Amanhã entre Caia e Chimuara no Rio Zambeze
* Entretanto, prossegue a controvérsia da escolha do nome do actual presidente da República
Pelo menos uma centena de cidadãos moçambicanos subscreveu uma carta que circula na Internet a repudiar a atribuição do nome do que também é presidente da Frelimo, àquele empreendimento.
“Somos pelo não endeusamento e pelo não culto de personalidades exercendo cargos públicos. Gostaríamos que V.Excia entrasse na história não como Salazar, Mussolini, Hitler e outros, que deixaram seus nomes estampados em obras de envergadura, mas que depois da sua morte tais empreendimentos mudaram de nomes”.
– Excerto da Carta Aberta dirigida ao PR
O chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza, inaugura amanhã, a ponte sobre o rio Zambeze, num acto marcado pela controvérsia quanto à atribuição do seu próprio nome àquele empreendimento de grande envergadura, talvez a maior obra pública erguida pelo Estado Moçambicano desde 1975, ano da Independência Nacional.
É caso para dizer que 1 de Agosto de 2009 vai ficar nos anais da história do País, não só pela inauguração da ponte que simboliza a Unidade Nacional, mas também, e sobretudo, pela atitude arrogante do Governo, que insiste em atribuir o nome de Armando Emílio Guebuza à ponte sobre o rio Zambeze, ignorando a vontade expressa de centenas de Moçambicanos que contestam a atitude chauvinista e de culto da personalidade.
A obra foi financiada pela União Europeia, pelo Japão, Itália, Suécia e parcialmente pelos cofres do Estado moçambicano.
A nível da ANE (Administração Nacional de Estradas) chegou-se a discutir e praticamente se decidiu que a Ponte entre Caia, na província de Sofala, e Chimuara, na província da Zambézia, iria chamar-se Ponte da Unidade Nacional, mas escrito em língua local, Sena. A inauguração chegou a estar marcada para 10 de Julho, mas entretanto, inesperadamente o Conselho de Ministro, alegando que Armando Guebuza nessa sessão esteve ausente, deu o nome do chefe do próprio Governo e presidente da República à ponte. Armando Guebuza está agora a ser acusado de culto da personalidade por amplos sectores da opinião pública. No entanto, outros há que aprovam o nome alegando que a obra foi feita durante o seu mandato.
Desde que o ministro de Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias, anunciou a 1 de Julho corrente, que a ponte sobre o Zambeze iria ser baptizada com o nome do actual chefe do Estado, vozes críticas se levantaram a contestar a decisão, achando-a veneração, culto de personalidade, bajulação, endeusamento. Outros ainda chegaram a admitir que Guebuza se viesse a opor a que dessem o seu nome à Ponte e ainda para mais o fizessem passar pelo ridículo de ser ele própria a inaugurá-la, numa atitude de auto-elogio e de culto de personalidade.
Chegou até a circular na Internet, uma carta aberta dirigida ao presidente da República, que o exortava a não aceitar baptizar a ponte sobre o Zambeze, com o seu nome.
Figuras de destaque na sociedade moçambicana, entre jornalistas, políticos, e membros da sociedade civil, subscreveram a carta em referência, de que aqui trazemos alguns extractos:
“Tem se dito que elogio a próprio é vitupério. Não deixe que o falso elogio, o lambe-botismo, a subserviência dos seus colaboradores o façam perder a dignidade, sentido de justiça, humildade e grandeza que o momento requer”, assim inicia a carta dirigida ao chefe do Estado.
“Somos pelo não endeusamento e pelo não culto de personalidades exercendo cargos públicos. Em muitos países é prática que não se atribuam nomes de personalidades vivas a instituições públicas. Gostaríamos que V.Excia entrasse na história não como Salazar, Mussolini, Hitler e outros, que deixaram seus nomes estampados em obras de envergadura, mas que depois da sua morte, tais empreendimentos mudaram de nomes”, prossegue a missiva, para de seguida sintetizar: “Excia, deixe que seja a história, que seja o povo a endeusá-lo”.
Entretanto, outro coro de opiniões se posiciona do extremo contrário, achando a atribuição do nome de Armando Guebuza à ponte sobre o Zambeze, “uma digna homenagem a um grande patriota”. E pelo que tudo indica, o presidente da República vai assumir amanhã o endeusamento e inaugurar ele próprio a ponte que durante a sua construção era designada por “Ponte do Zambeze” e “Ponte da Unidade Nacional”.
Características da ponte
A ponte tem uma extensão de 2,3 quilómetros, é dotada de duas faixas de rodagem, bermas e passeios em cada lado. compreende, por outro lado, 13 metros de altura no leito do rio, para permitir a navegação do seu canal mesmo no período de cheias de grande magnitude.
Financiamento
O projecto é orçado em cerca de 80 milhões de euros (2.960.000.000 MT). É financiado pela Comissão Europeia em 25 milhões, 20 do Governo italiano, 18.312 da Suécia e perto de nove milhões injectados pelo Japão. O governo contribuiu com cerca de 12 milhões de Euros.
Os signatários da carta dirigida ao PR sugerem que a ponte seja designada “Eduardo Mondlane - em memória deste filho da pátria moçambicana e Arquitecto da Unidade Nacional; Ponte 4 de Outubro - em homenagem à Paz; Ponte de Chimuara-Caia - em homenagem a estes dois distritos que fazem margem do rio Zambeze;
Ponte sobre o Zambeze – em homenagem a este gigantesco rio que alimenta o País;
Ponte da Unidade Nacional – em homenagem à eliminação do acidente geográfico que impedia o País de se unir; Ponte Filipe Samuel Magaia – em homenagem ao grande estratega da Luta Armada de Libertação Nacional;” entre tantas outras sugestões de nomes, constantes da carta.
Manuel de Araújo, Machado da Graça, Leia Chingubo, Custodio Duma, Luís Nhachote, Eduardo Namburete, Celso Gusse, Josué Bila, são algumas das figuras conhecidas que subscreveram a carta. (Borges Nhamirre)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 31.07.2009