A consciência plena da
nacionalidade que se tem, o orgulho inteligente de a ter, fundamentados ambos
no verdadeiro conhecimento da História e na apreciação imparcial das realidades
actuais; mais a preocupação sincera pelo futuro da Nação de que se é membro,
com o desejo de colaborar na elevação do seu nível econômico, social e
espiritual - tudo fundido na forma de uma personalidade vincada, que leva a
guardar ciosamente o direito de ter opinião e participação no que é nacional e
tudo realçado pelo amor à terra que é a nossa, a dos nossos antepassados e a
dos nossos filhos e pela veneração das memórias daqueles que se ilustraram, de
qualquer modo, ao serviço da Nação e ainda pelo respeito daqueles que
abnegadamente a servem hoje - tudo isso se chama patriotismo.
É um sentimento antigo, cuja origem se perde nos séculos e tem raízes na
própria natureza humana.
Não foi criada recentemente e não se manifesta por gritos, melindres
histéricos, escrúpulos despropositados e receios de invasão por forças
estrangeiras através de manifestações ligeiras e divertidas, de actividades
inconsequentes e de factos, frases ou escritos sem qualquer significado
especial.
Aí começa outro fenómeno e esse não tem nada a ver com o cérebro nem com o
coração. Só terá a ver alguma coisa com o cérebro, em certos casos e isso
mesmo, se considerarmos a esperteza uma qualidade intelectual. De resto,
explica-se pela ignorância, pela estupidez ou pelo desequilibro nervoso. É o
patrioteirismo.
Encontra-se muito nos sujeitos que se arvoram - eles próprios - em pais da
Pátria e que se sentem no dever de se ofenderem - por ele e pelos que julgam
indiferentes - como tudo quanto se esforçam por considerar grave e não tem
gravidade nenhuma. Indignam-se e pespegam lições de portuguesismo, sem cuidarem
primeiro de saber se quem as recebe delas precisa ou as pode ministrar. Falam
sempre na primeira pessoa. Porque eu, na minha qualidade de português, jamais
consenti, não consinto nem hei-de consentir que, diante de mim, etc. e tal.
Há também os que se afligem, no seu portuguesismo de alfarrábio, porque se
comparam em certos campos, realizações estrangeiras ou conquistas de outros
povos, como o que nós fazemos, com o que nós temos. E não curam de explicar ou
de justificar as diferenças, nem dão tempo a que o outro faça tal. Enfurecem-se
patrioteiramente e, envergando a armadura, enfiando o elmo e de lança em riste,
acometem o mouro, berrando sandices.
O patrioteiro - da família das sensitivas - dá-se muito bem em climas quentes.
Notícias da Tarde, Lourenço Marques, ano VI, nº. 1705, em 27 de Dezembro de
1957, p. 1 e 5 na Col. Mesa Redonda.
Hoje, a bandeira podemos
escolher...