Usando meios do Estado
Milhares de t-shirts, capulanas e bonés, com mensagens de apoio ao candidato da Frelimo, Armando Guebuza, foram produzidos e distribuídos pelos membros da Frelimo que se fizeram à praça dos heróis, na cidade de Maputo, nas cerimónias centrais da celebração do dia da vitória.
Ao nível do distrito municipal número 1, da cidade de Maputo, a festa de arromba do “lançamento ilícito” da campanha da Frelimo teve lugar na Escola Secundária da Polana, onde foram usadas instalações e viaturas da mesma escola – do Estado – para a campanha do partido no poder.
Moçambique assinalou esta segunda-feira, a passagem dos 35 anos da Assinatura dos Acordos de Lusaka, efeméride que marcou o reconhecimento formal pela parte da administração colonial portuguesa, do direito à independência ao povo moçambicano. Tal como vem acontecendo em outras datas festivas nacionais, a celebração dos 35 anos dos Acordos de Lusaka foi transformada em autêntica festa do partido no poder, a Frelimo. E agora que estamos a escassos dias do início oficial da campanha eleitoral para as eleições gerais e das assembleias provinciais, a Frelimo aproveitou a data para ilicitamente lançar a campanha eleitoral, com o agravante de ter usado meios — móveis e imóveis – do Estado.
O discurso oficial proferido nas cerimónias centrais, pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulémbwè, em representação do chefe do Estado que estava ausente do País, foi essencialmente de propaganda do partido Frelimo, do qual ele é membro da comissão política.
Longe de se falar da data, e enaltecer o papel da chamada «Geração do 7 de Setembro», o discurso oficial andou à volta dos feitos da Frelimo como partido, e também das realizações do seu líder, que é também presidente da República e a 28 de Outubro concorre para tentar a sua própria sucessão.
Mulémbwè repetiu as estatísticas da proeza conseguida no combate à pobreza. Disse que a pobreza está a reduzir em níveis satisfatórios, e apresenta os mesmos dados que vem sendo propalados pelo governo do seu partido, desde o início do presente ano. “ No período anterior a 2000, mais de 70% da população moçambicana vivia abaixo da linha da pobreza. De 2001 para 2003 a percentagem baixou para cerca de 54%. E agora, ao fim deste mandato, com a liderança do nosso presidente Armando Guebuza, a perspectiva é de que o nível da pobreza baixe para 45 %” da população moçambicana.
Hama-Thai no mesmo diapasão, mas com reticências
O actual deputado da Frelimo, general na reserva e antigo ministro para os Assuntos dos Antigos Combatentes, António Hama-Thai, também foi pelo mesmo diapasão, mas com reticências. Comentando sobre a importância da data, o Tenente General na reserva, que foi ministro no governo de Guebuza, disse que “valeu a pena a luta de libertação nacional contra o colonialismo português”.
“Foi uma luta vitoriosa. Nasceu uma pátria onde todos sonhávamos, onde todos estamos empenhados no combate à pobreza, mas mais do que isso, o maior benefício desta data, é a educação e a saúde”.
“De zero médicos em 1975, hoje temos 600; de 650 mil alunos, hoje temos, 5 milhões de alunos, e já temos também tantos doutores que até então não tínhamos”.
Dicotomia pobreza-riqueza entre os antigos combatentes
Sobre a situação dos antigos combatentes da luta de libertação nacional, em que apenas um punhado deles encontra-se a desfrutar do bom e do melhor enquanto a maioria vive na extrema pobreza, o antigo ministro para os Assuntos do Antigos Combatentes, Hama Thai, disse “Não estou na posição de dar resposta concreta sobre o que está sendo feito. Naquele período havia programas de reposta aos anseios deles, agora não sei se está a ser implementado ou não”.
Ideias da Frelimo em 1974
Sobre os ideais que norteavam a Frelimo aquando da assinatura dos Acordos de Lusaka, em 1974, Hama Thai disse que de acordo com os estatutos do primeiro congresso da FRELIMO, ainda liderado por Eduardo Mondlane, e coadjuvado por Uria Simango, pai do actual candidato à presidência da República Daviz Simango, estava na agenda a “conquista da independência total e completa de Moçambique, a construção de uma nação próspera, com uma economia desenvolvida e próspera, a erradicação da pobreza”.
Sobre se esses ideais foram alcançados ao longo dos 34 anos que a Frelimo está no poder, Hama Thai foi reticente ao responder. “A conquista destes ideais será alcançada de geração em geração, se formos a ver, ainda não temos a indústria pesada no país, o acesso aos distritos ainda não está facilitada, ainda não temos estradas”, disse o general alegando que estamos a caminhar para isso, mas ainda há longos caminhos por percorrer.
Uso de meios de Estado
As comemorações da Frelimo foram feitas com recursos a meios do Estado, com maior destaque para as viaturas.
Muitas viaturas em desfilavam os membros da Frelimo, não foi possível identificar a que instituições públicas pertencem, mas houve alguma em que isso foi possível.
É o exemplo da carrinha da Escola Secundária da Polana, com chapa de inscrição MMJ – 57 – 44, que transportavam membros da Frelimo com dísticos de apoio ao candidato deste partido, Armando Guebuza. A viatura não estava ao serviço da Escola. Estava ao serviço do partido Frelimo.
E foi também, nesta escola, que os membros da Frelimo, ao nível do Distrito Municipal número 1, foram-se concentrar para continuarem com as festividades. A lei impede a realização de campanhas eleitorais em recintos públicos, como escolas, mas ontem assistiu-se na referida escola a uma autêntica manifestação política de apoio ao partido Frelimo. Não se viu qualquer autoridade competente a impor o cumprimento da lei.
Oposição presente
Alguns partidos da oposição fizeram-se presentes nas celebrações centrais do 7 de Setembro. É o caso do MDM que foi representado pelo seu delegado na cidade de
Estratégia de combate à pobreza falhou
O PIMO foi representado pelo seu presidente, Yaqub Sibindy. À nossa reportagem disse que o dia da vitória é este ano celebrado numa altura em que o País vive uma situação crítica de exclusão sócio-económica e política.
“A pobreza continua o grande problema que o País atravessa neste momento e é marcada pelas assimetrias existentes entre as cidade e o campo”.
Sobre o combate à pobreza, Sibindy diz que “a estratégia montada pelo governo de Armando Guebuza, falhou miseravelmente, apesar do mesmo não reconhecer tal facto”.
“Essa estratégia de luta contra pobreza absoluta falhou no espírito e na prática”. O combate à pobreza absoluta não se faz num ambiente de exclusão, mas, sim, envolvente, pois o que verifica-se neste momento é que os moçambicanos que podem contribuir para o desenvolvimento do País, estão sendo preteridos a favor de outros, escolhidos com base nas afinidades partidárias”, disse o presidente do PIMO que era tido como grande aliado da Frelimo e ultimamente, afastado de todas as corridas eleitorais, ele e o seu partido PIMO, tem tido ultimamente um novo discurso.
A Renamo, tal
Em Tete e Inhambane
Lançamento da campanha da Frelimo atingiu as províncias
Tete e Inhambane (Canalmoz) - Em Tete, o 7 de Setembro também foi manchado pela transformação da data em lançamento da campanha eleitoral para a Frelimo, assim como pela ausência dos partidos da oposição nas festividades, nomeadamente, a Renamo, MDM e PDD.
Através do edil de Tete, César de Carvalho, a Frelimo transformou a data das festividades desta data de importância histórica para o País, em momento para lançar a campanha eleitoral, cujo início formal está marcado para 13 de Setembro, próximo.
“A Frelimo libertou o País e vai continuar rumo à erradicação da pobreza absoluta”, disse César de Carvalho no momento reservado aos discursos dos participantes nas celebrações das cerimónias provinciais do 7 de Setembro. E para não deixar dúvidas que estava a fazer campanha para a Frelimo, o presidente do município de Tete prosseguiu: “vamos todos de mãos dadas, sentimo-nos orgulhosos pela vitória esmagadora que conseguimos nas últimas eleições autárquicas”.
Por sua vez, o governador desta província, Idelfonso Muananthatha apelou a maior participação da população nas urnas, nas eleições de 28 de Outubro.
Renamo
Em contacto com o delegado da Renamo em Tete, José Bulaunde, pedimos-lhe que explicasse porque a Renamo não participa nas celebrações nacionais. Este disse: “Evitamos participar das cerimónias oficiais para não sermos confundidos com os comunistas. Nós somos democratas”.
A Renamo acusa ainda que a Frelimo de aproveitar estas ocasiões para fazer campanha. “É uma pouca vergonha. Nós não queremos ser confundidos com os comunistas”, referiu Bulaunde.
MDM
Já o delegado do MDM, Celestino Bento, referiu que o Governo não os convidou para as cerimónias. “Tentamos ir a Moatize e fomos proibidos de apresentar a nossa mensagem”, disse.
Província de Inhambane
Na província de Inhambane, tudo quanto se viu foi uma verdadeira festa da Frelimo. Alguns grupos culturais como Makariota, do Bairro da Liberdade III e os Zore, de Xamane, foram obrigados a vestir-se de camisetas da Frelimo.
O governador Itai Meque chegou ao local onde decorreu a cerimónia cerca das 8 horas. No lugar de saudar todos os presentes, dirigiu-se em especial aos membros do Comité Central da Frelimo, que já se encontram nesta província. Saudou, a seguir, os deputados da Frelimo, tudo isso numa clara discriminação dos moçambicanos não membros do partido Frelimo. Tal facto foi notado e comentado.
Depois da deposição da coroa de flores na praça dos heróis, falou das dificuldades que os moçambicanos enfrentavam antes da independência. Falou ainda da assinatura dos acordos de Lusaka, a 7 de Setembro de 1974.
Para não variar, bajulou o chefe do Estado e presidente do seu partido. “Para combater a pobreza temos que nos unir, seguir os passos indicados pelo nosso Presidente Guebuza”, referiu Itai Meque e prosseguiu repetindo slogans: “A vitória prepara-se, a vitória organiza-se”, disse citando Confucio que Mao Tse Tung tanto gostava também de parafrasear. Foi uma autêntica campanha eleitoral da Frelimo em dia de festividades nacionais. (José Mirione, em Tete, e Sara Pacule, em Inhambane)
Na cidade de Tete
Município impede actividades do MDM
Tete (Canalmoz) - O delegado político provincial do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Celestino Bento, em entrevista exclusiva ao Canalmoz, acusou o Conselho Municipal da Cidade de Tete de ter destruído o mastro e rasgado a sua bandeira e de ter vandalizado, no 31 de Agosto, a delegação provincial do seu partido, cita no bairro Matundo, arredores da cidade de Tete.
Segundo conta, naquela tarde de domingo, um grupo de fiscais do Conselho Municipal da cidade de Tete, a mando do presidente do município, César de Carvalho, dirigiram-se à delegação do partido, e destruíram o mastro e rasgaram a bandeia.
Para além destas acções, de “vandalismo”, Celestino bento disse que recentemente foram detidos três membros do seu partido no distrito de Moatize, incluindo o delegado político distrital, acusados de incitar a violência e perturbar a ordem pública, quando estes estavam a realizar a campanha de sensibilização para as pessoas votarem nas eleições de 28 de Outubro próximo.
Bento disse ainda que o município vem ameaçando o proprietário do imóvel que o MDM arrenda para desenvolver as suas actividades políticas, ou seja, a delegação provincial.
César Carvalho confirma as acusações
Em contacto telefónico com o correspondente do Canal de Moçambique em Tete, César de Carvalho, disse ter motivos fortes para a tomada da decisão de destruição do mastro e bandeira do MDM.
“A bandeira devia ter sido ateada naquele lugar com a minha autorização, como presidente do município. Recebi o pedido nesse sentido, há 30 dias e não autorizei porque a localização das instalações da sede do MDM periga a vida dos munícipes, pelo facto de estar erguida a cerca de
Acrescentou ainda que o local onde está erguida a sede do MDM, é uma “área da responsabilidade da Administração Nacional de Estradas, em que não é permitida a instalação de nenhuma delegação política, devido às multidões que teremos no período da campanha”.
Entretanto, nega a destruição
“Não destruímos o mastro e nem rasgamos a bandeira, simplesmente recolhemos e avisamos que quando conseguirem outras instalações, num espaço aconselhável, vamos entregar o material deles, sem complicações”, disse, justificando que tomou esta atitude para “evitar os acidentes dos munícipes”. (José Mirione, em Tete)
CANALMOZ – 08.09.2009