Orlando de Noronha é um artista goês que se dedica à pintura do azulejo e à música. Apesar de se ter licenciado em Publicidade, desde sempre teve uma paixão pela música, aprendeu a tocar bandolim, violino e viola mas o seu grande sonho era tocar guitarra portuguesa.
Candidatou-se a uma bolsa de estudo de Língua e Cultura Portuguesa da Fundação Oriente e foi estudar para Portugal, onde deu asas ao seu sonho aprendendo este instrumento.
PNN – Quem é o Orlando de Noronha?
Orlando de Noronha – Sou um artista, que apesar de me ter licenciado em Publicidade, dedico-me às artes, nomeadamente à pintura do azulejo e à música.
PNN – Dentro da música sei que sempre teve uma paixão pela guitarra portuguesa...
Orlando de Noronha – É verdade... já tocava outros instrumentos, designadamente o bandolim, o violino e a viola mas sempre tive o sonho de aprender a tocar guitarra portuguesa. Como tal, decidi-me candidatar a uma bolsa de estudo de Língua e Cultura Portuguesa da Fundação Oriente e há cerca de dez anos fui estudar para Coimbra. Uma vez em Coimbra, procurei saber junto da Associação Académica onde poderia ter aulas daquele instrumento e encontrei um dos elementos da Tuna Académica de Coimbra que tinha conhecido, em 1994, quando a Tuna veio actuar a Goa. O Miguel Grado também me reconheceu e eu disse-lhe que tinha uma guitarra antiga e que gostava de aprender a tocar aquele instrumento. Ele afinou-me a guitarra e ofereceu-se para me dar aulas grátis.
PNN- Quando tempo esteve em Portugal?
Orlando de Noronha – Estive durante dez meses.
PNN – Na altura chegou a tocar com a Tuna?
Orlando de Noronha – Não toquei com a Tuna mas sim com a Estudantina Universitária de Coimbra e actuei algumas vezes em Espanha, Cabo Verde e na Expo 98 e cheguei mesmo a gravar um disco com eles.
PNN – E foi em Coimbra que também aprendeu a arte de pintar azulejo?
Orlando da Costa – É verdade... Durante a minha estadia em Coimbra vivi em casa de uma família goesa e conheci um português amigo deles, que era pintor de azulejo. E, assim, comecei a dedicar-me à arte de pintar azulejo.
PNN – Já tinha pintado alguma vez?
Orlando de Noronha – Não, nunca tinha sonhado vir a dedicar-me à pintura de azulejo mas foi muito interessante. Comecei por aprender a pintar sobre o azulejo envidraçado, azulejo em que uma das faces é vidrada resultado da cozedura de um revestimento geralmente dominante de esmalte, dando-lhe uma tonalidade impermeável e brilhante, e, mais tarde, quando voltei para Goa, fiz um workshop da Arte Majórica na Fundação Oriente. O estilo majórico é uma técnica antiga que veio de Itália e foi introduzida na Península Ibérica em meados do século XVI, permite a pintura directa sobre a peça de barro já cozida.
PNN – E quando voltou para Goa, dedicou-se imediatamente à pintura de azulejos?
Orlando de Noronha – Inicialmente foi um pouco difícil, o meu primeiro trabalho foi o retrato da minha mulher que fiz durante o tempo que estive em Portugal mas não tinha nenhum portfólio para mostrar. Falava com os clientes e mostrava o trabalho que podia fazer através de catálogos. Portanto, começar sem um portfólio e sem qualquer apoio é sempre um pouco difícil.
PNN – Qual foi o seu primeiro trabalho?
Orlando de Noronha – Foi mais ou menos um ano após voltar para Goa, no Hotel Taj Exótica. O tema era a língua portuguesa e eu fiz um painel em azulejo envidraçado sobre as Fontainhas com
PNN – Qual é o estilo que utiliza?
Orlando de Noronha – Tenho um estilo próprio.
PNN – Depois do Hotel Taj Exótica que outros trabalhos surgiram?
Orlando de Noronha – Fiz um painel com 2 400 azulejos para o Hotel Intercontinental no sul de Goa, cuja temática era os descobrimentos e eu pintei os azulejos utilizando duas técnicas distintas. Ao centro apresenta-se um estilo mais realista com uma caravela em azul vivo, simbolizando a chegada de Vasco da Gama à Índia, uma vez que é algo que ainda está presente na memória das pessoas. De ambos os lados encontra-se um verso dos Lusíadas, de um lado em português, do outro traduzido para inglês. À volta utilizei outro estilo, Sépia que deu uma tonalidade amarelecida e envelhecida ao azulejo, fazendo lembrar as fotografias antigas, em 90% do painel predomina esta cor porque representa o que já foi esquecido. Exactamente, oposto ao painel tem uma janela tipicamente goesa revestida a madrepérola, usada para deixar entrar a claridade e ao mesmo tempo proteger da luz intensa do sol, com um espelho que dá uma sensação de três dimensões, reflectindo os interiores modernos do hotel.
Entretanto tenho feito muitos outros trabalhos tanto em hotéis, restaurantes como em casas particulares.
PNN – Actualmente tem a sua própria galeria. Há quanto tempo?
Orlando de Noronha – Esta galeria existe há dez anos.
PNN – E o seu trabalho é mais procurado por indianos ou estrangeiros?
Orlando de Noronha – Os nossos clientes são principalmente indianos, uma vez que para um estrangeiro é difícil transportar e também é um produto que se encontra facilmente na Europa.
PNN – Voltando à música... Sei que recebeu uma guitarra portuguesa das mãos do actual presidente da república português, Aníbal Cavaco Silva.
Orlando de Noronha – É verdade. Em 2007 o Presidente da República português esteve em Goa e a fadista Cátia Guerreiro também estava presente. Eu tenho um trio musical e fomos convidados para actuar no almoço, onde se encontrava o presidente e a Cátia Guerreiro e seus músicos No final do almoço, tocámos e cantámos juntos. Entretanto, a Cátia perguntou-me se eu já tinha estado em Portugal e eu contei-lhe a minha história, a Cátia tinha um primo que também tocava na Estudantina, que eu também conhecia, logo de seguida, cantámos uma música daquele grupo académico. Nesse mesmo dia à noite teve lugar o jantar presidencial para o qual eu também estava convidado, mas não como artista, e a Cátia convidou-me para actuar com ela.
Ao conversar com ela disse-lhe que gostava de voltar a ter uma guitarra portuguesa porque a que tinha trazido de Portugal estava estragada devido ao clima de Goa. Passado quatro meses recebo um e-mail com um convite para ir a Portugal por altura das comemorações do Dia de Portugal para receber uma guitarra que me seria entregue pelo Presidente da República. Fiquei sem palavras e em menos de quinze dias estava a caminho de Portugal para receber o presente, foi um momento inesquecível.
PNN – Portanto, também se dedica à música. Tem algum grupo musical?
Orlando de Noronha – actualmente, estou envolvido em três projectos musicais, o Trio Orlando, cujos elementos sou eu que toco violino e bandolim, o Sandro Menezes que toca acordeão e o Siddarth Cotta que toca viola, este é um projecto de músicas do mundo. A Tuna Goesa também é constituída pelos mesmos elementos, ao qual adicionamos vários fadistas de Goa, tocamos música portuguesa e goesa, em Novembro do ano passado actuámos em Macau. O terceiro grupo é o Impromptu, palavra que significa música espontânea também composta por mim, o Sancho e o Siddarth, o Joaquim Costa na bateria e a Shine Fernandes na voz, normalmente actuamos em bailes, casamentos e outras festas.
MN
PNN Portuguese News Network - 03.12.2009