SAVANA NO INFORMAL
Por Fernando Manuel
Em meados dos anos 90 perdi um grande amigo: o Basílio Cossa.
Foi com ele, o Joel Libombo - que muito mais tarde foi nomeado ministro da Juventude e Desportos…
Foi com ele, dizia eu, que nos anos 70 tirei o curso de monitor de Educação Física para dar aulas nas Unidades multi-facéticas dos subúrbios de Lourenço Marques, com ginásios completos - barra fixa, piscinas, rampas, pistas de corridas em areia compactada - uma utopia feita sonho com o pensamento do Professor Noronha Feio, com a vontade do Carlos Abreu - que, aos 47 anos de idade, ainda dava 77 flicks atrás e à frente, saltos mortais e ainda, mesmo assim, aceitava uma cerveja preta no Djambu - a graciosidade do Mussá Tembe e do Lázaro Sengo, as pernas de agilidade de égua da dançarina de marrabenta nos palcos do Folclore, tínhamos vinte e tal anos e ela chama-se MUCHINA: beleza de mulher, de pele clara, olhos que lembravam as ondas do Índico, de onde eram oriundos os seus tataravós: Ilhas Maurícias, Madagáscar, Maldivas, Reunião, Zanzibar, Comores, wethever…
1970, pour cause, eu tinha 19 anos, de manhã ia às aulas, no Liceu Salazar, sétimo ano, apanhava o 19, descia à frente da Estação de Serviço Fórmula 1, à boca da Mafalala, ia em passo de corrida para casa, deixava os livros, ia em passo de corrida para o Alto-Maé – sapataria Bota Alta – apanhar a carreira 16 e ir para o bairro de Sinhambanine, dava aulas até às 05H30 da tarde, namorava com a Terezinha até apanhar o 27, que vinha do Infulene para o Museu, bebia uma catembe com o Abel Dabula no Campanêra e ouvia a voz desse insigne locutor que dava pelo nome de Samuel Dabula.
HAVIA CHEIAS.
E havia papagaios em Agosto.
E havia namoradas nos becos escuros do Chamanculo, Mafalala, Xipamanine, e baldes de fezes vazados à noite por trabalhadores do Mbongolwei, Choupal, noites dançadas no Clube dos Engraxadores, no Benfica, as jogatanas de futebol nos areais, os mdinga-kântxa na varanda dos intervalos da escola primária do bairro Popular da Munhuana, os vinhos roubados ao padre Martins, as hóstias usadas como petisco, as tardes dançantes com os MONSTROS, os DELTAS, os TOOKADOORS.
E HAVIA CHEIAS: E ÍAMOS ver filmes de Fernando Arrabal – “Irei como Um Cavalo Louco“ – o “Jesus Christ Superstar”, no Manuel Rodrigues, o “Dingaka”, no cinema Império, o “Cada Bala Tem um Nome”, no Olímpia, com Peter Lee Lawrence, palco onde vi pela primeira vez o Humberto Benfica em palco: Wazimbo, anos 70!
E HAVIA CHEIAS na baixa da cidade de Lourenço Marques, com carros e contentores e prédios afundados.
E O CENÁRIO CONTINUA ATÉ HOJE, apesar de o Joaquim Chissano continuar com aquele seu ar seráfico e o Pascoal Mocumbi andar de “sun glasses…”
…E O ROGÉRIO DINIS (vulgo Mc Roger) a fingir que não nasceu na Inhaca, e que pâta-ti-pâta-tâ…
CADA UM SABE com que linha é que se cose.
Ou, como diz o meu sogro, padrasto da minha mulher: “filho que maltrata um pai merece o fogo do inferno. Agora: filho que maltrata uma mãe deve penar as penas do inferno com um penacho de fogo no ânus, por toda a eternidade”.
Não é, Mc?
Na foto que fecha esta série está o bom do MC e Nelson Nhachungue, de colar, um jovem revelação do Famashow.
O resto são b(g)ravatas!
SAVANA – 21.08.2009