Maurícias pretendem adquirir 20 000 hectares em Moçambique

PARA ALIVIAR A PRESSÃO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR NAS ILHAS

➢ Moçambique possui cerca de 36 milhões de hectares (ha) de terra arável, dos quais apenas explora perto de 10%

➢ 80% da população economicamente activa estão ligados à produção agrária, e cerca de 70% vivem em condições de extrema pobreza

As Maurícias tencionam se aproximar das autoridades moçambicanas para negociar a “compra” de pelo menos 20 000 hectares de terra agrícola em Moçambique para a produção de alimentos por forma a aliviar as crescentes preocupações de segurança alimentar naquela ilha do Índico altamente dependente das importações.

Nas avaliações do ministro dos Negócios Estrangeiros das Maurícias, Arvin Boolell, citado pela agência de notícias Reuters, o sucesso desse plano constituiria “um trampolim para projectos similares noutras partes do continente”.

Boolell recordou que o seu país já está a explorar 5000 hectaresno Centro de Moçambique e já recebeu outros 10 000 hectaresem Marracuene, próximo da cidade de Maputo, estando agora a negociar mais cinco, para atingir o objectivo daquele país insular com 2040 quilómetrosquadrados e uma população estimada em aproximadamente 1,3 milhão de habitantes.

Segundo a fonte, o Governo de Port Louis reservou 31,75 milhões de dólares para um fundo de segurança alimentar no seu orçamento de 2008/2009, para além de possuir planos de subalugar as terras aos investidores.

A Vita Grain Ltd, uma firma de Singapura registada nas Maurícias que está a desenvolver variedades de arroz híbrido na ilha, submeteu uma proposta de 43,5 milhões de dólares que podem ser usados para a concretização dos planos de aquisição de pelo menos 10 000 hectares de terreno agrícola.

Por seu turno, o grupo Ning, com sede na Suazilândia, também mostrou interesse em participar nessa operação, ainda segundo Boolell.

A aquisição de terra arável por países com fracas potencialidades agrícolas está a se tornar uma prática corrente.

Estados do Golfo, por exemplo, compraram terras agrícolas nos últimos anos no Sudão, o maior recebedor da ajuda do Programa das Nações Unidas para a Alimentação.

As Nações Unidas exprimiram preocupação pelo facto dos direitos dos agricultores nos países mais pobres estarem a ser comprometidos.

Potencialidades

Moçambique possui condições naturais para a longo prazo desenvolver um sector agrário diversificado e dinâmico, a saber:

- perto de 800 mil quilómetros quadrados, com uma fronteira terrestre de 4330 km

e uma extensão da costa de 2400 km;

- cerca de 36 milhões de hectares (ha) de terra arável, dos quais menos de 10% são cultivados;

- 3,3 milhões de hectares irrigáveis, dos quais somente cerca de 50 000 (0,13%) são actualmente irrigados;

- cerca de 78% da superfície do país são ocupados por florestas e a área coberta de floresta potencialmente produtiva contendo espécies de valor comercial é de cerca de 20 milhões de hectares. Esta área corresponde a cerca de 24% da superfície total do país;

- cerca de nove milhões de hectares de parques nacionais e áreas de reservas de fauna bravia.

Das 104 bacias hidrográficas existentes, 15 são particularmente importantes e 9 destas são secções terminais de rios internacionais. O escoamento médio anual é estimado em 216 milhões de m3 de água, dos quais apenas 100 milhões têm origem em chuvas que ocorrem em Moçambique.

Estimativas fiáveis indicam que aproximadamente 80% da população economicamente activa estão ligados à produção agrária, e cerca de 70% vivem em condições de extrema pobreza, que o actual Governo de Armando Guebuza diz estar a fazer tudo para a sua redução/eliminação.

CORREIO DA MANHÃ – 19.08.2009

NOTA:

Salvo melhor opinião, Moçambique não tem que ceder terrenos a países terceiros, para que estes os subaluguem a outros. Moçambique tem é que produzir, através de empresários nacionais ou estrangeiros, para consumo interno e para exportar para quem precisa.

Fernando Gil

MACUA DE MOÇAMBIQUE