Recomendações da 1.ª CDCZ
Os participantes da 1ª Conferência sobre o Desenvolvimento Comunitário da Zambézia, que decorreu na semana finda, na cidade de Mocuba, naquela província central, concluíram que a prática de queimadas descontroladas nas florestas devem ser consideradas como um crime ambiental, tendo em conta os danos que causa à própria natureza.
As queimadas que na época seca, sobretudo, devastam as florestas no país têm autores sobejamente conhecidos. São, essencialmente exploradores florestais, ou seja, madeireiros e as próprias comunidades, que ateiam fogo à caça de ratazanas e para prepararem terra para agricultura.
Os participantes na Conferência, em alguns comentários, chegaram a sugerir que se inicie a domesticação de ratazanas com vista a reduzir o nível das queimadas, caso se conclua que a procura daquele animal é de facto um dos motivo primordiais das queimadas.
António Mutoua, director executivo da Associação para Desenvolvimento das Comunidades Rurais, ADECOR, que se destacou na referida conferência pelos seus comentários, apontou o resgate de alguns usos e costumes para a redução da prática, se se tiver em conta que as medidas jurídicas e administrativas não estão a surtir nenhum efeito na redução do fenómeno.
Por seu turno, Momed Vala, director da Agricultura na província da Zambézia, defende a responsabilização dos líderes comunitários na ocorrência de queimadas nos seus respectivos círculos de liderança.
Para aquele director, os líderes tradicionais é que detêm o poder de fazer e dizer basta à situação, porque eles são os que fazem a opinião credível no seio das suas comunidades, por isso, defende igualmente o resgate de certos usos e costumes.
Vala precisou igualmente que, neste caso, as opiniões e formas de pensamento divergem, sobretudo entre os políticos e gestores, chegando isso a conduzir a que nada seja feito, na prática e a destruição, em consequência, prossiga.
Mais destruição do que proveito
As desavenças entre políticos que querem agradar aos prevaricadores para obterem a sua simpatia e os técnicos que apelam para boas práticas, mantém-se, e os resultados continuam a ser devastadores. O director provincial da Agricultura na Zambézia, dando bem conta do facto, sublinhou que durante o ano passado as florestas da província que dirige foram mais queimadas do que exploradas para fins comerciais.
Reflorestamento
Os participantes da 1ª Conferência sobre Desenvolvimento Comunitário da Zambézia debruçaram-se igualmente sobre o processo de reflorestamento das zonas de florestas devastadas, tanto pelas queimadas, como pela exploração desenfreada.
Os membros da sociedade civil, bem como do Governo ali presentes, defendem que os exploradores têm uma grande responsabilidade no reflorestamento mas não estão a assumir essa responsabilidade. Estão até já a cortar árvores com diâmetro proibido por lei. Em suma, a destruição está a um ritmo incontrolável.
Autoridades digladiam-se
A administradora do distrito de Gilé, mais uma vez voltou a por o dedo na ferida. Disse que os madeireiros cortam e depois nada fazem para o reflorestamento mas meia volta o Governo vem à carga sobre eles (administradores e autoridades locais) com iniciativas presidenciais sobre o reflorestamento, mas deixou entender que os problemas vêm de cima.
Aquela participante indignada avançou que nos distritos ninguém conhece os planos de maneio das concessões. Referiu que quando a nível distrital pedem dizem-lhes que isso é assunto “do nível provincial”. Assim a administradora acabava por deixar os participantes concluir que a destruição das florestas está a acontecer com a conivências das autoridades que não estão no terreno mas têm o poder de decidir. Deixou ainda subjacente que há negócios que são feitos fora das áreas de corte por autoridades e outros que em nada estão preocupados com a boa gestão dos recursos madeireiros. (Aunício da Silva)
CANALMOZ – 23.11.2009