Por Jessica Siba-Siba Macuacua*
Tenho 14 anos. O meu irmão, o Walter, tem mais dois anos do que eu. Quando meu pai foi assassinado, eu tinha 6 anos. Ter 6 anos e idade para sermos crianças, para nos aninharmos no colo de um pai. Eu já tive esse pai, já tive esse colo, esse carinho.
A 11 de Agosto de 2001, roubaram-me tudo isso. Nesse dia, eu deixei de ser apenas uma menina. Passei a ser órfã. Minha mãe deixou de ser esposa feliz. Passou a ser viúva. A roupa dela escureceu e a alma dela também. Em redor da nossa mesa haverá para sempre um lugar vazio. Na nossa alma, há uma ferida que nunca mais para de sangrar.
Meu pai tinha 33 anos quando foi lançado para a morte. Os grandes chefes do meu pai, os grandes chefes de Moçambique apareceram no funeral. Todos me abraçaram e me dirigiram palavras de conforto. Fizeram promessas. E disseram que os culpados seriam conhecidos e punidos. Nunca aconteceu nada disso.
Disseram que fariam justiça doesse a quem doesse. Até aqui essa dor só pesa em mim, na minha família. A minha mãe diz que essa dor pesa em todos os que amam a verdade.
E a verdade é que nunca mais vi nenhum desses senhores que tantas promessas fizeram. Nem sequer nos dias de homenagem. Nunca mais apareceram. Ninguém. Eles esqueceram o abraço de conforto, esqueceram as promessas. Mas eu não esqueço. Como é possível esquecer? Algum de vocês esqueceria?
Há oito anos que me prometem fazer justiça. São mais anos de mentira do que aqueles que eu tinha quando mataram o meu pai. Agora que posso falar, eu quero dizer uma coisa, o crime que nos levou o nosso pai não foi cometido apenas naquele triste dia. Esse crime continua a ser cometido todos os dias. As falsas promessas, o fingimento que qualquer coisa esta a ser feito, essa falsidade esta ainda matando. Esta matando a minha crença na justiça. Nesta justiça que fica calada perante o sangue dos homens bons.
Não quero mais mentira. A minha voz e pouca e e pequena. Mas eu sei que há outras vozes, que há vozes de muita gente que ainda pergunta: onde esta a investigação? Ate quando os culpados estarão a solta?
Para isso, vos peco, meus titios, homens e mulheres do meu país: não deixem que esqueçam, não deixem que continuem assassinando o meu querido pai, não deixem que fique frio e esquecido o nome de António Siba-Siba Macuacua.
* Filha de António Siba-Siba assassinado há 8 anos na homenagem ontem ao jovem economista
A 11 de Agosto de 2001, António Siba Siba Macuacua, um jovem economista, Director da Supervisão Bancária no Banco de Moçambique, foi atirado fatalmente pelo vão das escadas do 10º andar do seu gabinete. Deixou mulher e dois filhos menores.
Siba Siba estava ao serviço do Estado numa missão espinhosa: sanear as contas do Banco Austral, um dos maiores bancos estatais que havia sido privatizado em 1997 para interesses malaios e locais. Foi indicado para dirigir o Banco Austral depois do Governo decidir retomar o controlo da instituição na sequência da sua quase falência devido a uma gestão danosa.
Marcelo Mosse in: http://oficinadesociologia.blogspot.com/2006/08/siba-siba-macuacua-cinco-anos-de.html
A História completa em 11 artigos
Moçambique on-line; metical nº 1073 de 17 de Setembro de 2001
Mais de 400 milhões de dólares desapareceram do sistema bancário na década de 90 em Moçambique. Carlos Cardoso