O LÍDER do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Deviz Simango, disse que, contrariamente ao que tem sido opinião de alguns círculos políticos segundo a qual não se pode dar o poder aos jovens, alegadamente porque irão vender o país a qualquer preço, a sua liderança descarta qualquer hipótese nesse sentido, estando somente comprometida com uma agenda política ao serviço do cidadão.
Falando sexta-feira aos membros do Parlamento Juvenil na primeira ronda do debate por este promovido com candidatos à Presidente da República, intitulado “juventude, eleições 2009 e a democracia em Moçambique”, Deviz Simango garantiu que o Movimento que dirige está preparado para governar e quer fazé-lo ao serviço do cidadão.
Afirmou que nunca praticará uma política de imposição nem de exclusão. Caso ganhe as eleições deste ano, pessoas estranhas ao Movimento serão nomeadas para dirigir os destinos do país, desde que sejam leais aos seus ideais.
No entanto, um jovem perguntou a Deviz Simango onde é que iria buscar dinheiro para executar as acções contidas no manifesto eleitoral do seu Movimento. Em resposta, afirmou que o dinheiro estava entre os moçambicanos.
“O dinheiro está entre nós. Temos que definir políticas de modo a que todas as receitas do Estado sejam encaminhadas ao próprio Estado. O país tem que gerar riqueza”, disse Deviz Mbepo Simango que revelou que já em 2003 (eleições autárquicas) o fizeram a mesma pergunta, tendo respondido nos mesmos termos.
O líder do MDM disse que é preciso educar aos cidadãos, lembrando-os sobre as suas obrigações. Defendeu que o Estado tem que estar presente em todos os cantos onde se pode gerar dinheiro.
Durante o debate, várias foram as questões colocadas ao líder do Movimento Democrático de Moçambique. Questões que comummente afligem a juventude, muitas das quais se arrastam de ano para ano.
Eduardo Lopes, um jovem estudante da Universidade Eduardo Mondlane e membro do Parlamento Juvenil quis saber de Deviz Simango, por exemplo, o lugar da juventude no processo de tomada de decisões na sua governação. Uma jovem cuja identidade não conseguimos apurar perguntou se o MDM concorda ou não com as passagens automáticas no ensino primário do primeiro grau e como pensa mudar o cenário em que uma turma chega a comportar mais de 75 alunos.
O jovem Sérgio Manuel, representante da Associação dos Deficientes do Ensino Técnico de Moçambique, quis saber a estratégia do Movimento para a inclusão da pessoa portadora de deficiência na educação. Sérgio Manuel disse que em todo o país existem 10 mil jovens com deficiência de natureza diversa. Muitos deles não conseguem empregar-se devido à sua condição física.
Disse que os transportes públicos não estão preparados para acolher os deficientes e no que diz respeito à habitação (refere-se ao Fundo de Fomento de Habitação) estes são os mais desfavorecidos.
Depois de fazer reparos a algumas linhas do manifesto, um outro jovem quis saber como é que Deviz Simango iria lidar com a situação dos filhos dos antigos combatentes que têm privilégio no acesso às universidades públicas, sem passarem por provas de admissão.
Também foi sugerido a Deviz Simango a possibilidade de consagração de referendo na Constituição da República sobre determinadas matérias consideradas não consensuais e a necessidade de garantir que os salários dos dirigentes, incluindo o próprio Presidente da República, sejam do conhecimento público, numa medida visando garantir a transparência na gestão da coisa pública.
Um outro jovem quis saber do presidente do MDM a estratégia para a geração de riqueza interna para diminuir a dependência externa.
O jovem deputado Manuel de Araújo afirmou que a candidatura de Deviz Simango representa a coragem da juventude perante os desafios do país. Sugeriu que caso ganhe as eleições, Deviz Simango deverá convocar uma conferência nacional da juventude. Quis, porém, saber a estratégia em volta do desemprego e para uma melhor distribuição da riqueza.
Deviz Simango também foi questionado sobre o meio ambiente e as mudanças climáticas e solicitado a emitir a sua opinião sobre os sete milhões de meticais.
Em resposta às questões colocadas especificamente sobre a juventude, o líder do MDM afirmou que na busca de soluções aos problemas dos jovens, é indispensável o diálogo com eles. Realçou que os jovens é que dirão o que é prioritário dentre as acções que devem ser levadas a cabo em prol da juventude.
Sobre a inclusão no processo de tomada de decisões, defendeu que não se pode tomar nenhuma decisão sem a presença dos jovens. Afirmou que, indispensavelmente, os jovens devem assumir responsabilidades governativas. Aliás, recordou que a despeito do receio ou medo de que os jovens podem vender o país, muitos deles já ganharam prémios internacionais dado o seu desempenho.
Sobre as passagens automáticas, defendeu que é preciso sentar e dialogar com os cidadãos para identificar as fraquezas e imediatamente agir para a sua correcção. O líder do MDM insistiu que é preciso dialogar com o povo, pois quem coloca os governantes no poder é o povo e este merece ser bem servido.
Para o candidato, as turmas não só estão superlotadas como aliás há alunos que estudam sem tecto. “Quanto custa um pajero e uma sala de aulas? O que é prioritário entre uma ambulância e um pajero?”, questionou Deviz Simango, para quem é preciso dar aos cidadãos uma educação de qualidade.
Aliás, o candidato recordou que é função do Estado garantir que o que está plasmado na Constituição para o bem dos cidadãos seja cumprido.
Sobre o meio ambiente e mudanças climáticas disse tratar-se dum assunto bastante sério que consta do programa do MDM. Disse que o Estado deve fazer grandes investimentos para o tratamento de resíduos sólidos, protecção da costa marítima e realização de outras acções em defesa do meio ambiente.
Sobre os jovens que não encontram emprego mesmo depois de formados, o candidato a inquilino da Ponta Vermelha pelo MDM afirmou que há que se trabalhar imenso para a criação de pequenas e médias empresas.
“Temos que trabalhar muito em pequenas e médias empresas. Temos que trabalhar muito em investimentos”, disse.
Sobre os filhos de antigos combatentes que têm privilégio no ingresso às universidades públicas, afirmou que esta prática deve ser revista. Disse, porém, que não defende a abolição de apoio ou assistência social aos combatentes, mas ela deve ser para todos os moçambicanos.
Deviz Simango também falou da obrigatoriedade dos dirigentes do Estado declararem os seus bens antes de assumirem os cargos para os quais foram eleitos ou nomeados. Segundo afirmou, todos os dirigentes, incluindo o Presidente da República, deverão depositar na Procuradoria Geral da República a declaração dos seus bens. E mais, nenhum governante deverá fazer negócio para consigo mesmo.
Sobre os sete milhões de meticais, afirmou que este fundo deve ser canalizado para o desenvolvimento e que a sua atribuição não deve ser com base em cores político-partidárias. O candidato disse mesmo que os sete milhões de meticais foram instituídos para dominar os cidadãos ante a impopularidade do regime.
DO MANIFESTO
Reza o manifesto do MDM que a juventude é a grande esperança de um Moçambique novo e para todos. Para o fortalecimento da juventude moçambicana, o Movimento liderado por Deviz Simango compromete-se a criar postos de trabalho, serviço de acção social escolar e destinar até um por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para custear o programa nacional de habitação para a juventude.
O MDM irá promover acções que estimulem o espírito empreendedor nos jovens de modo a envolverem-se em activamente nos processos de desenvolvimento do país, adquirindo e aplicando habilidades que os tornem cidadãos produtivos e desenvolvam as capacidades de gestão e liderança.
Compromete-se a criar o serviço de acção social escolar em todas as instituições públicas e/ou privadas do ensino superior de modo a assegurar a igualdade de acesso a este nível por parte dos estudantes carenciados, oferecendo maiores oportunidades de bolsas de estudo. Compromete-se ainda a administrar durante o Serviço Militar cursos profissionalizantes nos ramos militares e outros de modo a conferir aos jovens um sentido de maior oportunidade e utilidade, tanto na iniciação de formação profissional como em apoios de natureza social e outros da sua vida particular.
Serão ainda introduzidos programas de divulgação da importância de se frequentar o ensino médio, técnico-profissional e de artes e ofícios. O MDM compromete-se ainda a criar o sistema de crédito jovem habitação e condições favoráveis aos jovens para a aquisição de habitação própria, nas cidades, no campo e na periferia urbana.
Irá incentivar o associativismo juvenil como modelo de organização e espaço de desenvolvimento integral dos jovens, de aprendizagem de princípios e valores essenciais ao desenvolvimento de um espírito de sã convivência e de vivência democrática, constituindo um fórum de partilha de ideias e concretização das mesmas, na perspectiva de luta por uma democracia política, económica, social e cultural que vá de encontro à expectativa de todos os jovens.
A criação de um fundo de apoio ao associativismo juvenil, bem como estimular e promover o corpo de jovens voluntários em todas as regiões do país, centros da juventude e telecentros em todos os distritos, municípios e nas periferias das grandes cidades constituem ainda a aposta do Movimento.
Propõe-se, por outro lado, a criar pousadas da juventude para o fomento de intercâmbio e mobilidade juvenil entre as diferentes províncias e regiões do país, bem como o fomento de iniciativas visando a criação do emprego jovem. Instituir os campos de férias de carácter provincial, distrital e municipal, implementar o programa lazer e desporto na rua, bem como introduzir e massificar, em parceria com o sector privado, o programa cartão-jovem como instrumento privilegiado de promoção da mobilidade e intercâmbio juvenil entre as províncias, distritos e regiões e entre países da zona é outra aposta para a juventude na governação do Movimento Democrático de Moçambique.
DHLAKAMA NÃO COMPARECE
Fernando Mazanga garantiu aos jovens que Afonso Dhlakama haveria de estar com eles numa outra oportunidade para trocar ideias sobre que pensa da juventude. Disse que a Renamo poderia custear as despesas de organização desse encontro caso os patrocinadores do Parlamento Juvenil não fossem capazes.
Entretanto, o porta-voz da Renamo tentou dizer algo aos jovens, afirmando, por exemplo, que “precisamos duma juventude indagadora, que questiona, que não se conforma apenas com uma face da moeda”, ou que Afonso Dhlakama quer que os jovens tenham oportunidade de emprego e defende equilíbrio de género no acesso ao ensino.
Entretanto, o presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, disse que as eleições de 2009 devem ser ganhas por quem se entender com a juventude.