Réus na fase de contra alegações
· Diodino Cambaza ex-PCA dos AdM diz que demitiu Hermegildo Mavale, ex-administrador da área financeira por este ter usurpado algumas das suas competências
· Antenor Pereira ex-administrador financeiro dos AdM refuta constatações dos relatórios das auditorias da Ernest &Young e da Inspecção de Finanças que indicam que a contabilidade daquele empresa era desorganizada
O julgamento dos cinco réus indiciados do desfalque de cerca de 55 milhões de meticais retirados de forma fraudulenta das contas da empresa Aeroportos de Moçambique, foi ontem retomado e está agora na fase de contra alegações. Na mesma sessão foram colocados frente a frente réus e alguns declarantes. Voltaram a sentar-se no banco dos réus, António Munguambe, António Bulande, Diodino Cambaza, Antenor Pereira e Maria Deolinda Matos.
Maria João Coito, ex-administradora comercial dos AdM e simultaneamente PCA da SMS (Sociedade Moçambicana de Serviços), voltou também a ser chamada para perante alguns réus dizer a sua verdade, cara a cara.
António Munguambe
O ex-ministro dos Transportes e Comunicações de Armando Guebuza, co-réu no presente processo, voltou a reafirmar o que dissera durante a sua primeira audição: que o pedido de bolsas de estudos para os seus filhos foram na base de um “pedido feito verbalmente”. Munguambe, porém noutro desenvolvimento disse que inicialmente foi a sua esposa que teve tal manifesta intenção, mas que teria sido ele a finalizá-la.
Recorde-se que o ex-ministro responde como co-réu no caso AdM acusado nos crimes de encobrimento. Munguambe não está preso e antes do julgamento devolveu a viatura Audi A6 e 8.000 USD de que beneficiou dos cofres dos AdM para a sua conta pessoal.
António Bulande
O antigo chefe do gabinete do ministro António Munguambe, diz não ser verdade que ele tenha apenas auferido ordenados sem que tenha feito algum trabalho na SMS. À altura dos factos em discussão, Bulande, segundo a PCA da SMS Maria João Coito, foi imposto como “assessor jurídico” naquela empresa, uma vez que as vacaturas para membro do Conselho de Administração (CA) dos AdM estavam completas. Porém pelo que já foi dito no presente julgamento, António Bulande entrou para a SMS com salário inicial 1.100 USD e três meses mais tarde passou a vencer mensalmente 1.750 USD e que trabalho facto só teria feito “um ou dois” depois da audição da PCA na procuradoria da cidade no âmbito do presente processo.
O salário de Bulande na SMS era pago depois dos AdM colocarem dinheiro nas contas daquela empresa. Assim o foi também em relação a um empréstimo de que se disse em audiência que beneficiou, de 15.000 USD.
Sobre que tipo de trabalhos o co-réu Bulande prestava à SMS, a ré Deolinda Matos voltou a dizer que “o dr. Bulande não fazia e nem fez nada, pois a empresa tinha assessoria de uma firma de advogados contratada”. Bulande, contrariando Deolinda Matos disse que fez trabalhos e que prestava contas directamente à PCA da SMS.
Sobre os referidos trabalhos, Bulande chegou a enumerar alguns. Disse por exemplo que “angariou clientes”. Em vez de jurista foi afinal “promotor de vendas”!
Antenor Pereira
Este ex-administrador financeiro dos AdM disse que as constatações detectadas pelos pareceres técnicos de auditores independentes, sobre a precariedade do sector de contabilidade não constituem verdade. Segundo aquele réu a contabilidade estava de tal forma organizada a ponto da banca conceder créditos bancários aos AdM na ordem de “cerca de 130 milhões de dólares”.
Diodino Cambaza
O ex-PCA da AdM disse que a contratação do Dr. António Bulande foi no cumprimento de um expediente vindo do gabinete do ministro dos Transportes e Comunicações, António Munguambe. E disse que ele, Cambaza, apenas deu a ordem para cumprimento à PCA da SMS e que todas as outras questões, desde contratuais a salariais daquele “assessor” não são do seu conhecimento.
Cambaza disse ainda ontem ao tribunal que demitiu o seu primeiro administrador do pelouro financeiro, o economista Hermegildo Mavale por “obstrução” e “não declaração de receitas dos aeroportos da Inhaca e Pemba”. Disse também que aquele administrador e o outro que ocupou a mesmo pelouro no mandato anterior, Constantino da Costa, assinaram cheques da empresa nos primeiros dois meses, sem o seu conhecimento. Por isso considera que houve “usurpação de competências ao PCA da empresa”. Desde o início do julgamento a estratégia de Cambaza parece ser de arrastar consigo Mavale, por suspeitar que este tenha sido um dos denunciantes do saque que suscitou o presente julgamento.
Maria Deolinda Matos
A administradora delega da SMS voltou a reafirmar que tudo e todas as operações decorridas naquela sociedade eram do conhecimento do accionista AdM e que ela apenas recebeu ordens para cumpri-las.
Adiantou que a PCA da SMS, Maria João Coito, depois de vir da procuradoria “veio directamente ao meu gabinete”. Disse ainda que aquela nunca mais assinou a acta, devido à expressão “Pleno conhecimento do CA dos AdM” que constavam da acta sobre os factos que ali decorreram.
Maria João Coito
A PCA da SMS voltou a repetir que apenas cumpriu ordens do PCA dos AdM, Diodino Cambaza.
Na sua audição a semana passada ela tinha sido esclarecedora: nada fez para “salvaguardar a minha posição”. (Luís Nhachote)
CANALMOZ – 22.12.2009