MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá Jeremias
Como estás tu, meu amigo? Eu e a minha família estamos bem, felizmente.
Sabes, Jeremias, que há quem diga que eu, nas minhas cartas, estou
sempre a dizer mal deste ou daquele, disto ou de aquilo.
A verdade é que ninguém, até agora, me disse que um artigo meu tinha
assuntos inventados e sem razão. Quem me critica fala sempre de forma geral e
nunca carta a carta. Quando descemos ao caso a caso ninguém consegue
convencer-me de que o problema não existe.
Em alguns, poucos, casos foram-me apontados erros de análise sobre o
problema em causa. E, nesses casos, tive todo o prazer em publicar emendas ou desmentidos.
Em todos os outros casos ninguém conseguiu abalar, de forma
convincente, a minha posição.
Tudo isto para servir de introdução a esta carta em que, por uma vez,
não tenciono criticar ninguém. Pelo contrário.
O tema já foi referido em vários órgãos de informação mas penso que
nunca é demais dar mais alguma força.
Estou-te a falar das importantíssimas descobertas que foram feitas por
equipas de cientistas, nacionais e estrangeiros, num local de que a esmagadora
maioria dos moçambicanos nunca tinha ouvido falar: o Monte Mabu.
Usando uma expressão popular, aquilo é lá no fim do mundo, atrás do sol
posto.
Mas, graças ao progresso das ciências, houve uns tantos fulanos que,
olhando para umas fotos de satélite, descobriram que havia, numa zona
desconhecida de um país quase desconhecido (o nosso,
Moçambique) uma zona totalmente desconhecida: o Monte Mabu.
E lá se juntaram cientistas britânicos, moçambicanos, malauianos,
tanzanianos e suíços para irem explorar o tal monte.
Lembras-te daquelas gravuras dos grandes exploradores europeus em
África, no século 19, em que iam os chefes da expedição à frente e uma longa
fila de carregadores atrás, levando as bagagens?
Pois deve ter sido semelhante. Atrás dos 28 cientistas e apoiantes
seguiam 70 carregadores.
A floresta tem cerca de
Isto quer dizer, se fosse uma área regular, uma floresta de 10 quilómetros de comprimento por oito de largura.
Não parece muito mas o que eles descobriram transformou o local numa
das zonas mais conhecidas do mundo.
Se tens acesso à internet vai ao Google e pesquisa um pouco. Vais
encontrar milhares de sites sobre este assunto.
E aqui temos uma das grandes “vantagens” do subdesenvolvimento.
À medida que a chamada civilização vai avançando, ela vai ocupando
áreas onde existiam, anteriormente, outras coisas. Como, por exemplo, lugares
como o Monte Mabu.
Só que as máquinas, inventadas e construídas nos países desenvolvidos,
que já destruíram, e tornaram áridos, milhares de outros Montes Mabu, em todo o
mundo, foram dando cabo de tudo, sem respeito e consideração por outra coisa
que não seja o lucro imediato de uns tantos figurões.
E nós, neste cantinho esquecido e inexplorado do globo (se é que os
globos têm cantos...), ainda vamos tendo o Monte Mabu e, se calhar, mais uma série
de outros locais idênticos, cheios de espécies animais e vegetais à espera de
uns fulanos, vestidos de caqui e com uma fila de carregadores atrás, que venham
descobrir que aquele camaleão, que sempre achámos tão engraçado, é uma raridade
mundial.
Mas, enfim, um dia vou voltar a falar-te de outros Montes Mabu, bem
mais perto de nós, onde encontramos camaleões de turbante, borboletas
esvoaçando de partido em partido, e elefantes políticos que vão devastando, no
seu avanço, uma série de outras espécies.
Coisa complicada, a ecologia (política)...
Um abraço para ti do
Machado
da Graça