De acordo com o declarante, Cambaza mandou pessoas com 50 mil meticais em notas faciais de mil meticais, para, segundo as suas palavras, agradecer a sua esposa pelo gesto, caso ela tivesse assinado. Com este novo e falso contrato, ao que explicou, o réu Cambaza pretendia anular o que celebrara com ele a 4 de Agosto de 2006, no qual emitiu um cheque de 25 mil dólares, justificando ser para despesas do Partido Frelimo, mas quando era para pagar 20 mil dólares e ficar com o remanescente.
Contando o que se teria passado, Joseldo Massango explicou que alguns dias depois de ter prestado declarações no tribunal, apareceu em sua casa uma senhora ao volante de uma viatura Mercedes-Benz, cor verde, que dizia ser parente de Cambaza e com recomendações para falar com a sua esposa. A mulher trazia um contrato manuscrito que era para a sua esposa assinar, mediante a gratificação de 50 mil meticais.
Ao que contou, no referido documento vinha como comprador Diodino Cambaza e vendedora Luísa Tivane, quando a sua esposa é Luísa Madjesse. Na altura, a senhora que se identificara como parente do réu simulou uma chamada e disse que era ele (Cambaza) a rogar para que a sua esposa assinasse o documento, o que não aconteceu.
Joseldo Massango disse ainda que, da segunda vez, quem foi à sua casa foi uma jovem num outro Mercedes-Benz, desta feita branco e com motorista, com o mesmo propósito. Também foi recusado o seu pedido, tendo o declarante dito que caso estivessem interessados eles tinham que se deslocar ao tribunal para resolver a questão, o que não foi aceite pelos mandatários do réu.
Numa acção de insistência, o declarante Massango disse que um terceiro grupo, composto por duas pessoas que se identificaram como funcionários do Ministério do Interior, um dos quais disse chamar-se Sambo, escalaram a sua casa com o intuito de ver a sua esposa a assinar o contrato, ganhando, com isso, 50 mil meticais, o que também não foi aceite.
Nas suas declarações, Massango disse que conheceu Cambaza no batelão, em Marracuene, onde lhe fora apresentado por um amigo de nome Manica, tendo o réu manifestado a intenção de adquirir um espaço naquela zona. O referido espaço, segundo ele, tinha um furo de água mecânico, mais de cem árvores de fruta e de fabrico de lenha, ao preço de 800 mil meticais.
Assim, Cambaza foi à sua casa pela primeira vez para fechar o negócio na companhia da sua esposa e de uma criança. Como ele não tinha todo valor, adiantou 20 mil dólares e ficou com uma parte do espaço, tendo prometido arranjar mais 300 mil meticais para ficar com tudo.
CHAUMA: O FINANCEIRO AFILHADO DE CAMBZA
Ernesto Chauma, ex-director financeiro da ADM, chamado, também, na qualidade de declarante, disse em sede de julgamento ser afilhado de casamento de Cambaza, e que neste momento está no processo de entrega de pastas porque foi afastado do cargo. Segundo ele, os pagamentos das obras de reabilitação da casa do ex-PCA, na cidade da Matola, foram por si efectuados, isto depois de lhe terem sido entregues as respectivas facturas pelo pelouro técnico.
Confirmou que mensalmente eram feitas despesas de rancho para os membros do Conselho de Administração, isto no “Vosso Supermercado” e “A Nossa Garrafeira”. Estes valores, segundo ele, saíam dos cofres da empresa.
O INSPECTOR QUE NÃO INSPECCIONA
Daniel Lampião é o Inspector-Geral do Ministério dos Transportes e Comunicações que esta semana foi ouvido também como declarante. Este surpreendeu o tribunal e a todos que estavam na sala de julgamento ao dizer que era Inspector-Geral do pelouro, mas que a sua função não era de inspeccionar nada, mas sim conferir mandatos aos órgãos sociais e propor nomes para esses cargos.
Por essa razão, segundo ele, não conseguiu ver nada de anormal relacionado com desvio de fundos e bens do Estado que se vivia nos Aeroportos de Moçambique. Ao que explicou, porque não havia inspecção, nunca se inteirou ou chegou a trabalhar na ADM para conferir o que quer que seja.
Disse ainda que, no âmbito da política de acarinhamento de quadros por parte do ex-ministro António Munguambe, foi designado PCA da Inamar.
CASAS DA ADM
Para além das já conhecidas casas de Diodino Cambaza, compradas com dinheiro da ADM, no valor de dois milhões de dólares, isto sem contar com o valor pago pela reabilitação da sua residência na Matola, as restantes casas compradas para os membros do Conselho de Administração também custaram uma fortuna. Dados fornecidos ao tribunal indicam que as três casas compradas para os restantes membros do CA custaram seis milhões de meticais cada.