Timor Leste assinalou ontem os 10 anos do início da conquista da independência.
As celebrações de uma década decorrida desde o fim dos 25 anos de ocupação indonésia culminaram num grande espectáculo de música na capital, Dili, com a presença dos principais figuras políticas nacionais, do movimento de libertação e de personalidades estrangeiras, como o ministro dos negócios estrangeiros indonésio Hassan Wirajuda.
Outra personalidade presente foi o actual alto comissário da ONU para os refugiados António Guterres, que em 1999 por altura do sangrento referendo sobre a independência era o primeiro ministro de Portugal:
"São emoções muito fortes. O referendo correspondeu porventura à fase mais difícil do exercício das minhas funções como primeiro ministro. Foram dias terríveis antes, e sobretudo, foram dias terríveis depois do referendo", lembro Guterres.
Apoios
António Guterres, juntamente com o actual presidente da assembleia portuguesa e ex-ministro dos negócios estrangeiros Jaime Gama, foi elogiado em Dili pelo presidente timorense e nobel da paz, José Ramos Horta, que agradeceu ainda o apoio prestado a Timor na luta pela independência:
"Com determinação, coragem e dignidade Portugal desafiou os países seus amigos e aliados à causa de Timor Leste".
"Ter-se-ia desvanecido da agenda das Nações Unidas se não fosse a corajosa postura de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe", afirmou o presidente seguido de fortes aplausos.
No balanço que fez em entrevista à rádio portuguesa Antena 1, Ramos Horta disse que os últimos 10 anos tinham sido positivos, política e económicamente, e que apesar das coisas puderem ter corrido melhor, se está "a aprender com os erros".
"Timor Leste está em paz, (...) em grande crescimento económico. Portanto, eu penso que o balanço, 10 anos após o referendo, é francamente positivo", disse.
Olhar para a frente
Nas cerimónias de ontem à noite José Ramos Horta pediu que se observasse um minuto de silêncio em memória daqueles que morreram no movimento de libertação da Indonésia.
Segundo o presidente timorense é tempo para deixar o passado de lado e pensar no futuro.
Mas com um crescimento económico a rondar os 12,5 no ano passado, Timor Leste foi apenas ultrapassado pela China a nível global.
Para António Guterres, Timor Leste tem tudo para ser um país bem sucedido:
"Todos temos esperança que depois desta primeira fase, e também com os recursos que felizmente, e graças à descoberta de petróleo, Timor pode contar para o futuro e penso que há todas as condições para encarar com optimismo os anos que aí vêm", concluíu Guterres.
Esquecer é difícil
Esquecer o passado é contudo algo ainda difícil de compreender para muitos timorenses que exigem que seja feita justiça pelos crimes cometidos pelas forças indonésias.
Muitos são os que ainda se recordam da onda de violência provocada pelas milícias pró-indonésia que em 1999 tentaram perturbar o referendo sobre a independência daquela ilha.
Mas trazer os responsáveis à justiça pode provar-se uma tarefa difícil.
Com o estreitar de relações entre Timor Leste e a Indonésia, qualquer exigência timorense para que se julguem os culpados dos crimes cometidos no seu território poderá causar embaraço e colocar entraves nas relações com o vizinho mais próximo.
BBC - 31.08.2009