O ataque faz parte de uma campanha das tropas que vão de casa em casa nos arredores de Maiduguri em busca de Yusuf e seus seguidores.
Tropas do Exército da Nigéria invadiram hoje (30) uma mesquita do grupo radical islâmico Boko Haram, que quer impor a lei islâmica (sharia) em todo o país e que é acusado de incitar a violência que deixou centenas de mortos nesta semana. O ataque dos soldados contra a mesquita deixou ao menos cem militantes mortos no que as tropas descreveram como um violento combate.
O líder do Boko Haram, Mohammed Yusuf, escapou junto a outros 300 seguidores, mas seu vice foi morto no ataque, informou o comandante do Exército, general Saleh Maina.
O ataque faz parte de uma campanha das tropas que vão de casa em casa nos arredores de Maiduguri em busca de Yusuf e seus seguidores.
Não se sabe exatamente quantas pessoas morreram nos confrontos. A agência France Presse, que cita policiais e testemunhas, diz que o número passa de 600, desde domingo passado (26). A polícia afirma que a maioria das vítimas são militantes do grupo radical.
O confronto deixou ainda cerca de 4.000 refugiados no pais. Apollus Jediel, funcionário de ajuda humanitária nigeriano, afirma que cerca de mil pessoas abandonaram suas casas nesta quarta-feira, se reunindo a outros 3.000 que já deixaram suas casas nos quatro Estados afetados pela violência.
Os distúrbios se espalharam para os Estados de Bauchi, Kano, Yobe e Borno, cuja capital, Maiduguri, é o lar de Yusuf, e onde a violência foi maior.
Yusuf é radicalmente contra a educação em moldes ocidentais. Críticos dizem que ele açoitou alguns alunos, bem como analfabetos, jovens desempregados em acções contra os poderes constituídos ao longo de um período de anos.
Os locais dos distúrbios fazem parte da lista de 12 Estados nigerianos --de um total de 36-- que iniciaram o uso mais estrito da sharia em 2000 --uma decisão que isolou ainda mais a minoria cristã na região e iniciou uma onda de violência sectária que matou milhares de pessoas desde então.
Armados com facões, facas, espingardas artesanais e coquetéis molotov, seguidores de um pregador militante islâmico atacaram igrejas, delegacias, prisões e prédios governamentais nos últimos dias. A violência explodiu quando alguns membros do Boko Haram foram detidos no domingo no Estado de Bauchi.
"Nós não acreditamos na educação ocidental. Ela corrompe as nossas ideias e convicções. É por isso que nos levantamos para defender a nossa religião", disse um membro veterano do grupo, Abdulmuni Mohammed Ibrahim, à agência Reuters nesta segunda-feira (27), após a sua detenção, no Estado de Kano.
Praticamente metade da Nigéria é cristã e metade é muçulmana, apesar de religiões animistas tradicionais ainda permearem a fé de muitos dos nigerianos. Mais de 200 grupos étnicos vivem, em geral, em paz lado a lado no país mais populoso da África ocidental, apesar de uma guerra civil ter deixado um milhão de mortos entre 1967 e 1970. Houve alguns confrontos de ordem religiosa desde a guerra civil também.
Em novembro do ano passado, centenas de pessoas foram mortas em confrontos na cidade central de Jos depois que uma eleição contestada causou algumas das piores batalhas entre grupos muçulmanos e cristãos dos últimos anos.
Pobreza
Apesar de suspeitas de serviços de inteligência, não há provas conclusivas da presença da rede terrorista Al Qaeda na Nigéria ou de ligação dos grupos islâmicos do país com o grupo fundamentalista Taleban, do Afeganistão, e as aparentemente caóticas táticas do Boko Haram possuem pouco em comum com as aplicadas por grupos militantes islâmicos em outros países.
O país é regularmente abalado por violências de dimensão religiosa, mas analistas dizem que é a pobreza, e não as crenças que estão no centro da insurgência radical islâmica.
O país é o maior produtor de petróleo da África, mas a pobreza é disseminada e agravada por um governo marcado pela corrupção que não enfrenta com eficiência a multiplicidade de problemas que afligem a população.
O grupo islâmico que atua no norte da Nigéria não está ligado ao Mend (movimento pela emancipação do delta do Níger), o mais importante grupo rebelde da Nigéria, responsável por uma campanha de violência que tem como alvo a indústria petrolífera no sul do país.
AFRICA21 – 30.07.2009