“MUPIRICHIRI” é o nome
tradicional atribuído a uma planta típica, localizada, que não se desenvolve em
qualquer meio geográfico. Basicamente é consumida entre as populações da etnia
ndau, na província de Sofala, na véspera do Natal, ou seja, na Consoada, altura
em que não se pode comer carne, ou não se pode ver sangue, como queiramos.
Decidimos resgatá-la nesta véspera de mais um Natal como nosso contributo na
grande luta pela preservação daquilo que são as nossas tradições. Para tal,
ouvimos alguns compatriotas nossos que, cada um à sua maneira, nos falaram
desta planta que dentro de dias será muito procurada entre os cristãos pelo
menos em algumas zonas da província de Sofala.
Maputo, Quarta-Feira, 24 de
Dezembro de 2008
Falaram-nos
de “mupirichiri”, dos locais onde normalmente cresce e se desenvolve, das
razões do seu consumo, da maneira como se prepara e naturalmente de como se
consome na noite de 24 para 25 de Dezembro, a noite em que se celebra o
nascimento do menino Jesus.
O
locutor da RM em língua ndau na Beira, João Ndachata, aceitou falar do que sabe
sobre o “mupirichiri” ao nosso jornal. Começou por dizer que é uma planta que
não se desenvolvia como as outras. Ela desenvolve-se rentinha à terra e é
consumida nas vésperas do Natal.
Porquê?
Quisemos saber. Ndachata foi explicando que nessa época, segundo os usos e
costumes tradicionais, diz-se que Jesus nasceu e não se pode comer carne.
Como
se prepara? Ndachata: “mupirichiri” tem algumas pontinhas nas suas folhas que
devem ser retiradas. É preciso ter atenção porque essas pontinhas podem
apresentar-se amarelas, o que imediatamente significa deterioração. Se assim
não for, depois de colhida deve ser devidamente lavada.
Seguidamente
ferve-se até ficar totalmente cozida. Depois enxuga-se de forma a retirar toda
a sua salinidade. Á medida que se enxuga vai se provando até perceber-se que
está completamente livre dos elevados teores de sal com que se apresenta.
Quanto
ao que acompanha, Ndachata falou de pão, nas cidades, e “mukati”, no interior.
Mukati é um pão local feito de arroz, mexoeira, farinha de milho ou de uma
batata nativa que se chama “maranga”.
Ouvimos
igualmente a compatriota Luísa Hanguinda, 61 anos. Disse logo a começar que
“mupirichiri” era um caril. Come-se na festa de Natal. Ela preferiu falar de
amargura em vez de salinidade.
Afinou
pelo mesmo diapasão. Recordou que a planta existe sempre, mas não se come
sempre. Revelou que eram necessárias duas horas para concluir a preparação do
“mupirichiri”. Fez questão de recordar que se pode beber qualquer coisa
enquanto se come “mupirichiri”. Não há problema.
Luisa
Hanguinda afirmou igualmente que, via de regra, o “mupirichiri” come-se das 12
horas em diante. Falámos
Disse
também que “mupirichiri” podia ser consumido por qualquer pessoa, de qualquer
idade. Não há restrições para alguém comer esta planta que, segundo explicou,
não tem qualquer efeito nocivo.
Na
Munhava tivemos oportunidade também de conversar com o compatriota Luís
Maingue, também de 61 anos. Revelou que mupirichiri deve ser comido em jejum,
num dia, como 24 de Dezembro, em que não se pode ver sangue.
Todos,
mesmo os não cristãos, estão proibidos de comer carne, ou mesmo de ver sangue.
Este disse que “mupirichiri” pode se comer em qualquer dia do ano, mas tem
realmente o seu valor quando é consumido no dia 24 de Dezembro de cada ano. Disse
acreditar que tudo começou em Nova Sofala, no distrito do Búzi.
- Eliseu Bento