Discurso de Viana Magalhães
O discurso proferido por Viana Magalhães, no encerramento da X sessão ordinária da Assembleia da República, não foi só longo. Durante as duas horas em que esteve a falar no pódio do Parlamento, o chefe da bancada da Renamo foi dizendo coisas que, pela sua curiosidade, preferimos partilhá-las aqui com os leitores do Canalmoz, e com os que não tiveram a oportunidade de ouvir Magalhães a falar naquela tarde de 21 de Julho de 2009. Aqui deixamos registado parte do seu discurso.
O extracto escolhido aborda o tribalismo e regionalismo em Moçambique, fenómeno este muito recorrente em países da Africa Negra, e que tem sido pretexto para guerras horríveis e devastadoras.
Em Moçambique, se o tribalismo e regionalismo existem, ainda não tiveram manifestações dramáticas, como acontece no Congo, Burundi, por exemplo e impõe-se ainda mais por isso que não se perca um minuto que seja a tentar evitar o pior.
Veja o que disse Viana Magalhães, o chefe da bancada do único partido da oposição com representatividade parlamentar:
Será que os «chingondos» como pejorativamente os apelidam, não lutaram por Moçambique?
Será que os generais (Alberto) Chipande, (Eduardo) Nihia, (Bonifácio) Gruveta, não lutaram por Moçambique?
Porque razão um punhado de meia dúzia de indivíduos, e por sinal todos da mesma região continuam a oprimir a maioria do povo? Até quando a exclusão social?
Os grandes empreendimentos são todos instalados na zona sul de Moçambique. Será que outros pontos do País não têm condições para receber investimentos de grande vulto?
Será que as riquezas e o povo do Centro e Norte do País apenas servem para serem sugados e escravizados? Será que neste País há uma região apenas abençoada em que nascem os presidenciáveis e noutras nascem makafulos «coitados» que nem capacidade de governar têm?
A Frelimo é um partido tribalista, disto ninguém duvida. Estamos lembrados das recentes nomeações dos tribunais (Supremo e Administrativo) e do Conselho Constitucional.
No governo, apesar da maioria dos moçambicanos serem do Centro e Norte, apenas temos meia dúzia de gatos pingados, apenas para dizer que estão. E quando estão, são utilizados, instrumentalizados para renegarem e oprimirem os seus irmãos coitados.
Quando estão, são utilizados como escudo, bandeira de unidade nacional, quando na prática não têm poder nenhum, não fazem parte do centro de decisão. Temos uma primeira-ministra, pessoa competente, mas por ter nascido na região dos «coitados» é utilizada sob o signo de unidade nacional, apenas para insultar os seus irmãos, para aparentar partilha e inclusão, quando na prática não tem poder nenhum.
Aliás, verificamos, dos 250 deputados desta Assembleia da República, quantos são do norte? É a maioria. Então que sentido faz o Governo ser dominado pelo Sul?
Acreditem, caros irmãos, mesmo esses pequenos cargos que têm dentro do governo, é graças à luta da Renamo, é graças à reivindicação da Renamo.
Nós a Renamo, legítima representante do povo, não somos um partido tribalista, queremos e defendemos um Moçambique Uno, onde a unidade nacional seja um facto, onde a inclusão seja uma realidade.
Entristece-se-nos, sobremaneira, quando os nossos irmãos «Chingondos» como pejorativamente são tratados, não conseguem perceber este truque, ou se percebem não querem agir sob pretexto de que não podemos falar, vamos perder o pão!!!
PS: A alínea b) do artigo 11 da Constituição da República de Moçambique define “a consolidação da unidade nacional” como um dos objectivos fundamentais do Estado. (Borges Nhamirre)
CANALMOZ – 28.07.2009