O governo francês admite levantar o segredo de Estado sobre o tráfico de armas para Angola nos anos 1990, exigida pelo ex-ministro Charles Pasqua, condenado por envolvimento no processo "Angolagate".
"O levantamento do segredo de Estado não é uma competência do presidente da República. Se um pedido for formulado no quadro das necessidades judiciais, o ministro competente irá examiná-lo nesse momento", afirmou o porta-voz do governo, Luc Chatel, confrontado com a exigência de Pasqua, que garante que os principais responsáveis políticos à época tinham conhecimento da rede. "O presidente da República estava ao corrente do negócio de venda de armas para Angola, o primeiro-ministro estava ao corrente, a maioria dos ministros também (...) acredito que chegou o momento de pôr todas as coisas a nú", afirmou hoje Pasqua à televisão francesa, depois de ser conhecida a sua sentença de um ano de prisão efectiva.
Diversos deputados socialistas, como Jean-Christophe Cambadélis, Arnaud Montebourg e Manuel Valls, lançaram hoje uma petição para apoiar o pedido de levantamento de sigilo.
"Exijo ao presidente da República que levante o segredo de Estado sobre todas as vendas de armas, sobre todas estas operações que foram feitas no estrangeiro para que se saiba se houve comissões pagas em França e quem beneficiou delas", adiantou ao Canal Plus o ex-ministro do Interior e senador.
A abertura do processo, referiu, "faria tremer um certo número de personalidades da República". Pasqua referiu que Arcadi Gaydamak, negociante israelita de origem russa, condenado a seis anos de prisão, era um agente dos serviços de contra-espionagem franceses (DST).
"O director da DST declarou-o em tribunal; ninguém teve esse facto em conta", afirma.
Seis anos de prisão foi a sentença para outro negociante de armas, Pierre Falcone, que tem estatuto de diplomata angolano por ter representado este país na UNESCO.
Entre os condenados está também o filho do ex-presidente François Miterrand, com uma pena de dois anos de prisão.
O objectivo da rede era assegurar o aprovisionamento de armas pelo regime de José Eduardo dos Santos durante a guerra civil contra a UNITA.
LUSA – 29.10.2009