DIALOGANDO
Por: João Craveirinha
Analista: Sociedade, Cultura e Comunicação
Crónicas do Brasil (I)
Dedicado ao grande povo nordestino do Brasil. Povo nobre, trabalhador e inteligente. (O Nordeste do Brasil é composto por 9 Estados. No entanto economicamente per capita é a região geográfica mais pobre do país). (1)
Lusofonia ou Portugofonia? (1/3)
(Portugofonia seguindo a "norma" ou radical da escrita para macuafonia, rongafonia, nhanjafonia, zulofonia, anglofonia, francofonia, hispanofonia, germanofonia, suaílifonia, et cetera).
Pátria ou Frátria?: - Num contexto geral, a Língua Portuguesa não pode ser uma Pátria mas sim uma Frátria para onde convergirão várias Pátrias emancipadas nas suas variantes linguísticas ao redor da Mátria linguística original galaica-portuguesa (Galiza e Portugal) numa "Távola Redonda" não do lendário "Castelo de Camelot" na (Grã) Bretanha do século XII, mas sim bem real numa mesa redonda fraterna da Portugofonia, e, sem um rei Arthur ou um Mago Merlin a fazerem milagres ou prestidigitaçõ
Utopia? Talvez! Mas possível!: - Por outro lado, nestas coisas do idioma português, não podemos esquecer as etimologias do mare nostrum (mediterrâneo) e os africanismos e indianismos (goeses e afins) secularmente adicionados via Portugal na Europa (P.E.) e levados para o Brasil nas Américas "inter-agindo" Com as variantes do tupinambá-guarani (séc. XVII) originando o português- brasileiro (P.B.). Na sua origem, o actual sotaque brasileiro teria assim vindo da forma de falar do escravo africano na sua dificuldade de comunicar na língua do seu feitor português. Exempi gratia: - ao pronunciar o Dê em Dji em bom-dia versus bom-djía e afins teria a ver com os sons palatais produzidos em suas línguas africanas maternas (baNto). Temos o som indê e djí para pronunciar o Dê no acento nhungué de Tete – Moçambique no vale do rio Zambeze, uma das regiões de "escravaturas" para o Brasil entre 1800-1840. Encontramos também vestígios na aglutinação e troca de certas consoantes como o R e o L e na finalização verbal: fartá; falá; em vez de faltar e falar, etc. Outras inserções neolexicais da nova-linguagem brasileira poderia ter surgido por aculturamento do mesmo africano na interacção com o guarani. Porventura os quilombolas (escravos fugidos para a selva amazónica) na sua relação com as mulheres guaranis que os "amadrinharam" nos seus "seios". Processo análogo de miscigenação genética e de interculturalidade linguística em Cabo Verde surgindo o crioulo e o papiamento no Suriname (norte da América do Sul). Em São Tomé e Príncipe (língua crioulo-forro) e na Guiné-Equatorial, outro entreposto de tráfico negreiro dos portugueses e de espanhóis para as Américas. Este processo linguístico, em gestão, durou o período da modernidade e da massificação da escravatura em África - séculos XV a XIX e à posteriori no período colonial até 1974/75.
No pós-colonial (1975 em diante) Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique vêm contribuindo com novos léxicos e mesmo aspectos de alterações gramaticais à norma-padrão da língua portuguesa derivadas das idiossincrasias dos idiomas africanos revertidos para o português e vice-versa.
Neste contexto, Moçambique (em Maputo) avançou em 2 de Julho de 2009 para um P.M. - Português de Moçambique (2). Quiçá seja uma tímida resposta (ou não) ao presente acordo ortográfico onde o Brasil e Portugal dinamizam o processo. (Ver excerto do jornal Autarca n° 1791 em anexo). Em P.M., por exemplo existe o verbo "bichar" para significar estar na fila. Ora esse verbo não existe em P.E., e P.B.
Ásia-Oceânia :
Em Goa (na Índia da maior democracia do Mundo) a língua portuguesa encontra-se em perigo de extinção e outro tanto em Macau na China. Durante a administração portuguesa cerca de 10% é que falariam português em Macau. Em Goa, os mais velhos ainda falariam o (indo)portuguê
Línguas e Sabores: Note-se que a primeira grande globalização marítima à escala do planeta (séc. XV-XVI / anos 1400 -1500), para o bem (disseminação cultural) e para o mal (domínio brutal europeu) foi iniciada através da língua portuguesa como língua franca em África; na Ásia; nas Américas e em alguns aspectos na própria Europa através da disseminação dos sabores "exóticos" das iguarias, das especiarias, do chá tipo Assam de Ceilão (Sri Lanka camelia sinensis) erradamente denominado de chá preto (t'chai; té) derivado do chá "verde". O chá foi introduzido na Europa por Portugal no século XVII (1600) e na Inglaterra pela infanta portuguesa Catarina de Bragança (n.1638-m.1705)
Portugal experimenta outros temperos apimentados do chacutí e do sarapatel goeses e do caril com piri-piri também goês (Índia); outros pratos africanos de arroz branco solto com mólhos de leite de coco ou de amendoim no camarão ou peixe ou frango ou carne bovina ou em óleo de palma (dendê). Frutos e bebidas de: - ananás, maçala, ucanho e ainda para depois do repasto o pau-de-cabinda (super viagra) para mascar. Óbvio sem esquecermos os sabores guaranis (sem sal) à base de churrasco de jabutí (cágado amazónico) e mandioca depois da extracção do ácido pelo Pajé. A acompanhar o sumo (suco) fermentado do fruto do cajú com respectiva castanha assada, típicos do Brasil, sem esquecer o "poty" (camarão) apreciado no nordeste pelos índios guaraní "potyguaras" (comedores de camarão). Ingredientes que enriqueceriam os paladares europeus de então (e de hoje). Portugal era na altura o país europeu das especiarias e das iguarias raras. Aliás, desde o século XV. (Na Biblioteca da Universidade de Brasília (UnB) - Brasil obtivemos uma cópia que encontramos de um manuscrito antigo de receitas portuguesas e denominado "Um Tratado da Cozinha Portuguesa do Século XV"(I.N.L. MEC-Brasil 1963). Trata-se de um fac-simile do "Cadernno dos Mamgares de Carnne" (manjares) cujo original se encontraria na Biblioteca de Nápoles em Itália. Temos também o "Livro de Cozinha da Infanta Dona Maria de Portugal (n.1538 – m.1577). Original também na Biblioteca de Nápoles. A língua portuguesa através das suas famosas "reçeytas" eram moda da aristocracia europeia. A Europa rendia-se à culinária portuguesa (mestiça) e pelos vistos a Itália seguia esse main stream (corrente geral).
Se há algo comum em toda a diversidade da raça humana é a linguagem e a cozinha se encontrarem ligadas. Tudo consumado e consumido pela boca e pela "língua". Não é por acaso que se atribui que a divisão sexual do trabalho (3) começou pela cozinha. Isto é, relegando as tarefas domésticas à mulher e ao homem o trabalho de predador na pré-história, quando o trabalho era por necessidade pontual de sobrevivência e não transformado em workaholic (vício de trabalho para acumulação excedente de riqueza). (continua)
Anexos: (1) "A região nordeste é composta pelos Estados do Maranhão (capital São Luís), Piauí (capital Teresina), Ceará (capital Fortaleza), Rio Grande do Norte (capital Natal), Paraíba (capital João Pessoa), Pernambuco (capital Recife), Alagoas (capital Maceió), Sergipe (capital Aracajú), e Bahia (capital Salvador)".
Área total: 1.561.177 km² / População (2000): 47.693.253 habitantes.
(2)"Professores lançam livro sobre Português Moçambicano
Maputo (O Autarca) – Um grupo de professores da Universidade Pedagógica de Moçambique (UP) lança hoje em Maputo um livro intitulado "Português Moçambicano: estudos e reflexões", constituída por 420 páginas, organizada por Hildizina Norberto Dias. O livro, segundo apurámos, contém 15 capítulos escritos por estudiosos da Língua Portuguesa em Moçambique e docentes da UP, nomeadamente Hildizina Dias, Orlanda Gomane, Paula Cruz, Elda Santos, Cecília Mavale, Geraldo Macalane, Ernesto Júnior e Orlando Bahule.
Uma nota recebida na nossa Redacção refere que esta obra traz estudos que analisam os níveis sintáctico, semântico e sociolinguístico da língua portuguesa falada em Moçambique, pretendendo ser um contributo valioso para a padronização da língua portuguesa em Moçambique.
Segundo a fonte, a Prof. Doutora Hildizina Dias, organizadora desta obra em livro sobre o Português Moçambicano, é autora de livros que têm tido muito sucesso no seio de estudantes e professores, designadamente "Desigualdades Sociolinguísticas e Fracasso escolar", "Minidicionário de Moçambicanismos" e "Manual de Práticas Pedagógicas".
Entretanto, para além do referido livro, Hildizina Dias lança ainda hoje uma outra obra, intitulada "Saberes Docentes e Formação de Professo-res na Diversidade Cultural". Esta obra é fruto da pesquisa que fez para a obtenção do Pós-Doutoramento em Psicologia da Educação.
Trata-se duma obra que valoriza os saberes docentes dos professores e que traz reflexões sobre pedagogias alternativas para ensinar e aprender na
diversidade cultural. A autora propõe a criação de uma corrente pedagógica relacionada com a pedagogia do silêncio e da afectividade, e analisa, com particular realce, a problemática da promoção semi-automática no Ensino Básico em Moçambique.
A obra tem a pertinência de apresentar o lado bom e positivo da escola primária moçambicana, contrapondo-
Jornal Autarca n° 1791, Ano XI, Quinta-feira 02 de Julho de 2009 (cidade da Beira-Moçambique)
(3) Algumas leituras:
ARENDT, Hannah (1958 ). The Human Condition. (2nd Edition 1998). Chicago,
FERNANDES, Antº Teixeira (?) A Ritualização da Comensalidade.
FOUCAULT, Michel (1994) História da Sexualidade I (A Vontade de Saber) Editor: Relógio D` Água, Lisboa.
CASCUDO, Luiz da Camara (1964). Made in Africa (o Brasil). Global Editora. S.P. ( 2ª edição 2002)
RIBEIRO, Darcy (1995) O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Editora Companhia das Letras, São Paulo.
WEBER, Max (982 ) A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Editorial Presença, Lisboa (Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus, 1904-1905)
Sitografia: A região nordeste; http://www.infoesco
FERNANDES, Antº Teixeira; http://ler.letras.
Geografia e demografia; http://www.portalbr
http://www.infoesco
Infanta Catarina de Bragança; http://www.google.
Princesas Princesas de Portugal que foram Rainhas Portugal que foram Rainhas
http://www.geocitie
RIBEIRO, Darcy; http://www.fundar.