O PRESIDENTE: (Som de
trombeta.) Gosto muito. Obrigado. Obrigado. Acho que o Congresso precisa de uma
trombeta. (Riso.) Muito bom som. Faz lembrar o Louis Armstrong. (Riso.)
Boa tarde a todos. É para mim uma enorme honra encontrar-me em Acra e
dirigir-me aos representantes do povo do Gana. (Aplauso.) Estou profundamente
grato pelas boas-vindas que recebi, assim como a Michelle, a Malia e a Sasha
Obama. A história do Gana é rica, as ligações entre os nossos países são fortes
e estou orgulhoso do facto de esta ser a minha primeira visita a África
subsaariana como Presidente dos Estados Unidos da América. (Aplauso.)
Desejo agradecer à Exma. Presidente do Parlamento e a todos os membros da
Assembleia de Representantes o facto de nos receberem hoje. Desejo agradecer ao
Presidente Mills pela sua excepcional liderança. Aos Presidentes anteriores --
Jerry Rawlings, ex-Presidente Kufuor – Vice-Presidente, Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça – obrigado a todos pela vossa extraordinária hospitalidade
e pelas admiráveis instituições que criaram no Gana.
Dirijo-me a vós no fim de uma longa viagem. Comecei na Rússia, numa Cimeira
entre duas grandes potências mundiais. Viajei para Itália, para um encontro
entre as economias mais fortes do mundo. E vim aqui ao Gana por uma simples
razão: o século XXI será influenciado não só pelos acontecimentos em Roma,
Moscovo ou em Washington, mas também pelo que acontece em Acra. (Aplauso.) em guerra.
Mas em frente. Os
Esta é a pura verdade numa era em que as fronteiras entre os povos não resistem
à força do que nos liga. A vossa prosperidade pode aumentar a prosperidade da
América. A vossa saúde e a vossa segurança podem contribuir para a saúde e
segurança mundiais. E a força da vossa democracia pode contribuir para o avanço
dos direitos humanos em todo o mundo.
Portanto, não vejo os países e os povos de África como um mundo à parte. Vejo
África como uma parte fundamental do nosso mundo interligado -- (aplauso) --
como parceira da América em prol do futuro que queremos para todos os nossos
filhos. Essa parceria deve ter como base a responsabilidade e o respeito
mútuos. E é sobre isso que quero falar-vos hoje.
Devemos partir do simples princípio de que o futuro de África depende dos
africanos.
Digo isto com plena consciência do trágico passado que por vezes tem ensombrado
esta região do mundo. O facto é que corre sangue africano dentro de mim e a
história da minha família -- (aplauso) – família reflecte, quer as tragédias,
quer os triunfos, da história mais ampla de África.
Alguns de vós sabem que o meu avô era cozinheiro de ingleses no Quénia e,
embora fosse um ancião respeitado na sua aldeia, os patrões chamaram-lhe rapaz
durante quase toda a sua vida. Ele estava na periferia das lutas pela
libertação do Quénia mas, mesmo assim, naquela época repressiva, esteve preso
durante um curto período de tempo. No seu tempo, o colonialismo não se resumia
à criação de fronteiras anti-naturais ou de regras de comércio injustas – era
algo vivido pessoalmente, dia após dia, ano após ano.
O meu pai cresceu a pastorear cabras numa pequena aldeia, a uma distância
impraticável das universidades americanas que viria a frequentar. Tornou-se
adulto num momento de extraordinária promessa para África, quando as lutas da
geração do seu próprio pai davam origem a novas nações, um processo que começou
aqui mesmo, no Gana. (Aplauso.) Os africanos estavam a educar-se e a afirmar-se
de novas maneiras e a História avançava.
Mas, apesar do progresso realizado – e tem havido um progresso considerável em
muitas regiões de África – também sabemos que grande parte dessa promessa ainda
não se tornou realidade. Países como o Quénia que, quando eu nasci, tinham uma
economia per capita mais importante do que a da Coreia do Sul, foram já
largamente ultrapassados. A doença e os conflitos dizimaram regiões do
continente africano.
Em muitos locais, a esperança sentida pela geração do meu pai deu lugar ao
cinismo e, mesmo, ao desespero. É fácil apontar o dedo e atribuir a culpa por
estes problemas aos outros. Sim, um mapa colonial que fazia pouco sentido
contribuiu para gerar conflitos. O Ocidente tem muitas vezes tratado África com
paternalismo, ou como fonte de recursos, e não como parceiro. Mas o Ocidente
não é responsável pela destruição da economia do Zimbabué na última década, nem
pelas guerras em que crianças são utilizadas como combatentes. Durante a vida
do meu pai, foram em parte o tribalismo, o favoritismo e o nepotismo num Quénia
independente que durante muito tempo destruíram a sua carreira, e sabemos que
este tipo de corrupção é ainda hoje um facto corrente da vida diária de
demasiadas pessoas.
Claro, também sabemos que há outros factores. Aqui, no Gana, vemos uma face de
África demasiadas vezes ignorada por um mundo que apenas vê a tragédia ou a
necessidade de caridade. O povo do Gana tem trabalhado arduamente para
estabelecer a democracia em bases sólidas e procedeu a várias transferências
pacíficas de poder mesmo depois de eleições muito disputadas. (Aplauso.) E
deixem-me dizer que a minoria merece tanto crédito por esse facto como a maioria.
(Aplauso.) E, com uma governação melhorada e uma sociedade civil emergente, a
economia do Gana demonstrou índices de crescimento notáveis. (Aplauso.)
Este progresso pode não ter a espectacularidade das lutas de libertação do séc.
XX, mas uma coisa é certa: em última análise, terá resultados mais
significativos, pois se é importante deixar de ser controlado por outras
nações, é mais importante ainda construirmos a nossa nação.
Assim, acredito que este momento é tão promissor para o Gana – e para África –
como foi aquele momento em que o meu pai atingiu a maioridade e em que nasciam
novas nações. Este é um novo momento de grande promessa. Só que, entretanto,
aprendemos que não serão grandes vultos como Nkrumah e Kenyatta que
determinarão o futuro de África. Na verdade, esse futuro será determinado por
vós – homens e mulheres no Parlamento do Gana -- (aplauso) -- e as pessoas que
representais. Serão os jovens – a transbordar de talento, energia e esperança –
que poderão reclamar o futuro que tantos outros, em gerações anteriores, nunca
chegaram a realizar.
Mas para que essa promessa se cumpra precisamos, em primeiro lugar, de
reconhecer a verdade fundamental que no Gana se tornou uma realidade visível: o
desenvolvimento depende da boa governação. (Aplauso.) É esse o ingrediente que
falta, há demasiado tempo, em tantos locais. É essa a mudança que pode
despoletar o potencial de África. E essa é uma responsabilidade que apenas os
africanos poderão assumir.
No que respeita à América e aos países ocidentais, o nosso envolvimento deve
ser medido por mais do que apenas os dólares que gastamos. Comprometi aumentos
substanciais em ajuda a países estrangeiros, o que vai de encontro aos
interesses de África e aos interesses da América. Mas o verdadeiro sinal de sucesso
não é se somos uma eterna fonte de ajuda que permite a mera sobrevivência das
pessoas - é se somos realmente parceiros no desenvolvimento de capacidades que
possibilitem a implementação de uma mudança transformadora. (Aplauso.)
Esta responsabilidade mútua deve constituir a fundação da nossa parceria. Hoje
centrar-me-ei em quatro temas que são cruciais para o futuro de África e de
todas as regiões do mundo em vias de desenvolvimento: democracia, oportunidade,
saúde e a resolução pacífica de conflitos.
Em primeiro lugar, devemos apoiar governos democráticos fortes e sustentáveis.
(Aplauso.)
Como afirmei no Cairo, cada nação dá vida à democracia de uma forma específica
e de acordo com as suas tradições. Mas a história oferece-nos um veredicto
claro: os governos que respeitam a vontade do seu povo, que governam pelo
consentimento e não pela coerção, são mais prósperos, mais estáveis e mais
bem-sucedidos do que os governos que não o fazem.
Trata-se de algo que vai para além da simples realização de eleições – tem a
ver com o que se passa no período entre eleições. (Aplauso.) A repressão pode
manifestar-se de diversas formas e em demasiadas nações, mesmo aquelas que
realizam eleições, são afligidas por problemas que condenam os seus povos à
pobreza. Nenhum país cria riqueza se os seus líderes exploram a economia para
se enriquecerem a si próprios -- (aplauso) – ou se a polícia – se a sua polícia
é passível de ser comprada pelos narcotraficantes. (Aplauso.) Não há empresa
que queira investir num local onde o governo, à partida, retém 20 por cento dos
lucros, -- (aplauso) -- ou onde o director das Autoridades Portuárias é
corrupto. Ninguém deseja viver numa sociedade em que o Estado de direito é
preterido a favor da brutalidade e do suborno. (Aplauso.) Isso não é
democracia; isso é tirania, mesmo se de vez em quando se realiza uma ou outra
eleição . E chegou o momento de pôr cobro a este tipo de governação. (Aplauso.)
No séc. XXI a chave do sucesso são as instituições competentes, fiáveis e
transparentes – parlamentos fortes e forças policiais honestas; juízes e
jornalistas independentes; -- (aplauso); uma imprensa independente; um enérgico
sector privado; uma sociedade civil. (Aplauso.) São estes os factores que dão
vida à democracia porque são eles que têm importância na vida diária das
pessoas.
Uma e outra vez, o povo do Gana escolheu a lei constitucional em vez da
autocracia e evidenciou um espírito democrático que permite que a energia do
vosso povo se faça sentir. (Aplauso.) Vemos esse espírito em líderes que
aceitam a derrota com dignidade – o facto de os opositores ao Presidente Mills
estarem a seu lado ontem à noite para me dar as boas-vindas quando saí do avião
foi um gesto muito representativo do espírito que se vive no Gana -- (aplauso);
vencedores que resistem aos apelos para fazer valer o seu poder contra a
oposição de formas desonestas. Vemos esse espírito em jornalistas corajosos
como Anas Aremeyaw Anas, que arriscou a sua vida para contar a verdade. Vemo-lo
em agentes da polícia como Patience Quaye, que ajudou a processar judicialmente
o primeiro traficante de pessoas do Gana. (Aplauso.) Vemo-lo nos jovens que
levantam a voz contra o favoritismo e participam no processo político.
Por toda a África, temos visto muitos exemplos de pessoas que tomam as rédeas
do seu destino e iniciam o processo de mudança a partir da base. Vimo-lo no
Quénia, onde a sociedade civil e o sector empresarial se juntaram para ajudar a
pôr fim à violência pós-eleitoral. Vimo-lo na África do Sul, onde mais de três
quartos do país votou nas eleições recentes - as quartas desde o final do
Apartheid. Vimo-lo no Zimbabué, onde a Rede de Apoio às Eleições enfrentou
corajosamente uma repressão brutal na defesa do princípio de que o voto é o
sagrado direito de cada um.
Não tenhamos dúvidas: a História está do lado destes corajosos africanos e não
daqueles que fazem golpes de Estado, ou alteram as Constituições, para se
manterem no poder. (Aplauso.) África não precisa de indivíduos poderosos mas,
sim, de instituições fortes. (Aplauso.)
A América não procurará impor qualquer sistema de governo a qualquer outra
nação. A verdade essencial da democracia é que cada nação determina o seu
próprio destino. Mas o que a América fará é aumentar a ajuda a indivíduos
responsáveis e instituições responsáveis e o nosso foco é o apoio à boa
governação – aos parlamentos, que fazem frente aos abusos de poder e asseguram
que as vozes da oposição sejam ouvidas -- (aplauso); ao Estado de direito, que
assegura uma administração de justiça igualitária; à participação cívica, de
forma a que os jovens participem; e a soluções concretas que contrariam a
corrupção, como a contabilidade forense e a informatização dos serviços --
(aplauso) --, o reforço de linhas directas (hotlines) e a protecção de delatores,
de modo a promover a transparência e a responsabilização.
E oferecemos este apoio. Incumbi a minha Administração de dar mais ênfase à
corrupção nos nossos relatórios sobre os Direitos Humanos. Todas as pessoas, em
qualquer parte do mundo, devem ter o direito de abrir um negócio ou de obter
uma educação sem ter que subornar ninguém. (Aplauso.) Temos a responsabilidade
de apoiar aqueles que agem de forma responsável e de isolar os que não actuam
dessa forma, e é exactamente isso que a América fará.
Esta questão conduz-nos directamente à nossa segunda área de parceria: apoiar o
desenvolvimento que abre oportunidades a mais pessoas.
Não tenho dúvidas de que, com uma melhor governação, África oferece a promessa
de uma base mais alargada de prosperidade. Veja-se o extraordinário sucesso dos
africanos no meu país, a América. Estão a sair-se muito bem. Têm o talento, têm
o espírito empreendedor. A questão que se coloca é: como podemos assegurar que
também tenham sucesso nos seus países de origem? O continente é rico em
recursos naturais e, desde empresários de telefonia móvel aos pequenos
agricultores, os africanos têm demonstrado a sua capacidade e o seu empenho em
criar as suas próprias oportunidades. Mas há também que quebrar os velhos
hábitos. A dependência de produtos básicos – ou de um único artigo de
exportação – tende a concentrar a riqueza nas mãos de uns poucos e deixa os
países demasiado vulneráveis aos períodos de declínio económico.
No Gana, por exemplo, o petróleo traz grandes oportunidades e o povo do Gana
tem sido muito responsável na sua preparação para as novas receitas. Mas como
muitos ganenses bem sabem, o petróleo não pode simplesmente transformar-se no
novo cacau. Da Coreia do Sul a Singapura, a história mostra que os países se
desenvolvem quando investem no seu povo e na sua infra-estrutura - - (aplauso);
quando promovem múltiplas indústrias de exportação e desenvolvem uma
mão-de-obra especializada e quando criam espaço para pequenas e médias empresas
criadoras de emprego.
À medida que os africanos tentam realizar este potencial, a América estenderá a
mão de uma forma mais responsável. Reduzindo os custos que acabam nas mãos de
consultores e administradores, queremos colocar mais recursos nas mãos daqueles
que precisam deles, formando-os simultaneamente para serem mais
auto-suficientes. (Aplauso.) É por essa razão que a nossa iniciativa de mil
milhões de dólares para a segurança alimentar, se centra em novos métodos e
novas tecnologias para agriculturores – e não apenas no envio de produtores
americanos ou de mercadorias para África. A ajuda não é um fim em si mesmo. O
objectivo da ajuda estrangeira deverá ser a criação de condições que levem a
que esta deixe de ser necessária. Quero ver os ganenses tornar-se não só
auto-suficientes em termos de alimentação; quero ver-vos a exportar produtos
alimentares para outros países e a ganhar dinheiro. Vocês são capazes.
(Aplauso.)
Por outro lado, a América também pode ser mais activa na promoção do comércio e
do investimento. As nações ricas devem, de uma forma mais significativa, abrir
as portas aos produtos e serviços provenientes de África. Esta administração
empenhar-se-á nisso. E, onde existe boa governação, podemos aumentar a
prosperidade através de parcerias públicas e privadas que invistam em melhores
estradas e em electricidade; no desenvolvimento de capacidades que ensinem as
pessoas a iniciar os seus próprios negócios; e em serviços financeiros que
cheguem não só às cidades mas também às zonas pobres e rurais. Isto vem também
ao encontro dos nossos interesses – pois se as pessoas conseguirem sair da
situação de pobreza e criar riqueza em África, sabem o que acontece? Abrem-se
novos mercados para os nossos produtos. Portanto é bom para ambos.
Um sector que implica um perigo inegável ao mesmo tempo que oferece uma
extraordinária promessa é o da energia. A África produz menos gases de estufa
do que qualquer outra região do mundo mas é o continente mais ameaçado pelas
mudanças climáticas. O aquecimento do planeta levará ao alastrar de doenças, à
diminuição de recursos hídricos e à fragilização das colheitas, criando
condições que produzem mais fome e mais conflito. Todos nós - em particular o
mundo desenvolvido - temos a responsabilidade de reduzir o ritmo destas
tendências – quer através de uma diminuição, quer de uma mudança, no que
respeita à utilização de energia. Mas também podemos cooperar com os africanos
com vista a transformar esta crise numa oportunidade.
Juntos podemos colaborar em prol do nosso planeta e da prosperidade, bem como ajudar
países a aumentar o acesso à energia evitando, saltando sobre a fase mais suja
do desenvolvimento. Pensem nisto: em toda a África há uma abundância de energia
eólica, solar e geotérmica, bem como de biocombustíveis. Do Vale Rift aos
desertos do Norte de África; da costa ocidental às colheitas da África do Sul –
os recursos naturais ilimitados de África podem gerar energia para o próprio
continente e, ao mesmo tempo, este poderá exportar energia verde lucrativa para
o estrangeiro.
Estes passos implicam mais do que simples números de crescimento num balanço
financeiro. Determinam se um jovem com formação consegue um emprego que lhe
permita sustentar a família; se um agricultor pode transportar os seus produtos
para o mercado; ou se um empresário que tem uma boa ideia pode formar uma
empresa. Têm a ver com a dignidade do trabalho. Têm a ver com a oportunidade
que deve existir para os africanos do séc. XXI.
Tal como a governação é um elemento vital para a oportunidade, também é crucial
para o terceiro tema de que quero agora falar – o reforço da saúde pública.
Nestes últimos anos houve um enorme progresso em certas regiões de África. Tem
vindo a crescer o número de pessoas que têm uma vida produtiva apesar de
sofrerem de HIV-SIDA e que obtêm os medicamentos de que necessitam. Acabei de
visitar uma clínica e um hospital maravilhosos dedicados sobretudo à saúde
materna. Mas ainda há demasiadas pessoas que morrem de doenças que já não
deviam matá-las. Quando há crianças que morrem devido a uma picada de mosquito,
e mães que morrem durante o parto, sabemos que há ainda mais progresso a
realizar.
No entanto, devido aos incentivos - - frequentemente oriundos de nações
doadoras - - Demasiados médicos e enfermeiras de África vão para o estrangeiro,
o que é compreensível, ou trabalham para programas centrados numa única doença.
Este facto cria falhas nos cuidados primários e na prevenção básica. Por outro
lado, as pessoas de África também têm que dar a sua contribuição. As pessoas
devem fazer opções responsáveis que evitem a propagação da doença e promovam a
saúde pública nas suas comunidades e nos seus países.
Assim, por toda a África vemos exemplos de pessoas que enfrentam estes
problemas. Na Nigéria, uma iniciativa inter-religiosa de cristãos e muçulmanos
deu um exemplo de cooperação para o combate à malária. Aqui no Gana, e por toda
a África, vemos surgir ideias inovadoras com vista a preencher lacunas nos
cuidados médicos - - por exemplo, através de iniciativas E-Saúde que permitem
aos médicos das grandes cidades dar apoio aos médicos que vivem em cidades
pequenas.
A América apoiará estes esforços através de uma estratégia de saúde abrangente
e global, porque no séc. XXI somos chamados a actuar de acordo com a nossa
consciência e também com os interesses que temos em comum pois quando uma
criança morre em Acra de uma doença que se pode evitar, esse facto diminui-nos
em todo o mundo. E quando a doença não é controlada em qualquer local do
planeta, sabemos que pode propagar-se através de oceanos e continentes.
É este o motivo pelo qual a minha Administração consignou 63 mil de milhões de
dólares para responder a estes desafios -- $63 mil milhões. (Aplauso.) Tendo
como base os esforços significativos do Presidente Bush, continuaremos a luta
contra o HIV/SIDA. A nossa meta é por fim à morte devido à malária e à
tuberculose, assim como nos esforçaremos para erradicar a poliomielite.
(Aplauso.) Lutaremos - - lutaremos contra as doenças tropicais negligenciadas.
E não combateremos doenças isoladamente – investiremos em sistemas de saúde
pública que promovam o bem-estar e focaremos a nossa atenção na saúde de mães e
crianças. (Aplauso.)
Ao trabalharmos em parceria em prol de um futuro mais saudável devemos também
pôr fim à destruição que resulta não da doença, mas da acção dos seres humanos
- - e, deste modo, o último tema de que passo a falar é o conflito.
Deixem-me ser claro: África não se resume à simples caricatura de um continente
perpetuamente
Estes conflitos são uma pedra à volta do pescoço de África. Todos nós temos
várias identidades – tribais, étnicas, religiosas e de nacionalidade. Mas
definirmo-nos por oposição a outra pessoa que pertence a uma tribo diferente,
ou que presta culto a um profeta diferente, é algo que não tem lugar no séc.
XXI. (Aplauso.) A diversidade de África deveria ser uma fonte de riqueza e não
um motivo para divisões. Somos todos filhos de Deus. Todos nós partilhamos
aspirações comuns – viver em paz e em segurança; ter acesso à educação e à
oportunidade; amar as nossas famílias, as nossas comunidades e a nossa fé. É
isto que constitui a nossa humanidade comum.
Por isso mesmo devemos levantar-nos contra a desumanidade praticada entre nós.
Nunca é justificado - - nunca é justificável alvejar inocentes em nome de uma
ideologia. (Aplauso.) Obrigar crianças a matar em guerras é a sentença de morte
de qualquer sociedade. É um sinal irrevogável da criminalidade e da cobardia
condenar as mulheres à violentação sistémica e implacável. É nosso dever
prestar testemunho ao valor de todas as crianças em Darfur e à dignidade de
todas as mulheres no Congo. Nenhuma fé, nenhuma cultura deve perdoar as
brutalidades exercidas contra elas. Todos nós devemos lutar pela paz e pela
segurança necessárias ao progresso.
Os africanos estão a lutar por este futuro. Também aqui, no Gana, vemos como
ajudam a apontar para a direcção do caminho
A América tem a responsabilidade de colaborar convosco como parceira no sentido
de fazer progredir esta visão, não só com palavras, mas com um apoio que
reforce as capacidades de África. Quando se pratica o genocídio em Darfur, ou
existem terroristas na Somália, estes não são problemas apenas africanos – são desafios
à segurança global que exigem uma resposta a nível global.
E é por esse motivo que estamos prontos a colaborar por meio da diplomacia e de
assistência técnica, e de apoio logístico, e apoiaremos os esforços para punir
os criminosos de guerra. E serei claro: o nosso Comando para África tem como
foco não o estabelecimento de uma base de operações no continente, mas sim o
combate a estes desafios comuns com vista a aumentar a segurança da América, da
África e do mundo. (Aplauso.)
Em Moscovo falei sobre a necessidade de um sistema internacional que respeite
os direitos universais dos seres humanos e se oponha às violações desses
direitos. Tal sistema deverá ter como base o compromisso em apoiar os que
resolvem pacificamente os conflitos, sancionar e impedir aqueles que não o
fazem, e ajudar aqueles que sofreram. Mas, em última análise, serão as
democracias sólidas, como o Botswana e o Gana, que reduzirão as causas de
conflitos e farão avançar as fronteiras da paz e da prosperidade.
Como afirmei há pouco, o futuro de África depende dos africanos. Os povos de
África estão prontos a reivindicar esse futuro. E no meu país, os
afro-americanos – entre estes muitos imigrantes recentes – têm tido sucesso em
todos os sectores da sociedade. Fizemo-lo apesar de um difícil passado e fomos
buscar forças à nossa herança africana. Sei que com instituições sólidas e uma
grande determinação os africanos podem viver os seus sonhos em Nairóbi e Lagos,
Kigali, Kinshasa, Harare e aqui mesmo em Acra. (Aplauso.)
Sabem, há cinquenta e dois anos os olhos do mundo concentravam-se no Gana e um
jovem pregador chamado Martin Luther King viajou até aqui, a Acra, para ver a
Union Jack descer e a bandeira do Gana ser hasteada. Isto ocorreu antes da
marcha até Washington e antes do sucesso do movimento de direitos civis no meu
país. Perguntaram ao Dr. King como se sentira ao ver nascer uma nova nação. E
ele disse: Renova a minha convicção no irrevogável triunfo da justiça.
Agora esse triunfo tem que ser alcançado mais uma vez e tem que ser ganho por
vós. (Aplauso.) Dirijo-me em particular aos jovens em toda a África e aqui no
Gana. Em países como o Gana os jovens reprensentam mais de metade da população.
E eis o que devem ter em mente: o mundo será aquilo que dele fizerem. Têm o poder
de responsabilizar os vossos líderes e de formar instituições que sirvam o
povo. Podem servir as vossas comunidades e canalizar a vossa energia e educação
para criar nova riqueza e construir novas ligações ao mundo. Podem ganhar a
luta contra a doença, e pôr fim aos conflitos, e accionar a mudança a partir
das bases. Podem fazer tudo isso. Sim, podem -- (aplauso) -- porque, neste
momento, a história está a avançar.
Mas tudo isso só poderá ser feito se todos assumirem a responsabilidade pelo
vosso futuro. Não será uma tarefa fácil. Exigirá tempo e esforço. Haverá
sofrimento e contrariedades. Mas posso prometer-vos o seguinte: a América
estará do vosso lado em cada etapa - - como um parceiro, como um amigo.
(Aplauso.) No entanto, a oportunidade não virá de nenhum outro lugar – terá que
originar das decisões que todos vós tomarem, daquilo que realizarem e da
esperança que existe nos vossos corações.
Gana, a liberdade é a vossa herança. Agora, cabe-vos a responsabilidade de
construir algo alicerçado nessa liberdade. E se o fizerem, no futuro olharemos
para locais como este e diremos que este foi o momento em que a promessa foi
cumprida – este foi o momento em que a prosperidade foi forjada, que o
sofrimento foi superado e em que foi iniciada uma nova era de progresso. Este
pode ser o tempo em que somos, uma vez mais, testemunhas do triunfo da justiça.
Sim podemos. Muito obrigado. Deus vos abençoe. Obrigado. (Aplauso.) Obrigado.
MOÇAMBIQUE HOJE – 13.07.2009