A prática de fecalismo a céu aberto, por parte de alguns munícipes da Ilha de Moçam-bique e de outros bairros periféricos, continua a ser um problema que compromete a vida dos próprios residentes pois várias são as doenças de que a população padece, associadas a este hábito. De Janeiro a Novembro deste ano, mais de uma centena de habitantes do bairro Sanculo, no posto administrativo de Lumbo, sofreram de diarreia, uma das principais doenças da zona.
Contra as várias acções de sensibilização e educação sanitária sobre as boas práticas de higiene, a população continua a defecar ao longo da costa.
Ao circular pela marginal é comum ver mulheres, homens, de todas as idades, de cócoras a fazer as suas necessidades maiores, sem se importar com as outras pessoas à volta.
Na Ilha de Moçambique, único lugar do país com estatuto de Património da Humanidade, decretado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas Para Educação, Ciência e Cultura) em 1991, é quase que impossível passear pela marginal devido ao cheiro nauseabundo que se faz sentir, resultado das fezes.
As pessoas não aceitam deixar a prática
Falando ao SAVANA, semana finda, um dos responsáveis da área da saúde, Crispino Quintino, afecto ao Centro de Transferência Tecnológica e Desenvolvimento Humano (CTTDH), de Sanculo, disse que “no bairro, a maior parte das pessoas não tem latrinas. Os residentes fazem as suas necessidades maiores ao longo da costa. Já fizemos muitas campanhas de sensibilização para se inverter o cenário, mas as pessoas não aceitam abandonar a prática”.
Dada esta situação, diz Quintino, “os residentes de Lumbo sofrem muito de diarreias, até mesmo de cólera, sobretudo no tempo chuvoso”.
Explicou que Lumbo não tem água canalizada e, a maior parte da população, estimada em mais de oito mil e 85 habitantes, consome água dos poços.
“Quando há chuvas as fezes espalham-se e entram nos poços de água e quando esta não tiver sido tratada com cloro acaba causando problemas de saúde à população”. observou.
A situação torna-se mais crítica, acrescenta Quintino, “quando, no caso de diarreia e não der mais tempo para o doente deslocar-se à costa para defecar, limitar-se em abrir pequenas covas para fazer as suas necessidades no quintal da casa ou até mesmo defecar e depois tapar com areia sem ter feito sequer um buraco”.
Acções sem sucesso
Devido a este problema, conta Quintino, várias foram as acções realizadas para apelar à população a construir latrinas mas, “não tivemos sucesso”.
“Mesmo havendo latrinas nas suas residências ou próximo a elas, a população prefere percorrer bons metros e ir à costa para fazer as necessidades maiores”, aponta Franklin Fernando, Líder Comunitário de Lumbo.
Para minimizar a situação, o CTTDH, através do Programa Vilas do Milénio desenvolve acções de sensibilização para a adopção de boas práticas de higiene como o uso de latrinas, bem como o tratamento da água com cloro.
Vila do Milénio é uma demonstração prática de desenvolvimento rural integrado baseado na comu-nidade, cuja intenção é de garantir o alcance e manutenção de um desenvolvimento económico das comunidades através do uso da ciência e tecnologia. O projecto é uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com o sistema das Nações Unidas.
“Na época chuvosa, sobretudo, purificamos a água dos poços com cloro embora existam algumas famílias que não aceitam”, fez saber Quintino.
Para convencer, explica o responsável da saúde do CTTDH “tenho que purificar a água e ser o primeiro a beber para a população acreditar que o produto não faz mal à saúde”.
Município promete
Entretanto, falando ao SAVANA esta terça-feira, o presidente do Município da Ilha de Moçambique, Alfredo Matata prometeu acabar com a prática de fecalismo a céu aberto.
“Queremos acabar até ao próximo ano com o fecalismo a céu aberto e, não reduzir, porque a prática não é um problema cultural, mas sim maus hábitos contra a saúde pública”, refere Matata.
Para o efeito, segundo o presidente do Município da Ilha de Moçambique, entrarão em funcionamento ainda este ano, sete sanitários públicos, cuja construção está já na fase final.
“Cada sanitário tem 14 compartimentos, sendo sete para o sexo feminino e igual número para o masculino. Alguns polícias se espalharão ao longo da costa para impedir a prática e outros ficarão próximo dos sanitários para controlar o seu funcionamento e bom uso”, explica Matata.
Quanto às residências, Matata disse que “serão construídas 200 latrinas para famílias necessitadas”.
Para além destas acções, adianta Matata “estamos à espera de uma viatura, vinda de Nacala, apropriada para desentupir as fossas cépticas ao nível dos serviços do estado, escolas, entre outros edifícios”.
Ruínas e o problema de saneamento
Segundo o presidente do Município da Ilha de Moçambique, as ruínas, que se encontram em maior quantidade naquela local da província de Nampula, constituem locais de depósito de resíduos sólidos e realização de necessidades maiores por parte dos residentes da Ilha sobretudo os que por várias razões foram-se fixando ilegalmente em algumas casas já em bom estado de degradação.
Assim, o Município apela aos donos das ruínas para que se responsabilizem por elas ou aquela autarquia terá que tomar conta das mesmas.
“Estamos a trabalhar com juristas para saber como proceder por causa das ruínas que tornam a Ilha pouco atractiva. Se até ao próximo ano os donos não se responsabilizarem por elas teremos que tomar medidas que vão desde o uso e aproveitamento daqueles espaços”, acrescentou Matata.
SAVANA – 25.12.2009