Da Capital do Império
Por Jota Esse Erre
A próxima vez que um navio da marinha de guerra indiana atracar em “viagem de amizade” no Maputo ou na Beira será oportunidade talvez para se rever um estudo estratégico do Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos.
Titulado “Marine Corps Vision and Streategy 2025”, o estudo conclui que o Oceano Índico será a zona “central” de conflito e competição este século.
E é por isso que o estudo interessa a Moçambique porque como país ribeirinho do Índico, Maputo vai ter que tomar difíceis decisões entre os dois países – Índia e China - que vão competir cada vez mais pelos recursos naturais de Africa e Médio Oriente e pelas linhas de comunicação que atravessam o Indico.
O crescimento das necessidades energéticas dos dois países faz que com o garantir o fornecimento de petróleo e de outras fontes de energia, como o carvão, aumentem a necessidade de Nova Deli e Pequim terem que garantir a sua presença no Indico. Os acordos de Moçambique com companhias indianas para a exploração de carvão são bem exemplo disso.
A Índia tem vindo a estender a sua presença naval até ao Canal de Moçambique (daí as visita aos Maputo) , estabelecendo postos de escuta e de apoio em Madagáscar, Maurícias e Seychelles. A Índia está alargar a sua marinha, que já possui 155 navios de guerra, devendo acrescentar a essa frota três submarinos nucleares e três porta-aviões até 2015.
A China, claro, está a enfrentar o mesmo problema que a Índia. Uma economia em crescimento com necessidade de acesso a mercados de matérias primas e para os seus produtos. O acesso ao Oceano Indico e a segurança da sua frota são primordiais. Mais de 85 por cento do petróleo e produtos petrolíferos a caminho da China atravessam o Oceano Indico para depois passarem o Estreito de Malaca.
Zhang Ming, um analista naval chinês avisou recentemente que a Índia é o adversário estratégico de maior importância para a China, alertando para a possibilidade da Índia poder bloquear a entrada ao estreito de Malaca ( vital para a China) e para “o impacto” na China de uma crescente influência indiana no
Oceano Índico.
A China sabe também que os Estados Unidos e a Índia estão a fortalecer uma aliança estratégica cujo significado parece ter escapado a muitos. Washington e Nova Deli têm intensa cooperação em questões de informação e combate ao terrorismo, levam a cabo já exercícios militares e navais conjuntos de uma forma regular e iniciaram uma cooperação nuclear. Potências europeias estão a “acordar” agora para a importância da Índia no Índico (veja-se a presença de uma unidade militar indiana e do primeiro ministro indiano nas comemorações do Dia da Bastilha em Paris).
Para a China, os primeiros passos na “corrida ao Indico” estão a ser dados com a construção de uma base naval em Gwadar e um porto em Pasni, no Paquistão tradicional inimigo da Índia. Uma base de reabastecimento no sul do Sri Lanka (daí o apoio chinês ao governo de Colombo na guerra contra os Tamil); melhorias no porto de Chittagong no Bangladesh.
A China esta a acelerar o seu poderio naval prevendo em breve a construção de um porta-aviões e possuindo já entre 8 a 10 submarinos nucleares e 50 a 60 submarinos a diesel.
Analistas americanos vêm o papel dos Estados Unidos no Oceano Índico como o de limitar a expansão chinesa com apoio da Índia mas ao mesmo tempo incorporar a China em acordos internacionais e pontuais no que diz respeito ao Índico. O seu papel é o de evitar um vácuo, ser ao fim e ao cabo aquilo que os
Estados Unidos são actualmente na cena internacional: o país indispensável para garantir a estabilidade numa era de mudança do equilíbrio mundial geoestratégico.
Num futuro próximo as rivalidades no Oceano Indico vão começar a ter reflexos em países ribeirinhos do Índico como Moçambique. Mas bem administradas essas rivalidades poderão ser uma oportunidade que Maputo não deve perder.
SAVANA – 24.07.2009