A talhe de foice
Por Machado da Graça
Terminadas as eleições e publicados os resultados começa agora a fase do grande nervoso nas hostes do partido vencedor.
Armando Guebuza irá, a curto prazo, tomar posse do seu novo mandato como Presidente da República e, em simultâneo ou logo a seguir, vai anunciar o novo elenco governativo.
É pois o tempo das conversas de corredores, das pressões directas ou indirectas, dos jogos entre as diferentes facções da Frelimo para fazer avançar as suas peças para lugares de controlo de fatias importantes do Poder.
Há cinco anos as coisas não foram fáceis para Guebuza. O seu controlo sobre os equilíbrios dentro do seu partido era muito menor do que se julgava e algumas das coisas que se dizia que ele iria fazer não lhe foram possíveis devido à oposição de alguns dos seus camaradas com peso decisório na Pereira do Lago.
Desta vez, com uma posição muito mais reforçada pela vitória eleitoral significativa e pelos cinco anos de reforço de posição no interior da Frelimo, talvez Guebuza possa imprimir melhor a sua vontade na escolha do(a) Primeiro Ministro, dos ministros e governadores. E no programa que o seu Governo irá seguir.
Um dos cavalos de batalha da anterior campanha eleitoral do Chefe do Estado tinha sido a luta contra a corrupção. Luta que rapidamente foi desaparecendo dos discursos e, na prática, pouco impacto teve, apesar de algumas prisões mediáticas.
A nomeação de Augusto Paulino para Procurador Geral da República, recebida pela opinião pública com expectativas positivas também não foi até onde se esperaria que fosse.
Nesta viatura da Justiça o pedal do travão continua a ser muito maior do que o do acelerador.
Será que o Poder reforçado de Guebuza lhe vai permitir voltar a este tema com maior vigor? E será que ele ainda o quer? Nesta campanha foi coisa em que praticamente se não falou...
Quando soubermos quem serão os escolhidos para formar a equipa do novo mandato, poderemos ficar com umas luzes sobre quais serão as prioridades deste.
Ver quem sai, quem entra de novo e quem muda de um lugar para outro ajuda sempre a perceber que objectivos se pretende alcançar e por que caminhos se irá tentar lá chegar.
Aguardemos, portanto. Nós e eles.
Nós para sabermos quem nos vai conduzir.
Eles para saberem se mantêm a cadeira onde se habituaram a sentar-se, durante os últimos cinco anos, com as respectivas responsabilidades e, é bem claro, as extensivas mordomias que tais cadeiras oferecem aos rabos que nelas se sentam.
Muitas contas devem andar a ser feitas:
.Fiz isto e aquilo e aquilo... Devo ficar...
.Não consegui acabar aquele projecto. Será que me deixam ficar para o acabar ou vão-me tirar porque não o acabei?
.Será que o peso do meu grupo no Partido é suficiente para me aguentar aqui? Tenho que ir falar com o camarada Fulano.
O ministro Cicrano não fez nada durante os 5 anos. Como eu sou da área daquele ministério talvez seja a minha oportunidade.
E os olhares vão-se alongando para o edifício do almejado ministério. Os sorrisos vão-se abrindo ao pensar nas viaturas protocolares, e outras, que lhes serão disponibilizadas se...
Por outro lado as dúvidas pesam também sobre aqueles que, muito provavelmente, vão perder os seus lugares:
.Será que me dão um novo cargo que valha a pena?
.Será que vou, pura e simplesmente, para a rua?
.O que vai ser agora a minha vida?
Enfim, toda uma camada de gente que anda a dormir pouco, ou nada, até as águas se clarificarem definitivamente.
Coitados(as)!
Eu tenho muita pena deles(as).
O leitor não tem?
SAVANA – 20.11.2009