A prostituição tem ganho contornos preocupantes nos dias que correm a nível da capital moçambicana, Maputo. As trabalhadoras do sexo, assim preferem ser identificadas, sabem que a prostituição é uma prática moralmente condenável e difícil de assumir publicamente. Confrontadas com a carestia de vida, com a escassez de oportunidades socialmente aceitáveis e com a necessidade inadiável de prover os seus dependentes, muitas mulheres, entre adolescentes, jovens e adultas, acabam elegendo esta prática como única alternativa. Na baixa da cidade de Maputo, sobretudo na histórica Rua de Bagamoyo, algumas instituições públicas são tomadas de assalto ao cair da tarde e transformadas em locais estratégicos.
São 21:45 horas de 14 de Novembro. A reportagem do SAVANA percorre a famosa rua de Bagamoyo, cuja história a transformou num verdadeiro mercado a céu aberto de venda de sexo.
Quando a noite espreita, fecham as instituições oficiais, despegam os trabalhadores e começa outra actividade supervisionada por guardas que sacrificam noites em trabalho. A peregrinação de muita gente, sobretudo, quando se trata de um final de semana, até pode sugerir que naquela rua há uma obra sagrada digna de contemplação.
Nada disso. O primeiro sinal é a forma como as mulheres, o género, se vestem. Tudo sugestivo.
A rua deve o seu nome a uma escola de formação da Frelimo na Tanganyika, nos tempos da luta armada. Tal como na escola de Bagamoyo, na rua de Bagamoyo luta-se pela sobrevivência. “É um local privilegiado, pelo facto de ser uma rua pouco frequentada por pessoas alheias às práticas da prostituição e ter muitas esquinas”,
tenta explicar um guarda que aparenta mais de 50 anos.
As esquinas a que o guarda se refere, não são mais do que entradas de instituições públicas e privadas que ao cair da tarde são tomadas por trabalhadoras do sexo.
O Instituto Nacional de Inspecção do Pescado, localizado na mesma rua, é transformado num stand onde se pode apreciar a oferta e negociar preços.
Na verdade, são elas que atacam os potenciais clientes, ora desfilando, ora insinuando despir a roupa.
Outra instituição pública que à noite é “assaltada” pelas prostitutas é a Escola Nacional de Artes Visuais, também localizada na rua do Bagamoyo. O denominador comum é a conivência dos guardas locais que cobram, por cada acto sexual, um valor que varia de
Gilda Pinto, mais conhecida pelo nome de Big, dada a sua compleição física, diz estar consciente de que “não é normal” prostituir-se nas instituições públicas. Mas, defende-se: “não podemos parar porque queremos viver e sem dinheiro a vida está complicada aqui em Maputo’’.
O recorrente argumento da sobrevivência explica tudo e é transversal em quase todos os discursos desculpabilizantes.
“Sofremos com a Polícia, porque quando nos encontra nos bate e leva-nos o dinheiro, por isso pedimos ao governo para nos deixar fazer a nossa vida’’, clama Big.
SAVANA – 27.11.2009