Banco de Moçambique conclui
- As exportações moçambicanas, até Março de 2009, quando excluídos os grandes projectos, ficaram-se pelos 80 milhões de dólares, contra 120 milhões de dólares em Março de 2008
- 243 milhões para conter pressão cambial e permitir mecanismos de esterilização de liquidez
- Reduziram os rendimentos das aplicações de activos no exterior em 3 milhões de dólares
- Reduziram os lucros reinvestidos pelos projectos de Investimento Directo Estrangeiro
- Outros impactos decorrentes da crise financeira e económica internacional, referidos por Waldemar de Sousa, são “o aumento das vendas de divisas no Mercado Cambial Interbancário e desgaste das Reservas Internacionais Líquidas em 104 milhões de dólares”
A economia moçambicana, apesar de um e outro constrangimento como a queda nas exportações totais de bens (36%) e a redução dos lucros reinvestidos pelos projectos de Investimento Directo Estrangeiro, está a resistir aos efeitos da crise financeira e económica internacional – conclui a análise do Banco de Moçambique, no seu informe apresentado ontem em Maputo à imprensa, sobre preços e conjuntura financeira.
em desenvolvimento. Aponta
No plano doméstico, a conjuntura foi marcada também pela revisão em baixa nas previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2009, diante dos mesmos feitos da crise financeira e económica internacional.
O Banco Central apontou também que, em suma, no primeiro trimestre de 2009, o impacto da crise financeira e económica internacional “continuou a manifestar-se na redução da procura externa nas economias mais desenvolvidas; restrições ao crédito no mercado internacional, com impacto nos fluxos de financiamento para as economias emergentes e em desenvolvimento e redução dos preços das commodities no mercado internacional, com impacto na deterioração da conta corrente, particularmente, das economias cuja base exportadora assenta em produtos primários”.
Dado o cenário anteriormente descrito, o “World Economic Outlook” divulgado em Abril último, de acordo com o Banco de Moçambique, indica que “a produção mundial poderá contrair em 1,3 por cento em 2009, após uma expansão de 3,2 por cento em 2008, prevendo-se que a recuperação venha a ocorrer, somente em 2010, onde se espera um crescimento global positivo, ainda que tímido de 1,9 por cento”.
Entretanto, o Banco de Moçambique refere que os dados provisórios atinentes à execução do Orçamento do Estado no primeiro trimestre de 2009, apontam para um crescimento anual nominal da receita arrecada “em 17,8 por cento, para 9.144 milhões de Meticais (3,4% do PIB projectado para o ano de 2009), mais 0,8 pontos percentuais do valor programado para o período em análise, perante um aumento da despesa total e empréstimos líquidos em 3,6 por cento. Correspondendo a 5,5 por cento do PIB”.
Ainda de acordo com as conclusões do Banco Central moçambicano, na sua análise sobre a conjuntura financeira doméstica e internacional referente ao primeiro trimestre de 2009, “o saldo global antes de donativos reduziu em 13,5 por cento, para 5.584 milhões de Meticais (2,1% do PIB)”.
No mesmo contexto, o documento ontem divulgado pelo Banco Central indica que o Estado moçambicano desgastou a sua posição junto do sistema bancário “em 0,1 milhões de Meticais, contra uma previsão de acumulação de poupança no valor de 95,7 milhões de Meticais”.
Já no âmbito externo, aponta-se serem visíveis as perturbações enfrentadas pela Balança de Pagamentos do país, “a medir pelo agravamento do saldo da conta corrente, incluindo as operações dos grandes projectos, em 310,3 milhões de dólares, para um défice de 316,3 milhões de dólares, montante que aumentou para 374,2 milhões de dólares quando excluídas as transacções dos grandes projectos ”.
Por outro lado, as exportações moçambicanas, até Março de 2009, quando excluídos os grandes projectos, ficaram-se pelos 80 milhões de dólares, contra 120 milhões de dólares em Março de 2008, no contexto de redução em 35 por cento da entrada das transferências unilaterais.
O administrador do Banco de Moçambique, Waldemar de Sousa, disse concretamente sobre a economia nacional, que até o primeiro trimestre de 2009, são apontados como sendo sinais negativos decorrentes do impacto da crise financeira internacional, “a redução do endividamento externo para o sector privado (80,4%) e público (78%); a queda nas exportações totais de bens (36%); a redução de donativos externos para projectos (35%); a tendência de manutenção das importações (2%) e a maior flutuação na taxa de câmbios”.
Waldemar de Sousa, ao revelar tais factos, acrescentou que a propalada crise que está a flagelar as economias à escala mundial, originou igualmente “a redução de rendimentos das aplicações de activos no exterior em 3 milhões de dólares. Reduziram os lucros reinvestidos pelos projectos de Investimento Directo Estrangeiro”.
Outros impactos decorrentes da crise financeira e económica internacional, referidos por Waldemar de Sousa, são “o aumento das vendas de divisas no Mercado Cambial Interbancário e desgaste das Reservas Internacionais Líquidas em 104 milhões de dólares”.
No período em análise a crise originou ainda a expansão do crédito à economia “com uma variação anual de 55,5 por cento”, bem como “a tendência de incremento do rácio de crédito mal parado, de 1,95 por cento, em Dezembro de 2008, para 2,76 por cento, em Março de 2009”
Voltando ao plano internacional, o administrador do BM, Waldemar de Sousa, referiu que as economias mais avançadas e os mercados emergentes como é o caso dos EUA, Zona Euro, Japão, Reino Unido, Coreia do Sul, Brasil e África do Sul, registaram no primeiro trimestre de 2009, “um abrandamento económico generalizado”.
Entre outros acontecimentos derivados da crise financeira e económica internacional houve “aumento do desemprego nas economias mais desenvolvidas. Os Bancos Centrais reduziram as taxas de juro (Zona Euro, Reino Unido, Brasil, Coreia do Sul, Índia, África do Sul) e houve manutenção em níveis baixos nas restantes economias (EUA, Japão e China)”.
O Dólar fortificou-se face às moedas como Euro, Libra, Real, Won, Rupia, mas “perdeu terreno face ao iene japonês”.
Ainda de acordo com Waldemar de Sousa, os principais factores que afectaram o desempenho da economia global foram: “a vulnerabilidade nos preços internacionais de algumas mercadorias, prevalência da crise financeira e económica internacional e a tendência de fortalecimento do dólar americano no mercado internacional”.
Operações no exterior
As operações com o exterior saldaram-se, segundo o Banco Central, numa deterioração do saldo das Reservas Internacionais Líquidas em 104,1 milhões de dólares nos primeiros três meses do ano corrente, para 1.539,1 milhões de dólares, equivalente a 4,2 meses de cobertura de importações de bens e serviços não factoriais, incluindo as importações de grandes projectos, e 5,4 meses de importações quando excluídas as operações destes, contra uma estimativa inicial de 3,9 meses estabelecidos para o final do ano.
243 milhões para conter pressão cambial
“É de salientar a forte intervenção do Banco de Moçambique realizada no mercado cambial, ao colocar um total de 243 milhões de dólares, que permitiram conter a pressão cambial e contribuir para os mecanismos de esterilização de liquidez”, acrescenta-se no documento ontem divulgado.
Na região da SADC
Os principais destaques apontados nas economias dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) são: a concentração da actividade económica na África do Sul e a desaceleração da inflação. Houve ainda um enfraquecimento das moedas locais face ao dólar, à excepção do Kwacha e uma redução das taxas de juro de política na África do Sul, Botswana e Maurícias.
Nos países como África do Sul e Maurícias as taxas de juro de política reduziram de “12 por cento, em Junho de 2008, para 7,5 por cento, em 2009, e de 8 por cento, para 5,75 por cento em igual período, respectivamente”.
“No Botswana reduziu de 15,5 por cento em Junho de 2008 para 11,5 por cento em igual período de 2009”
Outros dados
Segundo a análise do Banco Central, as últimas previsões para as economias da África Sub-Sahariana são pessimistas sob ponto de vista de crescimento económico, balança de pagamentos e equilíbrio macroeconómico, no geral.
“Os dado disponíveis mostram que o crescimento económico na África do Sul foi negativo no primeiro trimestre, após forte desaceleração iniciada no quarto trimestre de 2008”
Desafios do Banco Central
Face à crise o Banco Central aponta como desafios a necessidade de assegurar a estabilidade macroeconómica, a manutenção do funcionamento dos mercados, a monitoria da solidez do sistema financeiro, entre outros.
O BM pretende igualmente “prosseguir com as acções tendentes a alargar os serviços financeiros às zonas menos favorecidas para incentivar a captação de poupanças financeiras e promover o investimento com custos de intermediação mais competitivos”.
Quer ainda garantir o acesso aos serviços mínimos gratuitos para os cidadãos nacionais e defender cada vez mais o cliente “da publicidade enganosa”.
(Emildo Sambo) – CANAL DE MOÇAMBIQUE – 01.07.2009