ESTADOS UNIDOS
A recente visita do presidente Barack Obama ao Gana foi uma “desilusão para as forças progressistas que esperavam ouvir do presidente americano ideias claras a respeito dos desafios” enfrentados pelo nosso continente e “da forma como Washington pretende lidar com os mesmos”. A opinião é de Gerald Caplan, pesquisador e autor de obras como, Ruanda: O Genocídio Evitável e A Traição de África.
Num artigo de opinião publicado no jornal canadiano, The Globe and Mail, e reproduzido na revista americana, The Nation, Caplan considera que “para além da eloquência e do estilo de Obama, torna-se difícil identificar algo nas suas palavras que não pudesse ter sido dito, sem bem que de forma confusa, por George Bush”.
Doutorado em história, Caplan considera que “muito do que Obama acredita sobre África e de como o continente africano poderia enfrentar os seus muitos desafios está simplesmente errado”. Caplan refere que em cada afirmação feita antes e durante a visita ao Gana, o presidente americano deu “realce às causas internas dos infortúnios do continente, destacando em particular a necessidade da boa governação e o fim da corrupção”, e que “não haveria investimentos sem boa governação”.
Para Caplan, “isto é simplesmente errado”, acrescentando: “Durante décadas, a maior parte do investimento estrangeiro em África foi direccionado primeiro para a África do Sul, mesmo sob o regime do apartheid, e depois para nações ricas em petróleo como Angola e Nigéria. Antes de mais, as companhias ocidentais, apoiadas de forma enérgica pelas respectivas embaixadas, andam atrás dos recursos do continente africano – petróleo, gás e, numa menor escala, minérios. Estes são precisamente os sectores onde encontramos corrupção em larga escala, degradação ambiental, exploração brutal da mão-de-obra africana, e, muitas das vezes, guerras. Em qualquer dos casos, a boa governação não joga qualquer papel nas decisões relacionadas com investimentos. Muitas das vezes, os que os investidores procuram são líderes venais.”
Voltando a citar Obama, quando este insistiu que os empresários não iriam investir “em países cujos dirigentes pediam 10, 15, 25 por cento de comissões”, Caplan considerou que esta era uma “afirmação destituída de lógica” uma vez que os empresários estrangeiros colaboram no jogo do suborno, o que encoraja os dirigentes africanos a exigir uma fatia do bolo”, salientando que “a corrupção de alto nível em África não poderia acontecer nem acontece sem a colaboração íntima do Ocidente”.
Para Gerald Caplan, “a forma como Obama repetidamente insistiu no tema da boa governação e da corrupção era algo que se poderia situar algures entre o irónico e o grotesco, dado que dos oito líderes africanos convidados para a cimeira dos G-8 da semana passada, cinco eram da África subsariana, três do Norte de África. De acordo com um relatório da Transparência Internacional referente a 2008, todos esses líderes têm classificação fraca ou abismal no Índice de Percepções de Corrupção daquela organização. Sete desses países foram considerados este ano pela Freedom House como apenas parcialmente livres ou não livres. Apenas um (a África do Sul, dirigida pelo profundamente corrupto Jacob Zuma) é considerado livre. Trata-se de uma lição importante e até mesmo inadvertida: de facto, a corrupção e a má governação encontram-se generalizadas, sendo mesmo omnipresentes a nível do continente, e o Ocidente alinha alegremente na jogada com todos esses governos”.
Caplan conclui a sua análise do discurso efectuado pelo presidente dos Estados Unidos perante o Parlamento do Gana, afirmando que “a obsessão de Obama sobre a má governação não é errada. Eu partilho-a por completo. Durante décadas, os africanos foram traídos por um verdadeiro espectáculo de líderes monstruosos, cada um deles mais famoso do que os restantes. Mas uma outra verdade é que os Estados Unidos apoiaram activamente a maior parte deles, e se o não o fizeram, fê-lo a França. E isso faz parte da história do neocolonialismo. Mesmo hoje, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França continuam a estar ligados a um grande número de dirigentes africanos cujas credenciais democráticas deixam muito a desejar, tal como foi realçado na reunião dos G-
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 16.07.209