Este livro da jornalista Leonor Figueiredo é um valioso documento para a História da entrega, sem honra, nem glória, nem dignidade, da província ultramarina portuguesa de Angola. Direi mesmo que, em sentido figurado, é uma Bíblia, porque a autora prova o que escreve. A autora faz uma viagem ao passado na procura do que terá acontecido a seu pai que residia em Luanda, desaparecido ainda na altura "Quando procurava elementos sobre o meu pai, desaparecido em Angola antes da independência, em 1975, descobri que mesmo tinha acontecido mais de 250 portugueses.". Ficheiros Secretos da descolonização de Angola é mais um testemunho da maior tragédia sofrida pela Pátria que "deu novos mundos ao Mundo. Mas é também um documento revelador de vilanias, traições, e covardias de muitos. É um grito angustiante e um brado de revolta. O Estado português e os seus agentes culpados uns, responsáveis outros, pela "descolonização", que eles próprios a crismaram de "exemplar", alijaram as suas culpas e responsabilidades para terceiros. Um acto de covardia. Esse Estado "descolonizador" que ainda não ressarciu as vítimas da "descolonização exemplar" (exemplarmente trágica). Outra vergonha. Outra injustiça. Outro crime. Leonor Figueiredo revela nesta sua obra as prisões de compatriotas nossos feitas por alguns militares portugueses que depois os entregavam ao MPLA. Muitos desses prisioneiros foram fuzilados pelo movimento liderado por Agostinho Neto, e todos eles agredidos física e torturados psicologicamente nas masmorras do MPLA. Ao ler Ficheiros Secretos da descolonização de Angola as lágrimas vieram-me aos olhos e senti repulsa pelos actos vergonhosos (leia-se criminosos) praticados ou consentidos por certos militares nas pessoas de compatriotas nossos, na então ainda terra portuguesa de Angola. Como foi possível aos governantes, aos políticos, aos militares do MFA, aos "descolonizadores" e ao presidente da República de então terem abandonado portugueses nas cadeias angolanas, alguns dos quais foram fuzilados, sem que até hoje tivessem respondido perante a Justiça por essa omissão do dever de que estavam incumbidos ? Parabéns Leonor Figueiredo. Prossiga, pois acaba de prestar um valioso contributo para a reposição da verdade sobre um crime contra a Humanidade. Adulcino Silva – Jornalista (Lisboa, 24/08/2009)