AS negociações entre o Governo provincial, representado pelas direcções provinciais do Trabalho e de Agricultura, autoridades administrativas distritais, comité sindical e a direcção da Companhia de Sena, continuavam até à tarde de ontem sem qualquer consenso que pudesse levar ao fim da greve iniciada domingo passado pelos sazonais, em reivindicação de bónus, cesta básica e melhorias salariais.
Entretanto até ontem, 60 dos 15.500 hectares de cana preparados para esta campanha haviam sido destruídos pelo fogo ateado intencionalmente pelos grevistas e prevalecia a possibilidade de se alastrar para mais áreas do canavial. Não obstante, a direcção da empresa considera que parte da cana queimada ainda poderá ser aproveitada para a produção do açúcar.
Um dos grevistas em Marromeu disse ao nosso jornal que a entidade patronal, além de oferecer salários baixos, tem feito muitos descontos, o que provocou a ira dos trabalhadores. Também está na origem da greve o facto dos sazonais não terem recebido em Julho último o kit de alimentação acordado com o patronato. Também apresentam como argumento para a paralização o facto de serem obrigados a trabalhar aos domingos sem a necessária compensação.
De acordo com as informações a que a reportagem da nossa delegação da Beira obteve junto de fontes locais da empresa, os directores provinciais do Trabalho e da Agricultura, Omar Jalilo e António Limbau, respectivamente, conseguiram travar a marcha de protesto dos sazonais na manhã de ontem, quando estes caminhavam em direcção à fabrica empunhando catanas e outros instrumentos contundentes.
Segundo aqueles dois responsáveis, o Governo conseguiu que a entidade patronal reconhecesse o pagamento dos bónus exigidos e da cesta básica, continuando, no entanto, a questão de melhoramento salarial por se resolver, o que amainou a fúria dos grevistas.
Quando da recente Presidência Aberta de Armando Guebuza ao distrito de Marromeu, os trabalhadores alertaram para o facto das suas actuais condições de trabalho não serem das melhores, o que estaria a afectar negativamente a sua prestação.
A Companhia de Sena está em processo de moenda desde finais de Maio que deverá terminar em Novembro com uma produção prevista de 62 mil toneladas de açúcar, provenientes dos 15.500 hectares de cana plantados, contra 15.000 hectares e 66 mil toneladas de açúcar alcançados na campanha anterior. A redução da produção deve-se a factores combinados de roubo da cana, seca, excesso de chuvas, entre outros.
- António Janeiro