MOÇAMBIQUE mantém em alta a sua prestação no segundo Festival Pan-Africano de Cultura, que decorre em Argel, a capital argelina, desde o passado fim-de-semana. Depois da soberba estreia, na passada terça-feira, por um grupo de timbileiros de Zavala, e outro de nyau, dança proveniente da província de Tete, coube quinta-feira a vez às senhoras do Tufo da Mafalala, a honra de subirem aos palcos de África para prestigiarem o nosso país, com as suas canções, a sua alegre e sensual dança, e com os seus peculiares ritmos coreográficos. Para o efeito, o grupo foi convidado a percorrer, de autocarro, cerca de 100 quilómetros em direcção a Tizi Ouzou, no sul de Argel, onde à semelhança do que aconteceu com o nyau e a timbila, Moçambique voltou a colocar-se no topo das danças africanas, num espectáculo que forçou o “frio” e indiferente povo argelino a render-se às evidencias, ovacionando de pé a mestria da execução dos nossos artistas.
Sempre sorridente, com a certeza de missão integralmente cumprida, a chefe do grupo, Elisa Macala, sublinhou o trabalho e o entusiasmo das suas companheiras, considerando que a união do grupo é o factor fundamental no sucesso da sua actuação. “Este é apenas o começo, aguardem-nos para a semana”, desafiou.
Quinta-feira foi igualmente dia de estreia da nossa xilografia, aqui no festival de Argel. Esta é uma técnica gráfica pouco divulgada no país e cuja prática ameaça, por isso, mesmo desaparecer. Para este festival, Moçambique trouxe um artista seleccionado na província de Cabo Delgado, Matias Ntundo, que ontem se estreou no certame, num pavilhão aberto na região de Tipaza.
A xilografia é também uma técnica de gravura em que se usa a madeira ou outro suporte conveniente para a reprodução de imagens e textos sobre o papel, numa operação semelhante à de um carimbo, uma vez que o papel é prensado com as mãos sobre a madeira, num dos métodos de gravação mais antigos.
Xilografia, nome da disciplina, deriva do grego xylon (madeira) e grafos (gravar). A técnica já era praticada na Ásia no século VII e era especialmente utilizada para estampar tecidos. Desde o século XIX e graça a precisão artística alcançada pela técnica, foi muito utilizada para a ilustração de livros e jornais.
Ainda, a participação moçambicana no festival de Argel incluiu a inauguração de uma exposição de artesanato, que procura reflectir, numa fabulosa combinação de cores, simbolismos e movimento, o nosso potencial cultural e artístico-tradicional, numa mostra inaugurada pelo vice-ministro da Educação e Cultura, Luís Covane.
Na vertente da música ligeira africana, onde Moçambique far-se-á representar pelo agrupamento Eyphuru, depois das soberbas exibições do senegalês Youssou Ndour, num memorável espectáculo na terça-feira, do maliano Mory Kanté e da cabo-verdiana Cesária Évora quinta-feira, são ainda esperadas com expectativa, aqui em Argel, as actuações de outros nomes sonantes da música internacional, como são, por exemplo, os casos do congolês Papa Wemba, do senegalês, Ismael Lo, do argelino Kateb Amazigh, para além naturalmente da nossa banda Eyuphuru, que pela primeira vai subir aos palcos do festival na próxima segunda-feira.
Na vertente de danças tradicionais, tal como Moçambique, passaram já pelos palcos do festival grupos provenientes dos diversos países aqui representados, sendo de destacar os das zonas libertadas do Sahara Ocidental, da Suazilândia, Zâmbia, Zimbabwe, Tanzânia, Angola, África do Sul, Madagáscar, Uganda, Nigéria e Ilhas Maurícias e Comores.
Por ontem ter sido sexta-feira para os países islâmicos, foi dia de repouso, com todas as delegações a aproveitarem a ocasião para recarregarem as baterias na perspectiva de se apresentarem em grande estilo na derradeira semana do evento, que termina dia 20.
- David Filipe, em Argel