É por isso que os organizadores deste festival – a Associação dos Pequenos Empresários de Hotelaria e Turismo e a Associação dos Amigos e Nativos da Ilha de Moçambique – decidiram fazer deste um momento não são de evocação da Ilha, dos seus fundadores e dos que, até hoje a dão vida, mas, e sobretudo isso, tornar aquele um momento de reflexão sobre como perpetuar a Ilha de Moçambique num mundo moderno e ditado por preceitos contemporâneos, colocando-o na lista de um dos melhores destinos turísticos nacionais e do mundo.
O festival abriu ao meio da tarde de Quinta-feira, com uma marcha dos grupos culturais de dança de Tufo e Maulide, que começou na Ponte da Ilha de Moçambique (lado insular), atravessando o Jardim da Escravatura e indo desembocar no Estádio Municipal.
Ao cair da noite, todos os caminhos foram dar ao Estádio Municipal, local onde se realizou um grandioso espectáculo musical que tinha como figura de cartaz o cantor Stewart Sukuma, que, com a sua brilhante prestação, conseguiu convencer o exigente público da Ilha de Moçambique.
Mesmo comportamento e brilharete tiveram os cantores Victor Salimo Charifo e Marlene, que com os seus títulos “preta negra” e “Mpepe”, respectivamente, não só arrancaram vários aplausos como também os espectadores cantaram com eles, numa clara evidência de que os seus “produtos musicais” também eram consumidos por aquelas bandas.
Quanto a Elvira Viegas, só os “Wakalahi” (ou seja os mais velhos) lhe entenderam e ficaram a ouvi-la, uma vez que os jovens, estes preferiram “bazar” do local, recolhendo-se para outras acções que decorreriam em diferentes locais da Ilha.
Para além da dança, a exibição de filmes, realização palestras didácticas sobre a conservação do património e turismo, exposições fotográficas, gastronomia e artesanato também mereceram atenção dos presentes.
GASTRONOMIA PARA LÁ DOS PARALELOS
Com efeito, foi bonito ver que quando o assunto é comida boa, os homens se esquecem que das suas origens étnicas que ficam somente a saborear as iguarias. Quem se lembra das suas origens tribais ou de ser changana, macua, maconde, sena, ndau, Chinês, australiano ou mesmo português quando está diante de uma mesa recheada de altos manjares, onde o arroz de coco e “holoco” se cruza com uma caldeirada de mandioca seca e ainda com peixe. Que a caracata e “tocossado” são um prato que leva à repetição, tal como é a galinha fumada. Quem se lembra de tudo isso quando está diante de um doce de coco, de uma castanha assada com sal e piri-piri? Ninguém se lembra porque, tal como a cultura, a gastronomia também não obedece aos preceitos fronteiriços ou mesmo étnico-tribais.
RECEBER DINHEIRO E SE PÔR A FRESCO!
Uma nota negativa vai para alguns grupos culturais convidados pelos organizadores para, no período da tarde, animar ou entreter os visitantes nos vários cantos da cidade.
Segundo apuramos, estes receberam os “cashes” e gazetaram aos vários concertos e outras actividades a que tinham sido chamados para estarem presente. Estes, puros simplesmente, se puseram a fresco, não cumprindo o que tinha sido acordado com os organizadores do evento, situação que deixou embaraçados e constrangidos os promotores, não tendo a possibilidade de reaver os valores pagos.
Entretanto, se um por lado, há os que receberam dinheiro e “sumiram”, por outro, há que registar o facto de outros não terem conseguido se fazer presente à festa porque não tiveram valores, como é o caso de alguns expositores de obras de artesanato e de outras especiarias de alto valor artístico e histórico-cultural.
ILHA DE MOÇAMBIQUE, ILHA DO MUNDO
A presidente da Associação dos Pequenos Empresários de Hotelaria e Turismo da Ilha de Moçambique (APETUR), Flora Maria Pinto Magalhães, a iniciativa de organizar um festival daqueles surge na sequência do cumprimento de um calendário já estabelecido por aquela organização e outros parceiros, como é o caso da Associação dos Amigos de Ilha de Moçambique, governos municipal e do distrito bem como da sociedade civil, de organizar em cada fim do ano, um evento cultural para a promoção daquela urbe, mostrando ao mundo aquilo que são as suas potencialidades.
Há três anos consecutivos que a Ilha de Moçambique foi palco do festival denominado “Baluarte”, “de Marisco” e o já terminado, denominado de festival de arte On hipiti.
Os organizadores estão convencidos que com estes eventos, um dia a Ilha de Moçambique estará na lista dos destinos turísticos preferidos a escala nacional, regional e quiçá, mundial porque, segundo a fonte, “embora estejamos numa fase embrionária, estamos convictos que temos potencialidades para tal”.
Existe, entretanto, toda uma necessidade de repensar nas datas em que estes eventos têm lugar. Segundo apuramos dos contactos mantidos com alguns expositores, quer de gastronomia bem como os de artesanato, estes queixaram-se da fraca facturação, principalmente nos últimos dois dias do evento.
Sendo a Ilha habitada por pessoas de baixa renda e onde os funcionários públicos e turistas, são os dois grupos sociais que detêm um certo poder de compra, dois factores estiveram na origem da fraca facturação dos expositores.
Primeiro, porque o festival aconteceu numa altura em que os funcionários estavam sem reservas financeiras (dia 12,13, 14 de Novembro) e segundo, porque os preços praticados eram, de certa forma, altos.
Muaziza, uma das expositoras disse-nos que as suas expectativas não foram satisfeitas, “eu esperava vender muita cerveja, veja que das Catorze caixas que comprei, só vendi Quatro, muitos preferem cerveja grande e eu tenho pequena”.
Alfredo Matata, presidente do Conselho Municipal, foi mais optimista e ele acredita que houve ganhos municipais, segundo ele, as unidades hoteleiras ficaram sem espaço para acolher tanta gente, aqueles que tinham salários atrasados para com os seus trabalhadores, “acredito que puderam honrar com os seus compromissos, só para citar alguns exemplos”.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) declarou, em 1991, a Ilha de Moçambique como Património Cultural da Humanidade. O que leva a que pessoas vindas de vários cantos do pais e do mundo visitem a cidade.
Face ao crónico problema de fecalismo a céu aberto, realidade que inibe alguns visitantes de passar pela contra-costa, uma das partes mais lindas da urbe, Conselho Municipal vai iniciar dentro de dias, com o processo de vedação da área e introdução da fiscalização permanente da mesma.
- Assane Issa e Francisco Manjate