Estão na sua recta final as negociações de Maputo para a formação de um novo governo
Segundo o correspondente da BBC para assuntos Internacionais, Adam Mynott, a União Africana, que começou por denunciar o golpe de Estado, está agora a liderar as negociações que manterão o líder golpista, Andry Rajoelina, no poder.
Para muitos observadores, este estado de coisas é indicativo da presente situação política e democrática em África.
Uma lição que emerge do continente africano - e que é reforçada pelas negociações que neste momento decorrem em Moçambique - é a de que o poder político legítimo pode ser adquirido, não importando a ilegitimidade do acto.
Em Março, Andry Rajoelina recorreu à força para tomar o poder em Madagáscar, depois de várias semanas de protestos de rua contra o presidente Marc Ravalomanana.
O golpe foi inicialmente condenado em todo o mundo, mas agora, com o apoio das Nações Unidas, a União Africana está a apoiar a presidência de Andry Rajoelina num acordo para a partilha do poder.
No ano passado, Robert Mugabe recusou ceder o poder no Zimbabwe apesar de ter sido claramente derrotado nas eleições presidenciais.
Ele recusou afastar-se e, com o apoio da SADC, continua na presidência.
Há 18 meses houve um desenvolvimento mais ou menos similar no Quénia. Depois de fraude eleitoral sistemática e generalizada, Mwai Kibaki manteve-se como presidente.
E, uma vez mais, o antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, apoiado pela União Africana, mediou um acordo para a partilha do poder, com Kibaki no palácio presidencial.
O seu rival, Raila Odinga, que muitos pensam ter vencido as eleições, ficou com o posto de primeiro-ministro.
Outras eleições realizadas recentemente no continente africano, como por exemplo as da África do Sul e do Gana, foram totalmente legítimas e justas.
Mas as alegações africanas de uma nova era de justiça e de democracia são invalidadas pelo número de líderes que mostram um desrespeito total pelas urnas de voto.
BBC – 27.08.2009