Com mais este caso de corrupção, no montante de 1.600.000 dólares americanos, proveniente de ajuda japonesa, são já inúmeras as notícias de escândalos financeiros com o envolvimento directo de importantes figuras políticas do país e escassas, ou mesmo nulas, as medidas políticas concretas de criação de emprego e redução da pobreza.
As notícias de continuados actos de escândalos financeiros, num pequeno e pobre país, não deixa de ser angustiante para quem as ouve e sente-se impotente para contribuir para a inversão desta calamitosa e vergonhosa situação.
Os escândalos financeiros com a participação directa de certos políticos são-tomenses parecem uma moda que vai dominando o quotidiano da sociedade multipartidária. Impõe-se, pois, uma reflexão sobre esta prática que asfixia o desenvolvimento sustentável de S. Tomé e Príncipe e remete-o para uma condição miserabilista à escala mundial.
Um pequeno e pobre país não pode dar-se ao luxo de continuar a se deixar espoliar por um punhado de indivíduos que se meteram na política cujo objectivo único é a destruição dos recursos de desenvolvimento, como se de uma praga daninha como a dos ratos se tratasse. Pois, tais práticas mergulham o país na desordem, subdesenvolvimento e miséria.
Políticos sem escrúpulos estão a prejudicar são-tomenses
Qualquer acto de corrupção, que desvia os recursos de actividades de desenvolvimento (nomeadamente para financiar infra-estruturas económicas e sociais e acções e actividades que visam reduzir a pobreza) para as mãos de políticos sem escrúpulos, prejudica os são-tomenses porque faz aumentar a pobreza, o desemprego, as doenças, reduz o crescimento económico, impede o país de ter melhores escolas, estradas e faz com que os salários sejam cada vez mais reduzidos.
Por outro lado, a imagem do país perante as instituições de crédito multilaterais, mormente o Banco Mundial e o FMI, e os doadores bilaterais (países ocidentais, Japão, EUA, etc.) fica gravemente manchada. Consequentemente, nas negociações com terceiros países e instituições internacionais, sobre interesses nacionais, somos encarados como corruptos, vulneráveis e desavergonhados, o que diminui drasticamente as possibilidades de acordos vantajosos para S. Tomé e Príncipe. Mais ainda, a imagem externa de um país corrupto leva a que os que podem ajudar-nos ajudam cada vez menos ou deixarão, definitivamente, de ajudar.
Dinheiro ou outros recursos delapidados pela prática de corrupção não criam emprego, empresas, não reduzem a pobreza, não dinamizam a economia e, por conseguinte, não aumentam a riqueza nacional. O dinheiro do roubo pela prática de corrupção aumenta isso sim a capacidade de consumo do corrupto.
Com base na análise precedente, pode, então, questionar-se o seguinte: por que razão as instituições políticas (partidos políticos, Assembleia Nacional, o governo, o poder judicial e a Presidência da República) e públicas (o aparelho judiciário, incluindo os Tribunais, as forças armadas, etc.) não decidem pôr cobro a esta calamidade?! ...
Por que razão não actuam?!... Por que razão elementos de um determinado partido pilha o país e os de outros partidos nada fazem para travar esta vergonhosa situação?!... Por que razão a Assembleia Nacional impede que os deputados indiciados em actos de corrupção sejam ouvidos pela Justiça?!... Por que razão os deputados da Assembleia Nacional insistem em serem olhados como os principais destruidores da Nação?!..Por que razão o Presidente da República se mantém calado?!....
A imagem dos honestos está em causa e onde estão os magistrados?
Por que razão alguns “políticos” (os corruptos) prejudicam a imagem de outros e estes se mantêm calados?!... Que interpretação fazem os magistrados do código penal e do código do processo penal quando há evidências de crime praticado por deputados?!. ..Por que razão os magistrados não actuam imediatamente sobre o criminoso ao invés de invocar sistematicamente o pedido de levantamento de imunidade parlamentar, quando é sabido, por dados históricos, que esse pedido é ineficaz?!.. .
Por que razão os magistrados não aplicam a máxima “NINGUÉM ES-TÁ ACIMA DA LEI” para deter e punir os corruptos?!. ..Por que razão a sociedade civil se mantém à margem de tudo isto?!... Ou estarão uns e outros interessados na destruição completa do país?!.... Afinal, o que é que amarra S. Tomé e Príncipe a tais práticas de uns poucos, ao atraso, à miséria e à fatalidade?! ...
Temos carácter ou não?!... Temos personalidade ou não?!.. Temos vergonha ou não?!...Até quando deixaremos de mendigar juntos de outros países, entre os quais nossos vizinhos, e adoptar uma atitude pró-activa para o desenvolvimento? !.. Onde é que está a nossa ambição de progresso, de sermos verdadeiros são-tomenses? !...
Armindo do Espírito Santo
(Economista - Professor Universitário)
O PARVO – 08.10.2009