- Renamo diz que está a aprumar a prontidão combativa de cerca de quatro mil homens
-Residência de Dhlakama sob vigilância permanente
Por Nelson Carvalho, em Nampula
Está ao rubro o ambiente político na terceira cidade mais importante de Moçambique, Nampula, com a Renamo, a acusar o Comando Geral da Polícia da República de Moçambique de ter despachado “contingentes fora do comum” e meios de combate para aquele ponto do país. A Residência de Afonso Dhlakama está sob permanente vigilância. Mas a Polícia justifica esta operação com o argumento de que Dhlakama “é uma figura pública e membro do Conselho de Estado”.
As alegadas movimentações descomunais de operativos do SISE e Forças de Intervenção Rápida (FIR), incluindo tanques acontecem após a Renamo ter anunciado manifestações para repudiar os resultados eleitorais proclamados oficialmente pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Segundo o coronel Simão Bute, chefe do Regimento de protecção armada do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a Frelimo em colaboração com o comando provincial da PRM, projectam sequestrar ou eliminar o líder da perdiz, caso este lidere as manifestações em protesto contra os resultados das eleições de 28 de Outubro, como é sua pretensão.
Bute, que também se apresentou como comandante-geral das Forças de Defesa da Renamo, frisou que as estratégias do partido Frelimo em usar a PRM para aterrorizar as populações que acredita que vão aderir às manifestações, visam criar um clima de medo.
Prontidão combativa
Porém, Bute, um respeitado comandante da Renamo, avançou que para aprumar a sua prontidão combativa, cerca de quatro mil homens armados às suas ordens estão em exercícios desde o passado sábado na zona de Anchilo, cerca de
Recorde-se que entre a Renamo e a Frelimo reina um ambiente de cortar à faca, um clima fertilizado pelas irregularidades que, segundo a perdiz, mancharam o processo eleitoral, dando uma importante vitória a Armando Guebuza e ao seu partido. Guebuza obteve cerca de 75% de votos. A Frelimo recolheu 191 assentos na Assembleia da República, uma maioria que lhe permite aprovar leis sem precisar de acordos partidários. Dos 90 deputados que a Renamo detinha, ficou com 51 deputados, uma queda em 39 assentos. A existência de irregularidades
é, aliás, secundada pela Missão de Observadores da União Europeia e da maior missão de observadores nacionais (ver pag 3).
Caso o Conselho Constitucional carimbe os actuais resultados eleitorais, a Frelimo, no Parlamento vai encaixar mensalmente cerca de 9.550 mil meticais, contra os oito milhões que recebia na legislatura prestes a terminar. A Renamo ficará com 2.550 mil meticais, uma queda de 1.950 mil meticais, em relação a esta legislatura. Com oito deputados, o emergente e incómodo, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), deverá encaixar 400 mil meticais/mês.
Ambiente tenso
Simão Bute, que também é deputado na Assembleia da República, esclareceu ainda que muitos agentes da PRM afectos a outras províncias estão a ser mobilizados e despachados para Nampula. A reportagem do SAVANA testemunhou movimentações fora do comum nas imediações da nova residência de Afonso Dhlakama e nas principais artérias da cidade. Cidadãos abordados pelo SAVANA andam apavorados e não se recordam de nenhum momento em que a cidade de Nampula esteve tão povoada de polícias à paisana e uniformizados. Bute, que participou durante 16 anos na sangrenta guerrilha contra as forças governamentais, com o objectivo de colocar o então regime de Maputo de joelhos, acrescentou que o seu partido e a população estão preparados para responder às investidas dos elementos da PRM.
Simão Bute avançou que em Nampula movimentam-se três especialistas em actividades de sequestro e fuzilamento, e que a sua missão não se resume em matar o líder da Renamo, mas sim, eliminar muitos moçambicanos que vão repudiar os resultados.
“A vinda daqueles homens à cidade de Nampula explica-se pelo facto de a Frelimo pensar que a onda de manifestações vai começar aqui, uma vez o presidente Dhlakama se encontrar neste momento nesta cidade. Isto pode não acontecer”, disse. Dhlakama mudou-se para Nampula em meados do ano passado, num esforço para inverter os resultados eleitorais de 2004 naquele ponto do país que outrora era seu bastião.
Bute avançou que caso a Frelimo e os agentes da PRM que estão a ser enviados para aquela província cometam injustiças contra a população a Renamo poderá responder nos mesmos moldes, uma situação que poderá resvalar para um banho de sangue.
Contudo, Bute ressalvou que o seu partido não quer pegar em armas e nem voltar ao mato, só que o povo está cansado de ser roubado nas eleições.
PRM confirma envio de dois homens
Entretanto, o porta-voz do comando provincial da PRM em Nampula, Oliveira Maneque, abordado pela imprensa para falar das acusações que pesam sobre a corporação, questionou primeiro como é que teriam descoberto os carros uma vez que os mesmos chegaram na noite da última segunda-feira, numa clara confirmação de que efectivamente chegaram novos efectivos à chamada capital do Norte.
Confirmou a existência de dois agentes do SISE que foram integrados na Polícia da República de Moçambique em Nampula para assegurarem a ordem e tranquilidade públicas.
“As viaturas a que o partido Renamo faz referência encontram-se na cidade de Nampula para realizarem actividades de patrulhamento nas zonas mais propensas à criminalidade”, justificou Maneque.
PRM nas imediações da casa de Dhlakama
Questionámos qual era o objectivo dos agentes posicionados nas imediações da casa do líder da Renamo, que se localiza na Rua Filipe Samuel Magaia, vulgo rua das Flores, ao que nos respondeu que ele é uma figura pública para além de fazer parte do Conselho de Estado.
“Aqueles homens estão somente para proteger o líder da Renamo, não para outros objectivos como eles pensam”, frisou o porta-voz do comando provincial da PRM em Nampula, Oliveira Maneque.
O nosso entrevistado afirmou que as patrulhas que estão a ser realizadas pelos agentes têm trazido resultados encorajadores.
Renamo vai avançar com manifestações este mês
A reunião da Comissão Política Nacional do partido Renamo realizada na província nortenha de Nampula deliberou avançar com as manifestações populares em todo o país dentro de sensivelmente um mês, em repúdio dos resultados das eleições legislativas, gerais e provinciais.
Segundo José Manteigas, foram discutidos no encontro, irregularidades registadas em 93 distritos do país, detenção dos seus membros de mesas e simpatizantes, transferência de assembleias de votos das zonas estratégicas do partido Renamo, desaparecimento de cadernos eleitorais, posicionamento de forças armadas nas
mesas de votação, entre outros aspectos.
O porta-voz da primeira sessão da comissão Política Nacional da Renamo depois das eleições de 28 de Outubro afirmou que as manifestações que se esperam que possam acontecer ainda este mês são em reclamação da divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), e a reprovação do pedido de invalidação dos resultados feito pela perdiz.
A fonte observou que o outro facto que faz com que a Renamo peça a repetição das eleições é pelo facto dasmesmas terem sido caracterizadas por fraudes grosseiras como, enchimento de votos nas urnas, destruição de votos da Renamo e do líder da perdiz, emissão de cartões depois do tempo limite, e fecho das mesas de voto antes da hora prevista entre outros pontos.
Dhlakama doente?
A falta de informação oficial, aliada ao estranho desaparecimento público de Afonso Dhlakama, está a dar azo às mais variadas especulações. Em Nampula circulam com alguma insistência indicações de que Dhlakama sofre de artrose grave, uma espécie de reumatismo que dificulta a locomoção. Aliás, consta que Dhlakama foi retirado de cadeira de rodas da reunião da Comissão Política do Partido, que decorreu semana passada naquela cidade.
Terá sido levado para uma clínica privada no Bairro de Muahivire, centro da cidade. Igualmente circulam informações não confirmadas de que o líder da perdiz terá sido evacuado para a África do Sul para receber tratamentos mais especializados. Segundo fontes internas da Renamo, Dhlakama rumou para aquele país vizinho na companhia da sua nova esposa e deputada da Assembleia da República, Lúcia Afate.
SAVANA – 27.11.2009