Conselho de Ministros. A questão do nome já foi, há muito
tempo, ultrapassada”, respondeu Luís Covane, quando questionado pelo «Canal de
Moçambique» se o presidente da República havia aceite a atribuição do seu nome
à ponte que liga os distritos de Caia, em Sofala e Chimuara, na Zambézia.
A ponte sobre o Zambeze será
designada Armando Emílio Guebuza por proposta do governo, durante uma sessão do
Conselho de Ministros que ocorreu na ausência do chefe do Estado, mas que
conste o próprio não se opôs até aqui que se continue a insistir em por o nome
de uma pessoa viva a uma infra-estrutura que por sinal até irá ser inaugurada
por si próprio.
Muitas entidades e individualidades
criticaram a ideia, achando que seria mais um acto de culto de personalidade ao
chefe do Estado.
Está até a circular uma
carta de recolha de assinaturas contra a atribuição do nome de Guebuza. Está a
correr pela Internet e poderá induzir um movimento de protesto de grande
envergadura que em vésperas de eleições poderá vir a tornar-se uma autêntica
casca de banana para Guebuza.
Residia alguma expectativa
no seio de alguns moçambicanos, de que o presidente da República numa atitude
sem precedentes impedisse que a proposta do seu governo fosse avante. Mas
pode-se, pelo menos para já, considerar que tal expectativa gorou-se
Armando Guebuza ficará para
a História “não se sabe por quanto tempo”, mas “com um rótulo que não cola bem
com o perfil de estadista por que anseia”. “Os veneradores à sua volta melhor
sabem onde o metem”. São alguns comentários que temos também registado.
“A questão do nome já está
ultrapassada e dia 11 de Agosto é a inauguração da Ponte Armando Emílio
Guebuza”, realçou o porta-voz do Conselho de Ministro, Luís Covane, que também
é vice-ministro da Educação e Cultura.
Será cobrada taxa de portagem
Ainda no encontro de ontem,
o governo aprovou o decreto que institui o pagamento de taxas de portagens nas
pontes do Zambeze “Armando Emílio Guebuza”, da Moamba, do Guijá e na de
Lungela. O valor das respectivas taxas dependerá de aqui em diante do ministro
das Obras Públicas e Habitação em coordenação com o ministro das Finanças.
Caberá a este dois pelouros fixar e actualizar as taxas, segundo nos disse
também Luís Covane. (Borges Nhamirre)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 15.07.2009
NOTA:
É ano de eleições e está tudo dito.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE