Canal de Opinião
por Noé Nhatumbo
Quando elementos que claramente não reúnem possibilidades de se fazer eleger pelas mais diversas razões mas que insistem em concorrer nos pleitos eleitorais, estamos perante um fenómeno político de auto-destruição ou de cumprimento de agendas específicas e alienantes. A dispersão dos votos evidentemente aproveitada pelos partidos mais bem inseridos no terreno, fortalecidos pelo acesso facilitado aos recursos do estado e aos do empresariado privado bem como das empresas públicas, torna a vitória dos mesmos em algo previsível. Afinal quando alguns porta-vozes de partidos conhecidos e com expressão nacional proclamam que vão vencer com uma margem folgada, confiam em alguma coisa concreta. Querem à custa dos recursos disponíveis, utilizados ilicitamente sob protecção de um sistema judicial que lhes é favorável, mostrar ao mundo uma repetição da vitória do MPLA em Angola.
Contra factos não argumentos.
Mesmo o líder do PDD parece satisfeito com a sua posição actual de chefe de um partido e sócio em alguns empreendimentos que vão dando para comer e ostentar uma áurea de liderança que em concreto pouco significa quando é a vez de equacionar as possibilidades de alcançar o poder real no país.
Poucos são os políticos que compreenderam a importância de deixar suas desinteligências de parte e optar por construir consensos que levem a formação de coligações de partidos viáveis e funcionais. Quando hipotéticos verdes ou ecologistas, que ninguém conhece na maioria dos círculos eleitorais, se colocam na oposição, a pergunta que fica a aguardar resposta é: efectivamente a quem servem?
Quando Jacob Sibindy se diz candidato à Ponta Vermelha, que significa isso em termos estratégicos?
Se dissermos que todo esse tipo de procedimento serve perfeitamente a agenda de “dividir para reinar”, atrapalhar os votantes moçambicanos, e movidos pelas mais diversas razões que se prendem com o seu umbigo, e algumas delas étnicas e outras puramente religiosas, não estaremos mentindo. A procura de “Trust Funds” para alimentar e garantir a subsistência básica tem levado muita gente a enveredar pela prática da política com objectivos estomacais.
Fazer política pressupõe preparação, estudo e uma estratégia consentânea com preceitos e objectivos.
Com um quadro tão complicado como este é possível compreender como é que aparecem políticos criando partidos políticos e pretendendo concorrer às eleições de maneira dividida e individual. São quase todos, é quase tudo, uma fantochada de pessoas que não possuem qualificações para fazer outra coisa e querem fazer como aqueles “pastores de igrejas” que abundam um pouco por todo o país. Estão unicamente preocupados com o “dízimo”!...
Está claro que democracia política faz-se com a existência de partidos políticos. Mas a proliferação de partidos políticos fragiliza a oposição e diminui as suas possibilidades de vencer. O surgimento de candidatos presidenciais sem bagagem nem recursos, sem apoiantes, nem eleitorado, só pode ser entendido como algo que é feito a coberto de agendas obscuras que só servem a perpetuação de alguém no poder. Fica cada vez mais claro que a estratégia definida visa fazer desaparecer a oposição ou impedir que surja uma oposição credível e com potencial de chegar ao poder por via das eleições.
Conjugar a proliferação de partidos políticos e candidatos à Ponta Vermelha com o surgimento de órgãos de comunicação social rotulados de independentes mas claramente alinhados e defendendo posições de quem detém o poder, deixa à mostra as teias ou linhas estratégicas dos que se querem perpetuar no poder.
Não deve ser por acaso que agora surgiu uma nova classe de bajuladores baseados em jornais que não se cansam de semana a semana em elogiar o chefe de Estado e sua esposa. Não é por acaso que se ataca sempre que possível, mesmo com títulos enganosos, os que se atrevem a criticar ou questionar a conduta seguida por quem governa.
Temos oportunidade de fazer a diferença tornando-nos adultos e responsáveis. Com o nosso voto ou direito de escolha podemos fazer a diferença e apontar quem queremos que governe Moçambique.
O facto de alguém ter desempenhado determinado papel aquando da luta de libertação nacional não é credencial suficiente para ocupar hoje posições no governo do país.
Só quem se quer fazer de cego é que por exemplo não consegue ver as contradições existentes entre as escolhas de candidatos a deputados por alguns partidos e a causa ou agenda nacional. Conhecidos depredadores das florestas nacionais, caçadores de terrenos e vendedores de terrenos conseguem eleger-se em eleições internas obscuras só porque tem o seu nome associado a algum activismo político ou participação na luta de libertação nacional. Gente que claramente não tem um passado limpo e que não resistiria a qualquer análise onde existem critérios de escolha que se cumprem, está preenchendo listas de candidatos em partidos.
Há uma grande confusão entre o que se quer e a maneira como se age.
Existe um grande perigo de se elegerem para as assembleias provinciais, Parlamento nacional, pessoas de calibre notoriamente duvidoso que continuarão a cavalgar o povo da mesma maneira como hoje se queixam que os outros fazem.
A inexistência de uma cultura de transparência, diálogo, proximidade entre os detentores de cargos partidários e os potenciais votantes, o culto de personalidade e a facilidade com que as pessoas “escovam” os chefes para obterem alguma posição de relevo na hierarquia, são preocupantes. Estamos perante uma tentativa de empoderamento seguindo as vias do nepotismo, compadrio e toda uma gama de métodos que não democratizam os partidos nem o país. Está tudo a correr para aproveitar enquanto a vaca ou a porca, que é povo, dormem, confiantes por ignorância que a sua escolha lhe vai servir.
É preciso acordar para a realidade pois esta difere muito do que muitos dos políticos nos dizem ou proclamam. (Noé Nhatumbo)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 09.07.2009