Nos últimos meses registou-se, em África, um grande aumento no número de elefantes abatidos por caçadores furtivos.
Num parque nacional no Quénia 19 elefantes foram mortos e 44 feridos - dados que não se registavam desde os anos 80, quando as autoridades quenianas lançaram uma campanha para combater a caça ilegal do marfim.
Por outro lado, a polícia em vários países está a apreender quantidades cada vez maiores de marfim traficado.
Historicamente, no Parque Nacional de Amboseli, no Quénia, os mil e quinhentos elefantes que habitam aquela área protegida sempre viveram sem ser incomodados pelos caçadores furtivos e pelos traficantes de marfim.
Mas, no ano passado, isso mudou. Os elefantes começaram a ser abatidos.
Há também muitos elefantes envenenados ou feridos com tiros e com lanças.
Não se tratam de actos esporádicos mas sim de operações internacionais ligadas ao tráfico ilegal de marfim.
Julius Kipng'etich, o director do Serviço de Vida Selvagem do Quénia, aponta o dedo à China.
"O problema no Quénia é o mercado interno que foi criado por cidadãos chineses que recebem da própria China pedidos de marfim africano. Noventa por cento de todo o marfim que interceptámos nos nossos aeroportos ou em trânsito de países vizinhos estava a ser transportado por chineses."
Crime organizado
Apesar de as autoridades quenianas poderem prender alguns traficantes, são as actividades do crime organizado - especialmente na Ásia Oriental - que mostram a verdadeira escala do problema.
Peter Younger, da unidade da Interpol de combate ao crime contra a vida selvagem, diz que a situação começa a tornar-se alarmante.
"Em Maio deste ano apreendemos 6,3 toneladas de presas de marfim no Vietname. Cerca de duas semanas mais tarde apreendemos 3 toneladas e meia de marfim nas Filipinas e uma tonelada na Tailândia. Portanto, ao todo, apreendemos cerca de 12 toneladas de presas de marfim num período de seis semanas este ano."
Por outras palavras, isso representa mais de dois mil elefantes mortos.
No Centro de Biologia de Conservação, na Universidade de Washington, na cidade norte-americana de Seattle, Sam Wasser desenvolveu técnicas de ADN para se descobrir a área de origem do marfim.
Ele compara os dados genéticos de amostras de marfim confiscado a amostras de excrementos de elefantes de áreas conhecidas de África.
"Pela primeira vez, isso permitiu-nos dizer de onde, em África, vinha uma presa específica de marfim," disse Wasser.
O laboratório ajudou a Interpol a identificar as origens de um carregamento de marfim embarcado nos Camarões e confiscado
Tentáculos longos
Peter Younger diz que a operação de tráfico era extremamente bem organizada.
"Tratava-se de uma família de Taiwan que tinha um negócio na cidade camaronesa de Douala e que importava pneus usados do Sudeste Asiático e exportava madeiras. Eles usavam três contentores com fundo falso onde carregavam até três toneladas de marfim. Depois carregavam a madeira e exportavam."
Ofir Drori, da LAGA, uma ONG que se dedica ao combate ao tráfico de animais selvagens, diz que os tentáculos do tráfico de marfim são muito longos.
"Esta operação de tráfico de marfim prolongou-se durante pelo menos dois anos e meio, com o envio para Hong Kong de pelo menos um contentor de dois em dois meses. Isso é incrível, e mostra o nível de criminalidade de que estamos a falar."
Na verdade, os testes de ADN mostraram que o marfim apreendido não era de elefantes dos Camarões mas sim do vizinho Gabão.
Mas Ofir Drori acha que lidar com os caçadores furtivos no terreno é apenas parte da solução.
"Na conservação animal, a linguagem continua a ser sobre caçadores furtivos. Mas esta é uma operação que é controlada por sindicatos do crime. É muito mais difícil chegar aos grandes criminosos, que podem fazer milhões de dólares com as suas negociatas. Não basta que lidemos com os caçadores que estão nas florestas."
No Parque Nacional de Amboseli, no Quénia, durante a época seca do ano a maior parte dos elefantes emigra para fora do parque.
A pesquisadora Soila Sayialel admite ter alguns receios em relação ao número de elefantes que não regressará.
"Quando todos os elefantes regressarem, se chover em Novembro, será triste vermos quem sobrou. Nunca será novamente a mesma coisa."
BBC – 20.08.2009